27 de agosto, de 2025 | 07:00

Agosto Laranja – mês da conscientização sobre a esclerose múltipla

Davi Teixeira Urzêdo Queiroz *

Os termos técnicos utilizados para descrever algumas doenças, como a esclerose múltipla, têm o objetivo de traduzir os mecanismos biológicos envolvidos. Porém, muitas vezes acabam gerando confusão sobre o que de fato significa a enfermidade. Não raramente, a esclerose múltipla é confundida com a esclerose lateral amiotrófica ou até associada ao envelhecimento, devido à palavra “esclerose”. No senso comum, o termo “esclerosado” é usado de forma pejorativa para indicar declínio cognitivo. É nesse cenário que surge a importância do Agosto Laranja: esclarecer e conscientizar a população sobre a esclerose múltipla, ampliando o conhecimento e estimulando a busca por diagnóstico e tratamento precoces.

Primeiro, é preciso compreender o nome. “Esclerose” significa cicatriz; “múltipla”, porque atinge diferentes regiões do sistema nervoso central — nervo óptico, cérebro, tronco cerebral, cerebelo e medula espinhal. Esses locais concentram funções vitais como visão, equilíbrio, sensibilidade e movimento. Embora descrita clinicamente desde o século XIX, apenas décadas depois a doença foi identificada como uma condição autoimune, em que o sistema imunológico ataca a mielina, principalmente, — camada protetora dos neurônios, comparável ao revestimento de um fio elétrico. Quando a mielina é danificada, a transmissão das informações se torna lenta, surgindo sintomas como visão turva, tontura, formigamento e fraqueza. Esses episódios são conhecidos como “surtos”, e podem se instalar ao longo de dias e durar semanas. Muitas vezes, melhoram espontaneamente, o que contribui para atrasar o diagnóstico.

A esclerose múltipla atinge principalmente pessoas jovens, sobretudo mulheres (a cada 4 pessoas com EM, 3 são do sexo feminino). Não existe uma causa única, mas sim a interação entre predisposição genética e fatores ambientais, como infecção pelo vírus Epstein-Barr, tabagismo e sedentarismo. Estima-se que cerca de 40 mil brasileiros vivam com a doença, embora esse número provavelmente seja maior devido à dificuldade de diagnóstico.
“A esclerose múltipla atinge principalmente pessoas jovens, sobretudo mulheres”


Ao contrário de outras condições, não existe um único exame que confirme a esclerose múltipla. O diagnóstico exige uma combinação de critérios clínicos, achados em ressonância magnética e exames laboratoriais, atualizados periodicamente para aumentar a precisão e a rapidez na detecção. A expectativa é que os novos critérios, previstos para 2025, permitam identificar a doença ainda mais cedo — até mesmo antes de sintomas clínicos.

E por que tanto esforço para diagnosticar precocemente? Porque, embora a esclerose múltipla não tenha cura, os avanços terapêuticos dos últimos anos permitem controlar a doença de maneira eficaz. Hoje, é possível oferecer tratamentos individualizados e de alta eficácia, que reduzem os surtos e retardam o surgimento de alguma incapacidade. Quanto mais cedo se inicia o tratamento adequado, melhores são os resultados. Por isso, o Agosto Laranja é tão necessário: informar, combater estigmas e encorajar a procura por avaliação médica diante de sinais suspeitos.

Concluo reforçando que a esclerose múltipla não deve ser encarada como uma sentença de limitações. Com diagnóstico ágil, tratamento adequado e acompanhamento multidisciplinar, é possível viver com qualidade e manter projetos de vida. O Agosto Laranja é, portanto, um convite à conscientização coletiva, à empatia com quem convive com a doença e, sobretudo, à valorização da informação como ferramenta de transformação.

* Coordenador do Núcleo de Neuroimunologia do Hospital Felício Rocho.

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