16 de agosto, de 2025 | 08:45
Acesso à creche ainda não é realidade para todas as crianças
Divulgação
Timóteo consegue colocar 56% das suas crianças na creche, segundo dados do Observatório das Metropolizações
Por Bruna Lage - Repórter Diário do Aço 
Um levantamento da organização Todos Pela Educação e divulgado na semana passada, revela que a população mais pobre ainda enfrenta maiores dificuldades no acesso à creche no Brasil. O estudo aponta que, embora o número de matrículas tenha aumentado entre 2016 e 2024, também cresceram as desigualdades de acesso entre as crianças das famílias mais pobres e mais ricas. As informações foram baseadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) e no Censo Escolar. O Diário do Aço teve acesso aos números das cidades que integram a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA).
Conforme levantamento realizado pelo Observatório das Metropolizações Vale do Aço, a população de três meses a 3 anos nas cidades da RMVA é: Ipatinga tem 9.595; Coronel Fabriciano 4.617; Timóteo 3.433 e Santana do Paraíso 2.534 crianças nessa faixa etária.
O geógrafo e estatístico William Passos, que tem especialização doutoral pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também coordena a pesquisa do projeto Observatório das Metropolizações Vale do Aço, pontua que o estudo do Todos Pela Educação não calculou a cobertura por creche por município, cálculo feito pelo Observatório das Metropolizações.
E quando a gente observa os municípios do Vale do Aço, a gente percebe a liderança de Timóteo que consegue oferecer para 56% das crianças em idade de creche, qual é essa idade? Três meses de idade a 3 anos de vida. Timóteo consegue colocar 56% das suas crianças na creche. Na sequência, o município de Coronel Fabriciano consegue colocar 53% das crianças, mais de metade. E Ipatinga fica logo atrás com 48% e a gente vê o município de Paraíso, que tem um desafio imenso, porque só consegue colocar 21% das suas crianças em idade de creche nessas unidades educacionais”, revela.
Importância
William lembra que a matrícula em creche não é obrigatória, a obrigatoriedade da matrícula começa no ensino fundamental, tanto na creche, que vai até os 3 anos de idade, quanto na pré-escola, que engloba crianças de 4 a 5 anos, a matrícula não é obrigatória. Mas os estudos mostram, acrescenta o estudioso, que a existência de oferta de vagas em creche tem um impacto muito significativo na vida das famílias mais pobres. Os estudos também mostram que os municípios que conseguem oferecer mais vagas em creche, são aqueles onde as mulheres mais carentes trabalham e mais famílias conseguem superar a situação de pobreza. Então, a oferta de creche é fundamental para a garantia de trabalho e renda, ela é fundamental para o combate à pobreza e vulnerabilidade, ela é fundamental para que famílias, por exemplo, não dependam de benefícios sociais como o Bolsa Família. A vaga nessas unidades resolve vários outros problemas. Quanto mais vagas em creches, menos pobreza os municípios apresentam”, conclui.
Brasil
Segundo o estudo, 41,2% das crianças de até 3 anos são atendidas no país - ainda distante da meta de 50% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024. Em nove anos, o avanço foi lento e a diferença no atendimento entre os extremos de renda passou de 22 para 29,4 pontos percentuais. Hoje, 30,6% das crianças que estão entre os mais pobres são atendidas; entre as mais ricas, a taxa chega a 60%.
O levantamento também mostra que quase 2,3 milhões de crianças de até três anos estão fora da creche por dificuldade de acesso, como falta de vagas ou de unidades próximas, evidenciando que o país ainda está longe de assegurar esse direito com equidade. Analisando as diferentes faixas de renda, a proporção de crianças que não frequentam a Educação Infantil por escolha dos responsáveis é relativamente parecida. No entanto, existe uma grande diferença na proporção daquelas que não frequentam o serviço por dificuldade de acesso: quanto menor a renda, maior a porcentagem de crianças que, embora demandem o serviço, não conseguem ter acesso.
O cenário é ainda mais crítico entre os bebês de até 1 ano: apenas 18,6% são atendidos. De acordo com o levantamento, em 2024, um a cada quatro (24,8%) não frequentava o serviço por algum tipo de barreira de acesso. Entre os mais pobres, esta situação atinge 34%.
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