14 de agosto, de 2025 | 07:30

Um dia a casa cai para todo bandido

Carlos Alberto Costa *


Não há crise que dure para sempre e também não há desonestidade que sobreviva para sempre. O tempo é o maior senhor da razão. Essas frases prontas nunca fizeram tanto sentido, quando nos deparamos, esta semana, com o escândalo da Ultrafarma - rede de farmácias com sede na zona sul da cidade de São Paulo, fundada em 2000 pelo empresário paranaense Sidney Oliveira.

O Ministério Público de São Paulo mostrou competência, mais uma vez, ao revelar um esquema de corrupção bilionário que funcionava de forma silenciosa entre grandes empresas e um auditor fiscal de alto escalão. Um servidor bem remunerado, que deveria zelar pelo recolhimento dos tributos e pela lisura no processo, mas fazia o oposto. Usava a empresa registrada no nome da própria mãe como laranja para emitir notas fiscais falsas, ele mesmo fazendo os pedidos de ressarcimento milionário e ainda com o poder de aprová-los, para completar.

Ele usava o certificado digital da Ultrafarma para operar diretamente no sistema da Secretaria da Fazenda, garantindo, portanto, que o processo fosse muito rápido e o dinheiro saísse com muita agilidade. Segundo o promotor do caso, o Ministério Público, desde 2021, movimentou cerca de um bilhão de reais no esquema, envolvendo executivos da Ultrafarma e da Fast Shop (uma das maiores lojas online de eletroeletrônicos do Brasil). O executivo da varejista, Mario Otavio Gomes, preso esta semana, trabalha há mais de 30 anos na companhia.

Segundo a informação do MP, as propinas eram pagas em dinheiro vivo, moedas estrangeiras e até esmeraldas. É uma forma de ocultar e lavar os valores ilícitos. Não é de hoje que se sabe que compra com dinheiro vivo sempre esconde coisa errada.

E o problema vai muito além do ato criminoso envolvendo as duas empresas. Precisamos entender que, quando empresários ricos e agentes públicos desviam tributos dessa forma, a conta recai sobre todos nós, sobre toda a sociedade. E o Brasil vive uma crônica falta de receita, não é isso que a gente escuta toda hora, para financiar saúde, educação e segurança? Os governos não vivem reclamando de falta de recursos?

Cada real, portanto, liberado indevidamente significa menos leitos hospitalares, menos vagas em escolas, menos policiamento, mais estradas esburacadas. São crimes assim, não apenas de contos, mas um roubo direto da capacidade do Estado de funcionar para o povo. E o mais grave é que tudo isso descoberto é apenas a ponta de algo muito maior.
“Não é de hoje que se sabe que compra com dinheiro vivo sempre esconde coisa errada”

Se não houver uma fiscalização firme, independente e constante, esquemas assim, ou como o do INSS, que tirava dinheiro dos aposentados para associações fajutas, continuam se multiplicando nos bastidores, minando as capacidades e os potenciais do Brasil por dentro.

Toda hora escutamos sobre a dificuldade, a falta de receita, que é preciso cuidar do orçamento público, que há despesa demais. E o que estamos vendo? Agentes públicos atuando com empresários bilionários para desviar tributos, que é o que financia a máquina pública. E o que nos garante que esse esquema não esteja multiplicado em vários outros estados da federação? É triste. Que tenhamos sempre o Ministério Público e, se necessário, a Receita, a Polícia Federal, ou seja lá quem for, para nos salvar de tanta desonestidade.

* Professor aposentado. Vive em Ipatinga MG.

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