13 de agosto, de 2025 | 08:00

Biografia do abismo

Antonio Nahas *

Cada dia fica mais clara a política comercial do Trumpismo. Visando fortalecer a economia dos Estados Unidos, são impostas barreiras tarifárias para vários países. O propósito é elevar os preços das importações e estimular a produção interna dos bens tarifados. Esta política comercial agressiva já está mostrando seus resultados, havendo inúmeras empresas planejando transferir suas atividades para os EUA. Soma-se a isso a defesa e preservação das chamadas Big techs, as poderosas empresas que controlam o mundo de hoje.

Este poderoso imperialismo de Trump tem outras variantes que atingem países como o Brasil, que levantam sua voz e pretendem fugir da hegemonia estadunidense: estabelecer controle político sobre a América Latina, Central e Caribe, áreas que Trump considera parte do espaço vital dos Estados Unidos.

O apoio de Trump a Bolsonaro segue esta lógica: não se trata de ideologia ou amizade, mas a defesa dos interesses do seu país. A pergunta que poderíamos fazer: há convergência entre os interesses destas duas nações, que justifique a submissão política e comercial do Brasil aos interesses dos Estados Unidos?

Não é isto que a história nos ensina: as nações defendem a si próprias. Para Trump, cada país que se desenvolve torna-se um possível rival, que ameaça a hegemonia política e econômica americana. E, para ele, na América, isto não pode acontecer.

Muitos economistas já analisaram este fenômeno que, em economês chama-se "Chutando a Escada", livro de Ha-Soon, que retrata a pressão que o mundo desenvolvido exerce sobre os países em desenvolvimento, para que estes não sigam caminhos trilhados por eles no passado.

Para Ha-Soon, o objetivo é claro: criar obstaculos de toda ordem para que os países menos desenvolvidos não alcancem o Primeiro Mundo. Por isto, chutam a escada. Quem subiu, subiu. Os outros, que fiquem onde estão.

Infelizmente, as pressões de Trump contam com aliados internos, que aproveitaram a oportunidade para incendiar o país, aumentando a polarização política que marca o Brasil. Nos últimos dez anos, vivemos o mensalão; o impeachment de Dilma; o bolsonarismo no poder e, em seguida, a volta de Lula à Presidência. Esse difícil período pelo qual o país passou levou-nos à recessão por três anos e à modificação do equilíbrio entre os três poderes. As instituições políticas saíram enfraquecidas e a própria atividade política passou a ser questionada.
“Para nós, mortais, fica a lição: a polarização política é nociva”


Somos governados, silenciosamente, pelo Centrão, que tem apenas projetos internos e não pensa no futuro do país. E o poder Judiciário também aumentou seu protagonismo. O país modificou-se bastante. O mercado de trabalho sofreu mudanças profundas. O número de pequenas e médias empresas subiu muito e o país voltou a crescer, mesmo que timidamente. Mas, nosso PIB nos dias de hoje não representa sequer 10 % do PIB dos EUA.
Reprodução


Agora, Trump e seus aliados internos apostam tudo na vitoria do bolsonarismo nas próximas eleições. Seria a forma encontrada por eles para colocar o país "nos eixos", submetendo o Brasil aos interesses políticos e econômicos americanos.

A polarização política extrema a que chegamos talvez explique esta adesão acrítica dos bolsonaristas aos EUA. Tal adesão deveria constranger os Governadores aliados de Bolsonaro - Ronaldo Caiado; Tarcisio de Freitas; Romeu Zema; Claudio Castro - e leva-los a refletir sobre os impactos para seus estados desta configuração política que está se desenhando.

Isso ainda não aconteceu, pois o quadro político é complexo e ainda não está completamente claro. Para eles, há um dilema desenhado: Ficar com Trump/Bolsonado ou alinhar-se a Lula/PT?

De tudo isto, para nós, mortais, fica a lição: a polarização política é nociva. As paixões passam a dominar a clareza das ideias. Não há mais diálogo. Os polos opostos preferem ver o país naufragar que ser governado por seus adversários. Tudo isto foi muito bem analisado no livro Biografia do Abismo, de Felipe Nunes.

E fica também a certeza da importância do fortalecimento da democracia. A Justiça brasileira não pode ser curvar a quem quer que seja. Não há país que prospere sem a prática da Justiça.

Por fim, sem paixões e sem polarização, gostaria de elogiar o Prefeito de Ipatinga por duas decisões importantes para a cidade: a realização de leilão na Bolsa para a concessão do saneamento básico e o início da desocupação da área para que seja construído o campus da UFOP. Grandes iniciativas. Parabéns, Prefeito. E parabéns, Ipatinga.

* Economista, empresário. Autor do livro A Queda. Co-autor do Guia Cultural do Serro.

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Comentários

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Humberto de Souza Abreu

13 de agosto, 2025 | 16:55

“Antônio Nahas,
Culto, lúcido, didático, equilibrado, seus artigos são verdadeiras aulas.
Com certeza um dos melhores intelectuais residentes no Vale do Aço.
Parabéns aos editores do Diário do Aço que abrem suas páginas para o Consultor Antônio Nahas nos brindar com suas análises.
????”

Gildázio Garcia Vitor

13 de agosto, 2025 | 06:54

“Excelente artigo! Parabéns! Desde 1823, com a Doutrina Monroe e seus lema incompleto, que os EUA defendem "A América para os americanos" do Norte, ou seja, para eles mesmos.”

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