
06 de agosto, de 2025 | 06:15
Bolsonaro cavou a sua prisão, de forma bem pensada
Miguel dos Santos *
Centenas de pessoas saíram às ruas protestando contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ocorrida no começo da noite de segunda-feira (4/8). No Congresso, líderes partidários tratam de pressionar os presidentes da Câmara e do Senado para porem em andamento projetos tais como o da famigerada anistia aos invasores dos Três Poderes em 8 de janeiro e os pedidos de cassação do mandato do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que, além do processo que trata da tentativa de golpe de Estado arquitetado pela turma de Bolsonaro após a eleição de 2022, também lida com os inquéritos que tratam da disseminação de fake news e, mais recentemente, de um processo aberto para apurar o envolvimento do deputado federal Eduardo Bolsonaro e seu pai, o ex-presidente, por atentado à soberania ao atuar nos Estados Unidos contra o Brasil.
Mas o fato é que Bolsonaro tem estratégia e cavou sua prisão, ainda que domiciliar, numa tentativa de fazer escalar a crise. Essa avaliação parte de integrantes do próprio STF e de investigadores da Polícia Federal, conforme noticiado esta semana. A estratégia é escalar a crise com o Supremo porque o político está sem saída na Justiça. Então, sobrou para Bolsonaro buscar um discurso de perseguido político; entregar isso como munição para os seus apoiadores foi uma estratégia de desespero. E foi isso que tratou a manifestação de domingo, em que bolsonaristas voltaram às ruas em várias cidades para pedir "fora Lula" e "fora Alexandre de Moraes".
A escalada da crise mais uma vez coloca os interesses da família de um político acima dos interesses da Nação”
É claro que os filhos e outros apoiadores sabiam que Bolsonaro seria preso, quando, mesmo sob censura de usar mídias sociais, transmitiram vídeo com a fala do ex-presidente. Dessa forma, antecipou sua prisão antes de uma provável condenação que deve vir do processo da trama golpista no Supremo.
Bolsonaro sabia exatamente do que se tratavam as medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes na semana anterior e faz parte do show dele tentar desmoralizar o Supremo, tentar desgastar ao máximo e dobrar a aposta, porque o Supremo fica, obviamente, sem saída e tem que cumprir a lei. Dessa forma, o pronunciamento gravado e divulgado na manifestação de domingo foi caso pensado.
Inclusive, a investigação que está em curso sobre a coação no curso do processo está para ser concluída e envolve não só Eduardo Bolsonaro, mas também o jornalista Paulo Figueiredo, pseudo-refugiado nos Estados Unidos, e que tem como beneficiado final o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A escalada da crise mais uma vez coloca os interesses da família de um político acima dos interesses da Nação brasileira. Sabemos como essa crise começou, mas não sabemos onde ela vai parar. Os impactos não ficarão restritos ao ambiente político. Já sabemos que a instabilidade política tem efeito antecipado na economia. Todos perdem. Menos, senhores, bem menos. Ou paguem um preço alto.
* Economista.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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