05 de agosto, de 2025 | 05:00

Um certo João...

Nena de Castro *


Dia, meus 5 leitores. Amanheci truviscando palavras, montando cavalo bravo, percorrendo os sertões mineiros, vaquejando em montaria, conduzindo gado. E encantada pelo palavreado de ouro, metáforas infinitas, daquele que Drummond em seu poema “Um chamado João” perguntou:

“João era fabulista? Fabuloso? Fábula? Sertão místico disparando no exílio da linguagem comum?” Se o maior poeta do Brasil assim escreveu, exprimindo sua dúvida: “ficamos sem saber o que era João e se João existiu de se pegar”.
Posé, pessoas ousam dizer que não gostam dos escritos de João Guimarães Rosa, ou seja, não o entendem, não buscam a grandeza do linguajar que abriram nova perspectiva para o regionalismo como se vê em SAGARANA, publicado em 1946 e que apontaria novos rumos para a literatura brasileira. Nota-se nesses contos uma revalorização da linguagem da linguagem seguida pela universalização do regional.

Segundo o professor José de Nicola, o valor da linguagem particular de Rosa não está no rebuscamento da palavra ou no uso de arcaísmo, mas sim nos neologismos, na recriação, na invenção das palavras, sempre tendo como ponto de partida a fala dos sertanejos, suas expressões, suas particularidades. Com isso as palavras recriadas ganham força e significado novos.

Nas palavras do crítico português Oscar Lopes as metáforas são tantas e tão originais que produzem um efeito poético radical, ou seja, o efeito de ressaca do significado novo sobreo significado corrente” quando se lê que “o sabiá veio molhar o pio no poço, que é bom ressoador”, as palavras “molhar’ e “poço’ descongelam-se, libertam-se e perturbam com um reachado surpreendente.

Bom meus queridos, o que ele quis dizer é que há tantos novos na lavra roseana, que se descobre um tesouro a cada leitura. E a Bugra aqui acha, em sua infinita pequenez que é preciso investir muito nas escolas para que o aluno APRENDA A LER E INTERPERTAR para poder fruir de tanta beleza, de tanta nobreza, de tantos achados. Vejam esse texto: “mas Teófilo Sussuarana era bronco excessivamente bronco, e caminhou para cima de Nhô Augusto. Na sua voz:

- Epa! Nomopadrefilhosespritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez!...

E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.

- Ô gostusura de fim-de-mundo!...”

E meus idolatrados leitores, num morrico ali perto, posso vislumbrar Riobaldo Tatarana e Diadorim em seus cavalos, tudo observando! E nada mais ouso dizer!

* Escritora e contadora de histórias

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

05 de agosto, 2025 | 05:52

“Dia! Delícia de texto! Para ler este João, tem que ter muito amor pelas palavras.”

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