03 de agosto, de 2025 | 10:00

Bancadas no congresso: Você sabe por quem é representado?

Carlos Alberto Costa *

Há alguns anos, um estranho ecossistema vem ganhando corpo no Congresso Nacional, e temos que indagar a quem os deputados e senadores realmente representam. A julgar pelas suas ações, eles passaram a se eleger com o voto do povo para representar tudo, menos o povo. Vamos aos fatos.

Se você acompanha o noticiário, já deve ter ouvido falar na bancada evangélica, na bancada da bala e na bancada do agro. São as mais atuantes. Essas são as chamadas "bancadas temáticas". Na lei, os deputados deveriam representar o povo como um todo, mas, de fato, não é o que demonstram.

Essas bancadas são grupos de parlamentares que se organizam em torno de interesses comuns e específicos: econômicos, religiosos, ideológicos ou corporativos. As bancadas não são partidos, mas têm força política real, fazem lobby, organizam eventos, pressionam votações e muitas vezes mandam mais que o próprio governo.

Algumas são frentes parlamentares oficiais, com CNPJ, apoio empresarial, religioso e influência pesada nos rumos do país. Só para você ter noção, há mais de 260 frentes criadas desde 2023.

Principais bancadas e seus interesses - A mais famosa é a bancada evangélica, que defende pautas religiosas conservadoras, atua contra o aborto, o ensino de gênero, os direitos LGBT e a legalização das drogas. Essa é a que se identifica como a bancada da fé, desde que seja evangélica. Se o assunto é outra doutrina ou crença, a bancada não se envolve.

“Eles passaram a se eleger com o voto do povo para representar tudo, menos o povo”

A bancada da bala é formada por militares das Forças Armadas, policiais e adeptos do punitivismo. Ela defende o armamento civil, o aumento de penas e a redução da maioridade penal. É a bancada do "bandido bom é bandido morto", desde que não seja bandido de direita ou parceiro deles.

E há também a bancada do agro ou bancada ruralista, que representa o latifúndio e o agronegócio exportador. Ela ataca terras indígenas, enfraquece leis ambientais e defende o lucro acima de qualquer floresta ou povo. A bancada do agro, importante frisar, não defende o pequeno produtor ou a agricultura familiar, que é quem realmente leva comida para a mesa das pessoas, principalmente alimentos mais saudáveis que podem ser adquiridos nas mercearias e feiras livres das nossas cidades.

Outra bancada de destaque é a empresarial, que atua pela desregulação do mercado, redução de direitos trabalhistas, privatizações a qualquer custo e reformas regressivas. Há ainda a bancada da saúde privada, que atua contra o fortalecimento do SUS e a favor de planos de saúde. Igualmente, tem a bancada da educação privada, que quer mais dinheiro público indo para os cofres de universidades e escolas particulares.

E ainda existem a bancada da mineração, do transporte, do sindical, a feminista, a antirracista e a LGBT. Nesses meses atuais de 2025, apareceram outros grupos a defender interesses das empresas de apostas esportivas (Bets) e até das big techs estadunidenses.

Em resumo, o que quero mostrar neste artigo é que o Congresso abriga um ecossistema inteiro de interesses estruturados. A maioria das bancadas mais fortes dentro do Congresso atua para manter o sistema, protegendo privilégios econômicos, morais e corporativos. Por fim, se você leu este artigo até aqui, cabe a você identificar qual dessas bancadas representa seus interesses como cidadão comum e qual delas negocia os nossos direitos.

* Professor aposentado

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço