
27 de julho, de 2025 | 08:50
Diretor do presídio de Coronel Fabriciano detalha desafios, rotina e ações de ressocialização
Por Bruna Lage - Repórter Diário do AçoMárcio Menezes, diretor-geral do presídio de Coronel Fabriciano, assumiu o cargo em março deste ano, mas atua no sistema prisional há 24 anos. Ele conversou com o Diário do Aço sobre o trabalho desenvolvido e falou a respeito dos desafios da função. O início da carreira de Márcio no Vale do Aço foi em 2001, de lá pra cá, passou por todo os caminhos possíveis, até chegar à direção da unidade.
O diretor-geral explica que a unidade de Coronel Fabriciano é um presídio de médio porte, com capacidade para 213 indivíduos privados de liberdade (IPL). Hoje a gente está com uma população de 400 e pouco, em torno disso. E sendo uma unidade de médio porte, eu tenho um corpo diretivo que me acompanha. Então tenho um diretor de segurança, uma diretora de atendimento e uma diretora administrativa. O que facilita um pouco o trabalho na gestão da unidade é que a gente pode delegar algumas funções, porque as outras unidades que não têm esse corpo diretivo completo... É só o diretor-geral e o diretor adjunto ou de segurança. Então fica mais apertado”, pontua.
Desafios
Questionado sobre os desafios, Márcio avalia que são os mesmos de todas as unidades prisionais do estado. A gente tem que lidar com essa população encarcerada. Cada IPL carrega dois, três familiares.
Então a gente tem as visitas dos cidadãos que estão lá presos, que a gente tem que lidar com esse público também. Além disso, a gente tem o Judiciário, o juiz da execução penal, o promotor da execução penal e os demais órgãos previstos na lei de execução penal, que são nossos parceiros nessa caminhada. As maiores dificuldades que estão relacionadas ao dia a dia, manter a disciplina, manter a segurança que a sociedade exige de uma unidade prisional, enfim, evitar fugas, motins, rebeliões. Então tudo isso a gente vem conseguindo, de março até hoje. Tem nos ajudado o Senhor, graças a Deus”, celebra.
Ele lembra que os presos estão cumprindo pena ou aguardando a decisão judicial no sentido da condenação. São muitas demandas de saúde, psicológicas, são muitas demandas familiares, é muito trabalho, mas graças a Deus a gente vem conseguindo”, reitera. Sobre os IPLs a mais em relação à capacidade, Márcio explica como tem lidado com o cenário.
O Estado como um todo vem sofrendo esse problema de, não vou dizer superlotação, de uma lotação além do que é previsto. Quando a gente fala em vagas, estamos falando de camas. Então a gente tem uma cela com oito camas, por exemplo, que tem 15 presos. Tem oito na cama e sete no colchão. Isso não ocorre só em Coronel Fabriciano, mas no sistema como um todo. E temos de lidar com essa situação de uma forma que a gente mantenha os direitos previstos na Lei de Execução Penal, que é o trabalho religioso, o atendimento jurídico, familiar, visita, todos os direitos previstos e que a gente vem trabalhando para poder assegurar aos presos esses direitos”.
Oficinas
Na unidade prisional, os IPLs podem participar de oficinas de trabalho. São brinquedos feitos com pallet de madeira. São vários e produzidos para doação. Em outubro, no Dia das Crianças, será feita uma doação de 4 a 5 mil brinquedos. Temos 25 IPLs que trabalham nessa parte interna da unidade, realizando esse trabalho. E isso ajuda muito por causa da remissão. A cada três dias trabalhados, ele tem um dia remido da pena. Isso também tem uma previsão legal na Lei de Execução Penal. E para além disso, a gente tem uma média de 31 presos que trabalham na área externa da unidade. Que só retornam para dormir. Esses são do regime semiaberto, com carta de emprego. Além disso, a gente ainda tem as saídas temporárias, que são as quatro saídas previstas no ano”, detalha.
LGBTQIAPN+
Até pouco tempo, a unidade de Fabriciano tinha uma ala destinada a todo cidadão declarado da comunidade LGBTQIAPN+. Agora, eles são conduzidos para Nova Era. Hoje é a unidade destinada a esse público.
Não apenas em nossa região, que é a 12ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp). Em outras também já está sendo realizado esse trabalho de concentração desse público. Porque é um trabalho diferenciado, exige treinamento. Então o IPL que se declara LGBTQIAPN+ é conduzido para Nova Era”, esclarece.
Apoio da sociedade
Márcio fala sobre o apoio que o município de Coronel Fabriciano e seus habitantes podem dar ao trabalho feito na unidade prisional. "As pessoas podem ir até lá conhecer, saber como é o trabalho, os empresários que tiverem interesse de fazer alguma parceria ou doações, como tinta, material para reforma, pequenas obras, enfim. Tudo isso ajuda a unidade como um todo. O Estado mantém a unidade muito bem com alimentação, com corpo técnico, com gasolina para as viaturas, mas a gente sempre fala com a sociedade civil que é importante essa participação, até para conhecimento”, avalia.
O diretor lembra que a certeza em relação aos IPLs é que entrarão e sairão, já que no Brasil não existe prisão perpétua ou pena de morte. Então a gente faz o trabalho para que ele saia melhor do que quando entrou. Talvez não consigamos com todos. Mas é um trabalho árduo que eu faço há 24 anos e tenho orgulho. Quando eu tomei posse num concurso público, eu decidi ser policial penal, escolhi isso para a minha vida. Esse é o meu trabalho, é o que me faz acordar todos os dias com a certeza de que eu vou chegar no presídio, a gente vai trabalhar para conseguir fazer com que esse cidadão retorne para sua família, um pouco melhor do que quando ele chegou”, conclui Márcio Menezes.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]