
25 de julho, de 2025 | 06:47
Entenda como as ações de Trump ajudam Lula politicamente
Carlos Alberto Costa *

A decisão do presidente dos Estados Unidos de impor um tarifaço sobre importações do Brasil, e a reação gerada no Brasil frente ao absurdo, estão ajudando a produzir um grande racha no espectro político da direita, que vai de um centrismo amorfo até uma extrema-direita hostil a quem quer que não obedeça cegamente Jair Bolsonaro. Deputados de oposição racharam com o presidente da Câmara, Hugo Mota, que não andou com a pauta de anistia ampla conforme pretendido por eles, e ainda passou o trator por cima da bancada bolsonarista, proibindo sessões durante o recesso parlamentar.
Esse racha significativo está se aprofundando em setores da economia, particularmente na agroindústria ligada a Bolsonaro, nos quais se sedimenta rapidamente a noção de que a campanha do clã Bolsonaro em favor do tarifaço de Trump só traz prejuízos aos seus negócios. Setores da indústria e do comércio já haviam chegado a essa conclusão igualmente. Também a cúpula das Forças Armadas teme pelo pior: que um agravamento da crise leve a danos irreparáveis nas estreitas ligações do setor de defesa com os Estados Unidos e países da OTAN.
Associar-se a Trump, especialmente com a subserviência praticada pelo clã Bolsonaro, tornou-se um problema tóxico na política brasileira, com danos cujos efeitos colaterais são imprevisíveis.
Ao longo da semana, correu o país a foto em que deputados aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) levantaram, dia 22/7, uma bandeira em homenagem ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante reunião da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. Em meus quase 60 anos vividos, não me lembro de fato análogo no mundo. Deputados eleitos para servir a uma nação, prestar homenagens subservientes a outro país.
É um fato sem analogia no mundo: deputados de uma nação serem subservientes a outro país”
E esse problema chegou até o Supremo, onde se produziu publicamente um racha quanto à aplicação das medidas cautelares, com uma reluzente tornozeleira, contra Jair Bolsonaro impostas por Alexandre de Moraes. Essas medidas têm sido contraproducentes do ponto de vista de mitigar a crise. As negociações do governo não estão indo a lugar algum.
Enquanto isso, Trump ajuda o governo Lula. Ele faz a China surgir como parceira melhor do que os Estados Unidos - e esse é um velho sonho de Lula. Ele fez brasileiros se unirem para defender o país, com exceção dos bolsonaristas e da bancada que apoia o famigerado MAGA.
"A subserviência do clã Bolsonaro a Trump tornou-se um problema tóxico na política brasileira"
E, esta semana, o ex-estrategista-chefe da Casa Branca e figura central do movimento Make America Great Again (MAGA), Steve Bannon, declarou que, caso o Brasil decida extinguir os processos judiciais nos quais o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu, o governo de Donald Trump retiraria a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pela Casa Branca para entrar em vigor no dia 1º de agosto.
É bom lembrar que, embora Bannon não ocupe cargo oficial no governo de Trump, ele continua a ser um dos conselheiros mais influentes do ex-presidente. Trata-se de uma figura que atua dia e noite em projetos para a extrema-direita global e quer Bolsonaro de volta ao Palácio, em Brasília.
Fingindo desconhecer que Bolsonaro e sua trupe planejaram e tentaram deflagrar um golpe de Estado após a eleição presidencial de 2022 - situação que resultou no processo em andamento no Supremo Tribunal Federal - e estimulado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, Trump se diz convencido de uma caça às bruxas contra Bolsonaro. Na militância nos Estados Unidos, Eduardo conta com o apoio de um comparsa: o influenciador Paulo Figueiredo, neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente brasileiro na ditadura militar (19791985).
Do lado de cá, até esta quinta-feira (27/7), quando este artigo foi escrito, o governo do presidente Lula mantinha a posição de que o sistema judiciário brasileiro é soberano e que o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça brasileira, desconsiderando qualquer tentativa de ingerência externa.
* Professor aposentado
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]