25 de julho, de 2025 | 06:02

Mães mais tarde: mulheres adiam maternidade no Vale do Aço, aponta Censo do IBGE

Divulgação
Autonomia, tecnologia e medicina impulsionam gestações mais tardias na regiãoAutonomia, tecnologia e medicina impulsionam gestações mais tardias na região
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que as mulheres têm adiado a maternidade na Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), acompanhando a tendência nacional, conforme evidenciou o Questionário da Amostra do Censo Demográfico 2022 sobre Fecundidade.

Quando analisados os números dos quatro municípios, 24,64% dos filhos nascidos vivos são provenientes de mulheres de 25 a 29 anos, enquanto 24,15% são de 30 a 34 anos e 20% filhos de mulheres de 20 a 24 anos.

Fecundidade se desloca
Os dois últimos censos demográficos demonstram o envelhecimento da curva de fecundidade das mulheres nas cidades da região. Em 2010, em Ipatinga, por exemplo, o pico da curva da distribuição relativa das taxas específicas de fecundidade estava no grupo etário de 25 a 29 anos, que tinha um peso de 30,58% na composição da Taxa de Fecundidade Total (TFD) do ano. Em 2022, a maior concentração permaneceu no mesmo grupo etário, com 26,01%, mas observou um aumento nos grupos de 30 a 34 anos, que saiu de 20,14% para 22,60%; de 35 a 39 anos 9,41% para 16,08%; e de 40 a 44 anos passou de 4,04% para 6,34%. Ainda houve registros de filhos nascidos vivos de mães com idade entre 45 a 59 anos, fato não registrado no ano de 2010.

Em Coronel Fabriciano, é possível observar que a predominância em 2010 era de mães com idade entre 25 e 29 anos, com uma taxa de 32,70%, já em 2022, a mesma faixa etária representa 20,65% das mães. No último censo, é evidenciado que 24,34% dos nascimentos ocorreram com mães de 20 a 24 anos, ocupando o maior percentual, seguido por genitoras de 30 a 34 anos, com 24,08%. Em 2010, eram 20,74%. Os demais grupos a partir de 30 anos também registraram crescimento.

Em Timóteo, o grande destaque é na faixa etária de 35 a 39 anos, que saiu da taxa de fecundidade em 2010 de 15,04% para 23,29%. No entanto, a composição da Taxa de Fecundidade Total do ano em 202 é liderada pelas genitoras de 30 a 34 anos, com 28,82%.

Santana do Paraíso tem em 2022 a faixa etária de 25 a 29 anos com o maior percentual de mães, com 31,50%, 0.88 pontos percentuais acima do consolidado no censo 2010. As mulheres com filhos nascidos vivos entre 30 a 34 anos saíram de 16,79% para 23,75% de 2010 para 2022, e entre 35 e 39 anos saltou de 10,95% para 14,83%, respectivamente.
Reprodução
Dados do IBGE mostram a proporcionalidade de gravidez por faixa etária nos municípios da regiãoDados do IBGE mostram a proporcionalidade de gravidez por faixa etária nos municípios da região

Entrevistada pelo Diário do Aço, a psicóloga psicanalista Marcela Fernanda de Souza, professora do curso de Psicologia do Unileste e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que essa mudança se passa por métodos contraceptivos, proporcionando um maior controle da fertilidade, avanço da medicina e, sobretudo, a ampliação do papel social das mulheres. “As mulheres começam a entender que podem escolher se casam, se não casam, quando se casam, quando vão ter filhos ou não. A maternidade também deixa de ser compulsória para ser um ato de escolha”, afirma.

Debora Schittini, ginecologista da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), afirma que não há um limite seguro para a gestação, porque várias complicações podem acontecer em qualquer faixa etária, no entanto, a Medicina tem oportunizado gravidez com menos complicações em idades mais avançadas. “A gente sabe que com o advento das tecnologias - das técnicas de reprodução assistida, as pacientes têm tido a oportunidade de conseguir o sonho de ser mãe de forma mais tardia, com 40, 45, 50 anos, se não por um óvulo próprio, às vezes por ovodoação, enfim, uma série de possibilidades”, explica.

Para Marcela, as inseguranças econômicas, violência e vulnerabilidade da mulher também podem fazer com que seja repensada, não apenas a gestação, como a possibilidade de se tornar mãe de outras maneiras, como a adoção. “O conhecimento, que não necessariamente é só acadêmico, mas a crítica mesmo social, a crítica de qual que é a realidade que a gente vive, isso gera insegurança, medo, e muitas mulheres, pensando nessa situação que a gente vive, podem, sim, desistir ou adiar essa escolha”, complementa.
Divulgação
Psicóloga avalia o que pode ter influenciado na mudança de comportamento das mulheres em relação à gravidez tardia, ou abdicação da gestaçãoPsicóloga avalia o que pode ter influenciado na mudança de comportamento das mulheres em relação à gravidez tardia, ou abdicação da gestação

Estigmas e preconceitos
Para a psicóloga, mesmo que as mulheres tenham mais ferramentas que a permitam ser mães tardias, ou até mesmo não viver a gestação, ainda há um estigma na sociedade, de que a mulher para ser feliz por completo precisa passar pelo processo gestacional. “As mulheres podem escolher serem mães mais tarde, mas isso não é sem efeito. A mulher que, inclusive, não escolhe ser mãe, pode ser julgada, rechaçada pela nossa sociedade. Por mais que a gente tenha avançado, há muito ainda o que melhorar, inclusive, para entender que uma mulher não precisa ser mãe para ela se realizar na vida. A maternidade pode ser uma das escolhas de uma mulher e pode ser uma escolha que realiza, mas uma mulher pode também ser realizada sem ser mãe”, avalia.

A profissional ainda frisa que a mulher deve estar bem convicta da decisão. “A carga emocional para essa mulher vai ser grande, então é preciso cuidar para, inclusive, não adoecer. Eu, enquanto psicóloga, por exemplo, quantas vezes que uma mulher jovem, em idade produtiva, relata o sofrimento porque escolheu não ser mãe. É casada, trabalha, não quer ter filhos, mas tem tanta pressão social... É importante que essa mulher tenha certeza da sua decisão, porque o questionamento vai vir, e se for uma pessoa que tem uma estrutura emocional mais sensível, ela pode sofrer de uma maneira mais intensa por isso”, finaliza Marcela.
Divulgação
Ginecologista explica os principais riscos da gravidez a partir dos 35 anos e como minimizá-losGinecologista explica os principais riscos da gravidez a partir dos 35 anos e como minimizá-los

Acompanhamento é fundamental
Toda gravidez a partir dos 35 anos é considerada de alto risco, no entanto, é possível mapear os principais riscos médicos associados. “É considerada de alto risco por conta de algumas possíveis complicações que são maiores nessa faixa etária, como alterações cromossômicas, a mais conhecida Síndrome de Down, dificuldade também para engravidar por conta da idade, diminuição dos óvulos da mulher nessa fase. Tem um aumento também do risco de abortamentos espontâneos e perdas gestacionais, riscos de algumas complicações durante a gestação, como pressão alta, pré-eclâmpsia, diabetes, placenta prévia, restrição de crescimento do bebê e até mesmo parto prematuro”, detalha Debora Schittini.

Para a ginecologista, quem deseja tez gravidez após os 35 anos precisa ter cuidados específicos. “Fazer uma consulta antes do início das tentativas de gestar com um médico ginecologista obstetra para avaliar como é que está a reserva ovariana, avaliar o controle de algumas doenças crônicas como pressão alta, diabetes, distúrbios da tireoide, iniciar uma suplementação adequada e orientar outras medidas que também são associadas à redução de riscos”, pontua a médica.

Por fim, a ginecologista ainda enfatiza que o pré-natal também é específico em uma gestação de alto risco. “A idade por si só, a gente já considera um acompanhamento pré-natal de alto risco. Por vezes tem que lançar exames mais específicos, fazer rastreio de doenças de forma mais precoce e acompanhar mais de perto essas possíveis complicações que podem acontecer”, conclui.


Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Mak Solutions Mak 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Marilia

25 de julho, 2025 | 11:39

“O valor do bolsa família está muito baixo, por isso diminuiu os nascimentos.”

Envie seu Comentário