24 de julho, de 2025 | 08:00

Uso de cosméticos pode ser prejudicial a crianças e adolescentes, alerta médica

Por Bruna Lage - Repórter Diário do Aço
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um guia com orientações sobre rotina de beleza e autocuidado em crianças e adolescentes. O material foi publicado na terça-feira (22). A endocrinologista pediátrica, Lara Vieira Marçal, que atua em Ipatinga, explica que essa tem sido uma situação comum, na qual meninas, principalmente, fazem uso de maquiagem e esmalte, cada vez mais precocemente.

“Crianças com três, quatro anos, às vezes bebezinhos com esmalte nas unhas. Além de produtos para cabelo e perfumes. E a gente tem visto muitos casos de puberdade precoce, meninas com nove anos, por exemplo, menstruando. Isso é muito cedo. É claro que não é somente o motivo dos cosméticos, existem vários fatores associados, especialmente à puberdade. Mas a gente sabe que, dependendo da substância que está presente no cosmético, pode contribuir muito para essa precocidade”, alerta.  

Além disso, acrescenta a médica, é comum perceber distúrbios do crescimento, alterações da tireoide e casos de criptorquidia, que é o nome médico para quando o testículo não desce. “Por isso tem que vigiar muito o bebezinho do sexo masculino, se o testículo está no lugar. Existem casos também de ginecomastia, que é o aumento de mamas no sexo masculino, em meninos. Então, não são apenas as meninas as afetadas. E a gente vê muito, por exemplo, hoje em dia, na questão de cosmético e maquiagem, aqueles brilhos labiais que estão literalmente na boca das meninas, eles têm petrolato, substâncias não recomendadas, especialmente para crianças”, reitera.

Desodorantes
A SBP destaca que antitranspirantes são produtos indicados para quem transpira muito, pois quando aplicados, penetram nos ductos glandulares produzindo um gel que inibe a produção de suor excessivo. O uso de antitranspirantes não é recomendado para menores de 12 anos. Já os desodorantes são produtos que apenas mascaram o mau odor axilar e podem ser usados a partir dos oito anos, desde que não sejam apresentados na forma de aerossol e não possuam substâncias antitranspirantes.

Segundo a SBP, o uso excessivo de maquiagem propicia a obstrução dos poros, aparecimento de acne e dermatites. E, por causa de diversas substâncias, podem desencadear reações alérgicas, efeitos hormonais, toxidade neurológicas. Outra prática comum é a aplicação de gel nas unhas, o que, de acordo com a SBP, não é recomendado para menores de 16 anos. “Outra moda que vemos muito no Brasil é o uso de óleos essenciais em cosméticos infantis. E é importante ficar de olho, porque eles têm óleos essenciais que podem ter estruturas químicas e causar alergia. Ainda na parte da endocrinologia pediátrica, existem estudos associando a melaleuca, que tem uma ação antisséptica, e a lavanda também, com puberdade precoce em crianças, além de ginecomastia em meninos. Existem muitas dúvidas sobre a quantidade que pode ser exatamente usada em criança”.


Orientação
Lara Vieira Marçal salienta que a orientação aos pais é que leiam os rótulos, aprendam a identificar como que esses produtos podem estar presentes nos cosméticos. Que evitem o uso de maquiagem, esmalte, até desodorante que não seja adequado para a criança. 

“E não adianta ficar só olhando a embalagem que está escrito cosmético natural, ou vegano, ou orgânico. Isso não torna o cosmético livre de substâncias que pode fazer mal. Isso não garante, necessariamente, a segurança e a qualidade. Toda criança e adolescente deve ter um médico que acompanhe, que ajude a decifrar esse mundo dos cosméticos e dos rótulos. É muito importante a informação vinda de fontes confiáveis, por exemplo, Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Dermatologia, muito mais do que redes sociais, temos visto notícias alarmantes e que deixam todo mundo preocupadíssimo sem saber para onde caminhar”, explica.

Sistema imunológico
A médica acrescenta que é importante ter ciência do que é escolhido para usar nas crianças e adolescentes em termos de cosméticos, já que a pele é mais fina e permeável. O sistema imunológico das crianças não está completamente desenvolvido, então a chance de apresentarem alguma reação adversa, algum problema relacionado ao uso de cosméticos, é maior.

“E existe um outro agravante, que quando a gente aplica um cosmético ou um medicamento na pele, ele é absorvido diretamente, ele não passa por metabolização, não é degradado em substâncias menos agressivas, por exemplo, como acontece quando a gente toma o medicamento pela boca, que passa pelo intestino e depois é filtrado lá no fígado, que é responsável por uma espécie de desintoxicação daquilo que a gente ingere, entre outras funções”, conclui.