
20 de julho, de 2025 | 10:00
Pague gasolina e abasteça com etanol
Fernando Alpernaz *
A partir de 1º de agosto, o teor de etanol na gasolina será elevado de 27% para 30%, e o diesel passará a incorporar 1% a mais de biodiesel, resultando no padrão B15. O governo federal celebra esta decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), impulsionada pela iminente ameaça de encarecimento do petróleo em decorrência da situação no Estreito de Ormuz (controlado pelo Irã), ameaça essa que, contudo, não se concretizou.
Contrariamente, os condutores não vislumbram motivos para celebração. O excelente jornalista Boris Feldman, produtor e apresentador do programa Auto Papo, que acompanho há anos e vem dando uma contribuição significativa e qualificada sobre o setor automotivo, afirma que os proprietários de veículos a combustão não têm nada a comprar. Pelo contrário, a elevação dos percentuais de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel tende a ser prejudicial tanto para o orçamento do consumidor quanto para a integridade mecânica dos veículos. A principal beneficiada por esta deliberação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) foi a bancada agropecuária, cujo faturamento se expandirá em bilhões de reais, às custas de um ônus que inevitavelmente recairá sobre o cidadão brasileiro. Não há quem defenda os interesses da maioria, pois a bancada do agronegócio, embora eleita com o voto do povo, governa contra o povo.
E o governo federal? Boris explica que esse usa o argumento que o incremento do teor de etanol para 30% foi submetido a testes e aprovado pelo Instituto Mauá, encontrando respaldo na legislação do "Combustível do Futuro". Contudo, nenhuma legislação é capaz de suplantar um obstáculo físico-químico. Os ensaios realizados com 30% de etanol indicaram que os motores dos automóveis alcançaram o limite viável para a adição de álcool. Adicionalmente, os resultados para motocicletas foram ainda mais desfavoráveis, evidenciando sinais de disfunção operacional”, afirmou o jornalista em um vídeo publicado em seus perfis profissionais essa semana.
Em relação ao aumento do biodiesel para 15%, é pertinente averiguar a posição da Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade que representa aproximadamente 200 mil transportadores. A CNT adverte que teores elevados podem ocasionar a formação de borra nos tanques, o entupimento dos bicos injetores, o comprometimento da potência veicular e a redução da vida útil dos componentes.
Em termos mais explícitos, a borra referida pela CNT pode resultar na paralisação de caminhões em vias rodoviárias, no reboque de ônibus para suas garagens, no incremento significativo dos custos operacionais devido à duplicação da frequência de troca de filtros e óleos lubrificantes, além da necessidade de desentupimento e retificação de motores.
Em resumo, mais uma vez sobrou para a sociedade pagar o preço pelas decisões tomadas de cima para baixo, sem levar em conta o interesse real da maioria da população.
* Consultor, representante comercial de autopeças.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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