20 de julho, de 2025 | 09:00
Esperem por uma ressaca que virá com muita dor de cabeça
Carlos Alberto Costa *
Desde o começo do ano muita gente em todo o mundo, inclusive empresários, de todo os portes, do médio aos bilionários, tropeçaram na política externa de Trump, que pode ser caracterizada como desprovida de lógica e coerência, assemelhando-se à conduta de alguém sob o efeito do álcool. Assim como um indivíduo embriagado que se posta a cantar ópera no fundo de um bar, afirmando ser Pavarotti, as ações e declarações da diplomacia americana sob a gestão do Trump frequentemente carecem de um fundamento racional, levando-nos a questionar e a tentar, em vão, descobrir a coerência por trás de decisões como a de aventar a anexação do Canadá, anexação da Groelândia, território autônomo do Reino da Dinamarca, entre outras loucuras.
É igualmente desafiador compreender a racionalidade de uma política que renega décadas de alianças militares e comerciais com a Europa, rotulando a União Europeia como um mero plano antiamericano. Da mesma forma, torna-se incompreensível a apresentação, ao presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que em uma reunião na Casa Branca, foi submetido a exibição de imagens falsas de massacres em outros países africanos, distorcidas como se fossem na África do Sul, para alegar perseguição a brancos em território nacional, um show de constrangimento para a equipe do país sulafricano, ou a atitude de humilhar aliados tradicionais que foram à sede do governo dos EUA.
Aí, mais recentemente o presidente Trump anuncia uma tarifa de 50% para produtos importados do Brasil, causando prejuízos para empresas de ambos os lados. A Câmara de Comércio dos Estados Unidos e outras entidades associativas deles divulgaram nota alertando que 2.600 empresas dos EUA dependem de importações do Brasil e terão negócios inviabilizados com a medida, que entra em vigor em primeiro de agosto. Passamos dias a tentar discernir uma lógica onde, de fato, nenhuma existe.
Essa "política de bêbado" inevitavelmente levanta a questão de suas consequências a longo prazo. Será que haverá uma "ressaca", um efeito adverso após essa embriaguez política, assim como a dor de cabeça que se segue a um excesso? A resposta é certa. Sim, a ressaca vai ser forte e com prejuízos amplos.
Contrariando algumas expectativas, nos locais onde Trump implementou tais abordagens extremistas, a extrema-direita não registrou um fortalecimento. Pelo contrário, como evidenciado pelas recentes eleições no Canadá, figuras e movimentos alinhados com suas políticas viram seu prestígio e força diminuírem.
No Brasil é cedo para afirmar, mas pode ser que a ação da família Bolsonaro nos Estados Unidos, para tentar salvar a pele de Bolsonaro, processado por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, foi o estímulo que faltava para a reação popular e o fortalecimento de Lula.
* Professor aposentado
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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