PREF BELO ORIENTE FESTIVAL 728X90

18 de julho, de 2025 | 10:00

Na calada da noite, passaram mais uma boiada

Caros Alberto Costa *

SOS Mata Atlântica
SOS Mata Atlântica Na madrugada de 17/7 passou mais uma boiada, enquanto a maioria de nós dormia  SOS Mata Atlântica Na madrugada de 17/7 passou mais uma boiada, enquanto a maioria de nós dormia

Muitos brasileiros ainda se lembram da célebre frase do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para quem era hora de aproveitar que os olhos da imprensa estavam voltados para o coronavírus, para “ir passando a boiada e mudando o regramento”. A frase foi dita por Ricardo Salles durante uma reunião interministerial em 22 de abril de 2020, ainda no começo da pandemia. A divulgação desse desastre veio à tona, gerou gritaria e a citação é usada até hoje em forma de protesto.

Mas o fato incontestável é que a boiada ainda está passando. Pois vejam que na madrugada de 17 de julho de 2025, passados mais de cinco anos da frase de Salles, passou mais uma boiada, enquanto a maioria de nós dormia.

À véspera do recesso parlamentar, 267 deputados votaram para aprovar o Projeto de Lei (PL) 2159/2021, que altera o licenciamento ambiental no Brasil. Dentre os nomes dos que votaram sim está a única representante do Vale do Aço na Câmara, Rosângela Reis (PL). Amplamente votado na região, Nikolas Ferreira (PL) igualmente votou a favor. Outros 116 votos foram contrários àquele que é conhecido como PL da Devastação, pelo potencial impacto desastroso das novas regras.

A sessão, iniciada no último dia de funcionamento do Congresso Nacional antes do recesso, aconteceu de forma semipresencial, isto é, com a possibilidade de deputados votarem virtualmente. Apesar das tentativas de adiamento ou retirada de pauta, o PL entrou em discussão por volta das 0h40.
"O governo mudou, Salles saiu, mas na madrugada de 17/7 passou mais uma boiada, enquanto a maioria de nós dormia"

Ecoa-se apenas a voz de uma deputada mineira: “Meia-noite, plenário vazio, com votação virtual, e coloca-se em pauta o projeto extremamente estruturante para a política socioambiental do Brasil, que pode significar, caso aprovado, o maior retrocesso da história do licenciamento ambiental brasileiro. E vamos votar isso no apagar das luzes, fechando a porta, sem participação popular, com votação online.

Que vergonha!", declarou, pedindo lembrança e respeito às 272 vítimas do rompimento da barragem de minérios da Vale em Brumadinho. A mineração foi uma das atividades que teve suas regras flexibilizadas com o PL da calada da noite.

A aprovação do texto, com a emenda 28, que altera a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006) e enfraquece a proteção de suas áreas mais preservadas, vai contra o alerta de ambientalistas, empresários, cientistas e contra grande mobilização da sociedade.
Entretanto, nesta quinta-feira, ao longo do dia, o que se viu foi uma intensa mobilização social, na imprensa e nas mídias sociais, contra a aprovação do projeto da devastação. Ambientalistas, artistas, líderes religiosos e políticos mostraram que a sociedade está atenta, acordou com a surpresa da madrugada e reagiu como devia.

Alterar um sistema legal comprovadamente eficaz é institucionalmente temerário e juridicamente questionável, colocando em risco os compromissos assumidos pelo Brasil perante o Acordo do Clima e as COPs da Biodiversidade e do Clima.

Neste momento, em vez de aperfeiçoar as regras do licenciamento e a avaliação de impactos ambientais, o Congresso optou por consolidar a lei da não licença e o autolicenciamento. Um apertar de botão, sem apresentação prévia de qualquer estudo ambiental, será o procedimento padrão que gerará a maior parte das licenças no país.

Agora, cabe ao presidente Lula vetar ou não o projeto, uma decisão ainda mais significativa por estar a alguns meses de distância da realização da Conferência do Clima, a COP30, no país. Entretanto, se o Congresso insistir no retrocesso, caberá mais uma vez um recurso no STF. Entidades preveem a judicialização da causa caso aprovada, por ir contra o direito a um meio ambiente equilibrado, previsto na Constituição Federal. Caso seja acatado, mais uma vez o Supremo será alvo da oposição e haja manipulação do povo diante de tantos desacertos.

* Professor aposentado. Vive em Ipatinga.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Rodrigo

18 de julho, 2025 | 13:46

“ChatGPT, tenho uma pergunta muito simples:

É possível crescimento econômico INFINITO num planeta com recursos naturais FINITOS?”

Envie seu Comentário