16 de julho, de 2025 | 07:40

Nas margens do Ribeirão Ipanema

Antonio Nahas Junior *


Ao longo dos meus 73 anos, desenvolvi o hábito de fazer exercícios físicos regularmente. Alongamento, musculação, exercícios aeróbicos e fazer ginástica pela manhã ajudam no bem-estar do dia. Produz endorfina e gera na nossa mente a sensação do dever cumprido. Todas as manhãs que posso vou caminhar, correr, fazer alongamentos, abdominais, flexões, o que for possível. Seja onde estiver, lá vou eu. Às vezes, quando estou em viagem, aproveito intervalo entre uma reunião e outra e saio andando pelas ruas de roupa e tudo. Fico de olho no meu celular e no meu relógio para ver se cumpri a meta do dia. Em certas situações, tem gente que até ri de mim, pensando que sou meio doido....

Pois bem, domingo pela manhã lá fui eu perto do Hospital Municipal, na Praça das Mães. Lá chegando, passei em primeiro lugar, pela avenida Felipe dos Santos, que margeia a praça. Lembro-me sempre da sedição de Vila Rica, ocorrida em Ouro Preto, em 1720, que culminou com o enforcamento do português Felipe dos Santos pela Coroa portuguesa. O Governador da Capitania, Conde de Assumar, além de enforca-lo e esquartejar seu corpo, mandou queimar as casas dos revoltosos, deixando em ruínas o Morro da Queimada em Ouro Preto.

Depois da avenida, dobrei à direita e entrei na rua Von Goethe, escritor alemão, autor de Fausto, livro sobre um cientista que faz um pacto com Mefistófeles, em busca de conhecimento e poder. Ao contar esta história, Goethe pesquisa em profundidade a alma humana.
“O rio Ipanema é patrimônio de todos nós. Enfeita a cidade e traz vida à ela”

Mais à frente cheguei nada menos à rua Isaac Newton. Isso mesmo, aquele cientista inglês cuja maçã lhe caiu na cabeça, levando-o a desenvolver a Lei da Gravidade; as Leis da mecânica aplicada ao movimento dos corpos celestiais; o cálculo diferencial e integral, e tantas outras lições que o colocam como um dos maiores gênios da humanidade. Descobri o nome da rua pela internet. Newton ainda não mereceu uma placa...

Fico pensando quem teve a iluminação em fazer o encontro destes personagens do século XVIII na Praça das Mães.
Afinal, todos os três viveram naquele século, criando as raízes da era moderna.

E vem sempre a dúvida: Volto para Felipe dos Santos, Goethe ou escolho outro caminho? Mas domingo não tive dúvidas: desci a rua Isaac Newton em direção ao ribeirão Ipanema. Este rio - assim que eu o chamo - nasce e deságua em Ipatinga. É afluente do rio Doce, mostrando sua importância. Tem nascentes lindas e cachoeiras no início do seu curso. Possui águas cristalinas, que perdem sua pureza ao entrar nas zonas urbanas.

A qualidade das suas águas melhorou muito ao longo do tempo, sobretudo após a captação e tratamento dos esgotos, na nossa cidade.
Divulgação
Lixo lançado à margem do ribeirão Ipanema, trecho no bairro Cidade Nobre Lixo lançado à margem do ribeirão Ipanema, trecho no bairro Cidade Nobre

Mas, infelizmente, descendo a rua Isaac Newton, ao chegar nas margens do Ipanema, eu me deparei com um panorama desolador: Lixo e entulho depositado nas suas margens em grande quantidade. Infelizmente, alguns cidadãos aproveitam-se do fato do local ser um recanto descuidado da nossa cidade para poluir e maltratar o Ipanema.

Ali, atrás da Praça das Mães, até chegarmos em outros bairros, o Ipanema corre bem escondido. Não há asfalto ou calçamento na avenida que o margeia, apenas uma rua de terra, com pouco trânsito de veículos. Há muitos lotes vagos e muitas casas e apartamentos oferecem frentes para outras ruas. Por isso suas margens são o cenário perfeito para quem quer ter pouco trabalho e não quer ser visto poluindo o meio ambiente às claras. Atitudes como essa revelam um pouco da alma de alguns seres humanos: não têm ética a orientar suas ações.

O rio Ipanema é patrimônio de todos nós. Enfeita a cidade e traz vida à ela. Revela e permite nossa integração com a natureza e o meio ambiente. Alegra nossas vidas e diminui a aspereza dos centros urbanos, marcados pelo ruído dos carros; edifícios altos; movimento de pessoas, barulho. Mostra para todos que somos parte do Planeta Terra, ao qual devemos nossa existência.

A Terra é a nossa casa comum. Pertence a todos nós. Cuidar do meio ambiente; da descarbonização do Planeta é cuidar de nós mesmos. Infelizmente, nestes tempos tumultuados, onde o desentendimento entre as nações cresce a cada dia, fica cada dia mais difícil a construção de uma agenda global.

Newton, que decifrou o Planeta e Goethe, que nos ajudou a compreender o ser humano, devem estar surpresos com o que estão assistindo. E Felipe dos Santos, enforcado e esquartejado, refletindo sobre as consequências que nossas atitudes - ou a falta delas - podem ter. Mas vamos continuar nossa luta na defesa da nossa casa comum, a Terra.

* Economista, empresário. Morador em Ipatinga.
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

16 de julho, 2025 | 09:58

“Artigo maravilhoso! Nunca pensei em ligar o nome das ruas e avenidas com a história de seus personagens. Nem dos grandes gênios, como Goethe e Newton.
Queria muito passar por ruas Walt Whitman, Allen Ginsberg, Elizabeth Bishop, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Thiago de Mello, Drummond, Cora Coralina, Cecília Meireles, Manoel de Barros, João Cabral, Ferreira
Gullar, Leminski, Ana Cristina César e tantos outros.
O município de Santana do Paraíso, com vários novos loteamentos, poderia "batizar" um de seus bairros como "Bairro Poético" ou "Literário".
Obrigado pela lição, Camarada Toninho! Vossa Excelência fez-me "viajar na maionese".”

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