
27 de junho, de 2025 | 08:00
A bomba atômica: espelho do poder ou da loucura?
Mauro Falcão *
A civilização avançou. Abandonamos as cavernas, descobrimos a eletricidade, fomos à Lua - e agora, com a elegância de deuses distraídos, brincamos de Apocalipse com bombas nucleares. Da pedra lascada à arrebentação, o instinto permanece: dominar é vencer. Evoluímos em tecnologia, mas nossos sentimentos continuam primitivos. Somos bárbaros com circuitos, movidos por paixões ancestrais em roupas modernas.De um lado do tabuleiro, os que já têm a ogiva embaixo da mesa. Do outro, os que ainda estão comprando as peças. Uns dizem que é para se defender, outros preferem não dizer nada. Afinal, quem precisa de justificativa quando se tem megatons de razão? A paridade é a ilusão que mantém a tensão viva.
A lógica é simples, quase divina: se o vizinho tem um porrete, eu preciso de dois. E se ele comprar três, eu encomendo dez. É a matemática do medo, com pitadas de orgulho e delírios de eternidade.
Historicamente, o poder sempre foi sinônimo de quem grita mais alto ou explode melhor. E assim seguimos, marchando em círculos sobre um solo que já cansou de avisar. A Terra, coitada, observa tudo com paciência milenar, esperando o momento em que apertaremos o botão e provaremos, de uma vez por todas, que a inteligência humana chegou ao seu ápice: o autoaniquilamento.
A bomba atômica não é apenas um artefato, é o reflexo do que somos capazes de desejar”
Do céu, talvez anjos e cometas estejam em silêncio, apostando entre si quem nos detona primeiro nós mesmos ou a próxima tempestade solar. O universo assiste, curioso. E Deus, se ainda fala conosco, talvez só repita: livre-arbítrio, meus filhos - mas com essa escolha, cuidado com o juízo”.
A bomba atômica não é apenas um artefato é o reflexo do que somos capazes de desejar. Elegemos líderes que falam por nossos vícios, angústias e receios, e nos consolamos com a ideia de que não decidimos nada, quando, na verdade, decidimos tudo. Porque a questão não é mais se vamos apertar o botão. A pergunta real é: quantos de nós ainda rezam para que ninguém o faça.
Reflexão Bíblica: Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça, maldade ainda. Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra” Eclesiastes 3:16-17.
* Escritor brasileiro. E-mail: [email protected]
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]