27 de junho, de 2025 | 07:00

Tecnologia inclusiva: o caminho para transformar a educação de estudantes com necessidades especiais no Brasil

Martín Morelli *

No Brasil, mais de 1,3 milhão de estudantes com deficiência, transtornos do espectro autista (TEA) ou altas habilidades estão matriculados na educação básica, segundo o Censo Escolar 2023 do INEP. Apesar dos avanços em políticas de inclusão - como a implementação do Decreto nº 10.502/2020 - ainda persistem desafios estruturais: escassez de recursos pedagógicos acessíveis, formação docente insuficiente e lacunas tecnológicas que limitam uma inclusão efetiva nas salas de aula.

Comparado a outros países da América Latina, o Brasil apresenta um compromisso estatisticamente mais sólido com a inclusão escolar. Enquanto países como Peru ou Paraguai têm menos de 60% dos estudantes com deficiência em escolas regulares, no Brasil essa proporção supera 90%. No entanto, a qualidade dessa inclusão ainda é um desafio comum em toda a região.

É nesse contexto que a tecnologia surge como uma poderosa ferramenta de transformação. Soluções digitais permitem adaptar conteúdos, melhorar a comunicação e garantir a participação ativa de estudantes com necessidades especiais. Ferramentas como leitores de tela, tradutores de Libras, teclados adaptados e softwares de comunicação alternativa têm demonstrado aumentar a autonomia e o desempenho acadêmico desses estudantes.

Uma das inovações mais disruptivas é o uso de plataformas de gestão educacional integradas a sistemas CRM (Customer Relationship Management). Essas plataformas permitem que escolas e universidades construam perfis personalizados de cada aluno, identificando suas necessidades específicas, nível de progresso e adequações curriculares necessárias. Assim, as equipes pedagógicas conseguem coordenar ações mais eficazes com professores, terapeutas e famílias, melhorando significativamente a resposta educacional.
“Apostar em tecnologias inclusivas é uma declaração ética sobre o tipo de sociedade que queremos construir”


Além disso, o uso de inteligência artificial nessas plataformas possibilita identificar padrões de participação e aprendizagem, permitindo intervenções precoces. Por exemplo, se um estudante com autismo apresentar baixa interação em ambientes virtuais, o sistema pode emitir alertas para que os conteúdos e metodologias sejam ajustados.
Apesar dessas oportunidades, a desigualdade no acesso à tecnologia ainda é um grande obstáculo. No Brasil, apenas 39% das escolas públicas têm conexão de qualidade com a internet, e o investimento em tecnologias assistivas é desigual entre as regiões. Esse cenário se repete em boa parte da América Latina, onde o acesso depende fortemente do contexto socioeconômico e geográfico.

Para que a tecnologia cumpra sua promessa de inclusão, é necessário um compromisso estrutural: investimento contínuo, parcerias público-privadas e formação docente com foco em acessibilidade. A inovação não deve ser um privilégio, mas um direito de todos os estudantes.

O Brasil tem potencial para liderar essa transformação educacional. Apostar em tecnologias inclusivas não é apenas uma estratégia pedagógica: é uma declaração ética sobre o tipo de sociedade que queremos construir.

* Consultor em transformação digital em instituições de ensino na América Latina

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