08 de junho, de 2025 | 07:30
Transplante de medula óssea: quando a esperança vem de dentro
Guilherme Muzzi *
Diagnosticados com linfoma, o cantor Netinho e a influenciadora Isabel Veloso têm em comum mais do que a luta contra o câncer: ambos se preparam para passar por um transplante de medula óssea, o chamado TMO. O procedimento, que pode soar assustador à primeira vista, é, na verdade, um dos tratamentos mais potentes e promissores para combater cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias. E mais do que isso: representa esperança.Ainda pouco compreendido fora do universo médico, o TMO consiste basicamente na substituição das células-tronco doentes da medula óssea nossa fábrica de sangue por células saudáveis, capazes de reconstruir o sistema imunológico do paciente. Esse "reset" do organismo pode ser feito com células do próprio paciente (transplante autólogo) ou de um doador compatível (alogênico). A decisão depende do tipo e estágio da doença, bem como da resposta aos tratamentos anteriores.
No caso dos linfomas, o TMO costuma ser indicado quando a quimioterapia inicial não resulta na remissão completa ou quando há risco elevado de recidiva. O objetivo é aumentar significativamente as chances de cura e para muitos pacientes, essa é a única alternativa real de vencê-lo.
Cada medula doada, há mais do que células: há a chance de um recomeço”
Mas o transplante não é um caminho fácil. O processo envolve internação prolongada, uso intensivo de medicamentos imunossupressores e um período delicado em que o paciente precisa ser rigidamente protegido contra infecções. Além dos desafios físicos, há o impacto emocional de encarar o desconhecido, conviver com incertezas e lidar com a expectativa de um futuro possível.
É por isso que ver figuras públicas como Netinho compartilharem sua jornada tem um valor inestimável. Não apenas pela coragem em expor a luta pessoal, mas pelo poder de informação que esse tipo de relato carrega, esclarecendo a importância da doação de medula óssea.
Segundo o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), menos de 30% dos pacientes que precisam de um transplante encontram um doador compatível na própria família. O restante depende da solidariedade anônima de voluntários. Por isso, é urgente ampliar a conscientização sobre a doação, desmistificar o processo e incentivar mais pessoas a se cadastrarem.
O TMO é, acima de tudo, um símbolo do quanto a medicina avançou e de como a vida pode renascer. Que os exemplos inspirem empatia, informação e ação. Porque em cada medula doada, há mais do que células: há a chance de um recomeço.
* Médico hematologista especialista em Car-T Cell, Transplante de Medula Óssea e onco-hematologia
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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