
08 de junho, de 2025 | 08:00
Os alunos atípicos serão os típicos?
Cadu Arruda *
Vivemos um momento de transformação silenciosa, porém profunda, nas salas de aula de todo o mundo. Uma mudança que, embora ainda não plenamente compreendida, já altera radicalmente o perfil dos estudantes e desafia os modelos educacionais tradicionais: o crescimento exponencial no número de alunos com transtornos de aprendizagem e neurodivergências, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros.Essa tendência não é isolada nem exclusiva de um país. Diversos estudos internacionais apontam para o mesmo fenômeno: a identificação de alunos atípicos cresce em ritmo acelerado. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, por exemplo, revela que a incidência de casos de TEA passou de 1 em cada 150 crianças, no início dos anos 2000, para 1 em cada 36, em 2023. No Brasil, embora os dados sejam mais escassos, observa-se movimento semelhante nas redes públicas e privadas.
Mas o que está por trás desse aumento? Trata-se de um real crescimento nos casos ou de uma melhora nos diagnósticos e na conscientização? A resposta, ainda em construção, provavelmente é um misto dos dois fatores. O fato é que os sistemas educacionais, historicamente desenhados para uma suposta média” de aluno aquele considerado típico já não refletem a realidade da diversidade presente em sala de aula.
Estamos presenciando a inversão do paradigma educacional. Se antes os estudantes com necessidades educacionais específicas eram exceções, hoje caminham para se tornarem a regra. Em poucas décadas, não será mais raro encontrar turmas com maioria de alunos com perfis atípicos - o que levanta uma provocação central deste artigo: e se os atípicos passarem a ser os típicos?
Em poucas décadas, não será mais raro encontrar turmas com maioria de alunos com perfis atípicos”
Essa mudança de paradigma exige mais do que adaptações pontuais. Ela clama por uma reinvenção completa da escola. Um novo olhar sobre currículo, avaliação, metodologias de ensino e formação docente. O futuro da educação não pode mais se basear na padronização, e sim na personalização e acessibilidade. Não se trata apenas de incluir o aluno atípico, mas de repensar o que é ser típico” em uma sociedade cada vez mais diversa, complexa e plural.
Iniciativas como a inclutech Plataforma Prova Adaptada, advêm, exatamente desse novo cenário, com a missão de promover instrumentos avaliativos acessíveis, que respeitem diferentes formas de aprender e expressar conhecimento. Afinal, se os modos de aprender são múltiplos, os modos de avaliar também devem ser.
A realidade é clara: o crescimento dos alunos neurodivergentes nas escolas não é uma exceção temporária, é uma tendência estrutural. A escola que não se adaptar, ficará para trás não apenas no cumprimento da legislação ou de metas educacionais, mas no seu papel mais essencial: formar cidadãos preparados para um mundo em constante transformação.
Neste novo cenário, não é exagero afirmar: os atípicos serão os típicos. E talvez, esse seja o maior convite da nossa era para repensar o que, de fato, é normal.
* Advogado e CEO da plataforma Prova Adaptada, solução disruptiva 100% nacional vem se destacando como poderosa ferramenta para escolas e educadores no processo de adaptação pedagógica para estudantes com diferentes perfis de neurodivergência.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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