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30 de maio, de 2025 | 08:00

Violência nas escolas: o preço da omissão preventiva

Ailton Cirilo *

O recente caso ocorrido em uma escola particular de Uberaba, onde uma aluna de 14 anos foi morta por um colega da mesma idade, exige reflexão e ação imediata. A investigação concluiu que o ato foi premeditado, motivado por inveja, e que os envolvidos estavam inseridos no ambiente escolar sem qualquer histórico de conflito explícito. Infelizmente, não é um episódio isolado.

Na vida cotidiana de hoje, em que os casais passam o dia inteiro trabalhando, tornou-se comum delegar ao Estado a responsabilidade de educar os filhos. No entanto, é preciso lembrar que o papel da escola é transmitir conhecimento e fomentar a cidadania — e não substituir o lar na formação de princípios e valores. Quando os pais abrem mão dessa função essencial, criam um vazio que pode ser preenchido por influências negativas.

Muitas vezes, a criança ou o adolescente presencia situações de violência dentro de casa e acaba reproduzindo esses comportamentos no ambiente escolar. A ausência da presença ativa dos pais, do diálogo constante e da orientação ética contribui para o surgimento de jovens emocionalmente desamparados e, em alguns casos, propensos a atitudes extremas. Valores se aprendem no berço — a escola pode complementar, mas jamais substituir essa base.

É imprescindível investir em programas de prevenção dentro das escolas, com foco em três frentes principais: saúde mental, formação de educadores e articulação com órgãos de segurança pública. Precisamos capacitar professores e demais profissionais da educação para que consigam reconhecer mudanças de comportamento entre os alunos, isolar casos de sofrimento emocional e acionar as redes de apoio adequadas.
"Um ponto essencial é a criação de protocolos claros de segurança, integrando escola, família, conselho tutelar e forças policiais"


Ao mesmo tempo, o acompanhamento psicológico contínuo de estudantes deve deixar de ser exceção e se tornar política permanente. A estrutura de suporte emocional precisa ser integrada ao cotidiano escolar, especialmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, onde a pressão emocional é mais intensa.

Outro ponto essencial é a criação de protocolos claros de segurança, integrando escola, família, conselho tutelar e forças policiais. Não se trata de transformar escolas em ambientes militarizados, mas de garantir um fluxo rápido e eficiente de comunicação e intervenção quando necessário.

Também é urgente aprimorar os dados sobre violência nas escolas. Muitos casos são subnotificados ou tratados isoladamente, o que impede a formulação de políticas públicas consistentes. Sem dados, não há diagnóstico. E sem diagnóstico, não há solução eficaz.

Como profissional da área de segurança pública, vejo com preocupação a tendência de só se discutir esses temas após uma tragédia. Precisamos agir antes. A violência escolar não nasce de um dia para o outro. Ela é construída ao longo do tempo, alimentada pela negligência, pela ausência de escuta, pela banalização dos sinais.

Se quisermos evitar novos casos como o de Uberaba, o caminho não está apenas em reações pontuais, mas na construção de uma cultura escolar de paz, cuidado e responsabilidade compartilhada.

* Coronel da reserva da PMMG, especialista em Segurança Pública

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

30 de maio, 2025 | 21:19

“Excelente artigo! Parabéns! Hoje o Sr. deu um show!
Estou fazendo um curso sobre gestão educacional, oferecido pela SME de Ipatinga, cujo tema debatido ontem foi este.”

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