DIÁRIO DO AÇO SERVIÇOS 728X90

29 de maio, de 2025 | 07:00

Análise comportamental em feiras de negócios: a dialética do valor entre a exclusividade e a conexão autêntica

Patrícia Barbosa *

A observação de ambientes de negócios dinâmicos, como as feiras setoriais, oferece insights valiosos sobre as estratégias que moldam a percepção e a construção de valor pelas organizações. Uma recente imersão em um evento de produtos e serviços revelou um contraste marcante entre duas empresas de igual potência institucional, mas com abordagens diametralmente opostas na interação com seu público, provocando uma profunda reflexão sobre as prioridades e a eficácia de suas respectivas filosofias de valor.

De um lado, uma empresa de tradição notória e reconhecida solidez investiu na elaboração de um estande de proporções grandiosas. Sua estratégia de engajamento pautava-se pela exclusividade. No cerne de seu espaço, um ambiente privativo, equipado com iguarias e bebidas premium, era reservado para um grupo seleto: "pessoas conhecidas, de renome, empresários de sucesso e já clientes" – indivíduos com os quais a empresa já cultivava um relacionamento prévio.

Externamente, atendentes ofereciam informações gerais, enquanto a elite desfrutava de uma experiência diferenciada, comunicando que o acesso privilegiado e a consolidação de laços existentes constituíam a principal via de valor. A mensagem era clara: o prestígio e a conveniência são prerrogativas daqueles que já integram o círculo de influência da corporação, reforçando sua imagem de elite e seu poder de atração de negócios de alto escalão.

No entanto, em um notável contraponto, outra empresa, igualmente robusta em sua institucionalidade, optou por um caminho distinto - o da inclusão irrestrita e da conexão genuína. Em seu estande, uma cozinha experimental ao vivo operava ativamente, oferecendo alimentos de alta qualidade e bebida a qualquer visitante, sem qualquer distinção de status ou de prévia relação comercial. O que elevava essa estratégia a um patamar singular era a presença e a participação ativa da própria proprietária da empresa, que pessoalmente coordenava os chefs e interagia diretamente com os presentes.
“O verdadeiro luxo, hoje, talvez não resida no que é restrito, mas na capacidade de uma marca de se conectar com as pessoas”


Essa abordagem não apenas democratizou o acesso a uma experiência de alto padrão, mas também ressignificou o conceito de valor no contexto da feira. A presença da família proprietária, em um ato de transparência e generosidade, desconstruiu as barreiras formais, humanizando a marca de maneira ímpar. O valor, aqui, não era o da escassez ou do privilégio, mas o da autenticidade, da receptividade e da construção orgânica de novos relacionamentos.

Ao abrir suas "portas" (e sua "cozinha") para todos, a empresa transmitia uma poderosa mensagem de confiança em seus produtos e serviços, e, mais fundamentalmente, na crença de que a conexão humana é o alicerce para a expansão de sua rede de valor.

A dicotomia observada instiga uma reflexão sobre a resiliência e a relevância das estratégias corporativas no cenário atual. Enquanto a exclusividade pode solidificar um nicho de mercado e garantir a lealdade de parceiros estratégicos existentes, ela corre o risco de limitar o alcance e a capacidade de adaptação em um ambiente de constante mutação. A inclusão, por outro lado, embora possa demandar um investimento em tempo e recursos humanos, abre portas para a descoberta de novas oportunidades e para a construção de uma base de relacionamento mais ampla, diversificada e, potencialmente, mais resiliente.

Em um mercado crescentemente impulsionado pela experiência do cliente, pela transparência e pela busca por conexões autênticas, a estratégia de acolhimento irrestrito e de engajamento pessoal, como a demonstrada pela segunda empresa, emerge não apenas como um diferencial competitivo, mas como um paradigma de valor que ecoa as expectativas de uma sociedade cada vez mais conectada e, paradoxalmente, ávida por genuínas interações humanas. O verdadeiro luxo, hoje, talvez não resida no que é restrito, mas na capacidade de uma marca de se conectar, de forma significativa e inclusiva, com cada indivíduo que cruza seu caminho.

* Especialista em gestão estratégica de projetos.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário