25 de maio, de 2025 | 07:00
A distância, à distância
Marli Gonçalves *
Tão longe, tão perto, com crase ou sem crase. De longe, vemos o mundo e seus acontecimentos passarem à distância e nos angustiamos como se estivessem colados em nós. Cada dia mais insana essa movimentação, especialmente de fatos sobre os quais, infelizmente, nada podemos fazer ou interferir. Apenas saber que podem estar por perto.O que está fazendo, o que acontece, como está, também estará lembrando desse espaço de separação? Como apaziguar antes de mais nada as emoções e até pressentimentos quando, por exemplo, o que ou quem amamos está longe e medimos a distância, pensamos sobre ela, a percorremos mentalmente, concluímos quão longa essa distância se encontra? A vida digital, a informação democratizada à enésima potência, ajuda essa régua. Dali, daqui, de onde estamos, parados ou diante de telas, como que munidos de telescópios, buscamos saber o que mais nos interessa. Mas sempre vemos muito mais. Inevitável.
Nessa nova vida que experimentamos diariamente há uma explosão de instantâneos, de acontecimentos que quase somos obrigados a acompanhar por intuirmos que nos dirá respeito, senão agora, em um futuro qualquer.
A reflexão vem também de uma pergunta: até quando? Até quando essas guerras despropositadas, essas tréguas apenas perfunctórias, tantas mortes de quem não tem nada a ver com os conflitos de poder e conquistas?
Até quando diariamente ouviremos os perigosos delírios do líder americano e seus amigos? Quem fará algo para pará-lo? Não é preciso conhecer muito da história para sentir o perigo real de (novamente) mais uma nação poderosa estar nas mãos de um homem totalmente descontrolado com ideias, vontades e ordens estapafúrdias, tratando sem respeito governantes de outros países e, pior, sustentando e apoiando apenas os que lhe interessam, senhores das armas, os que podem garantir ainda mais os seus ganhos pessoais e riquezas empresariais hoje, amanhã e sempre. Autoritários, aliás, de todos os matizes, pretendendo fechar o cerco ao nosso redor.
Nessa nova vida que experimentamos diariamente há uma explosão de instantâneos”
Saberemos de tragédias climáticas, de crises econômicas, de crises na saúde, e de roubos e golpes que nos cercam diariamente, os próximos e aqueles mesmo que com os bandidos, ora ora, à distância, invisíveis e bem protegidos, jogando iscas, tentam nos pescar. Bandidos, inclusive, também institucionais, todas as áreas, aos quais alguns até que fomos nós, o povo, que lhes demos vida e espaço.
Todo dia as mesmas promessas e providências que nunca são tomadas. A proteção falha das mulheres ameaçadas. A violência policial filmada em detalhes dizimando jovens, e com tentativas de acobertamento. As crianças atingidas de perto, ou também agora à distância, nas telas de seus jogos, celulares, computadores.
O perigo. Nada mais precisa estar perto para nos atingir, e o que torna mais difícil qualquer defesa, inclusive de nossos próprios dados, imagens e identidades roubados na boa, ninguém sabe como, de onde.
* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo. [email protected] / [email protected]
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