24 de maio, de 2025 | 08:00
Emergência pública respiratória - riscos para a saúde auditiva infantil
Débora Barros *
Ipatinga declarou, no começo do mês de maio, situação de emergência pública respiratória. Infelizmente, esse é um cenário que se repete todos os anos, mas que não podemos tratar como algo normal ou inevitável. Como profissional que atua diretamente na promoção da saúde auditiva infantil, sinto a necessidade de reforçar a gravidade desse momento e os riscos que ele representa para o desenvolvimento das crianças.As doenças respiratórias, como gripes, resfriados e crises alérgicas, são cada vez mais frequentes nesta época do ano. Vejo no consultório, com muita frequência, crianças que chegam com sintomas como ouvido tampado, sensação de pressão, umidade constante no canal auditivo ou quadros recorrentes de otite média. Esses fatores atingem diretamente o processamento das informações auditivas, prejudicando habilidades fundamentais para o desenvolvimento.
Quando a atenção auditiva está comprometida, as consequências não param por aí. Isso interfere no desenvolvimento da fala, da linguagem e, inevitavelmente, na capacidade de aprendizagem. Crianças que enfrentam infecções respiratórias recorrentes podem apresentar atrasos significativos na linguagem oral e dificuldades importantes no rendimento escolar, o que impacta a sua trajetória educacional e social.
Outro aspecto que me preocupa é o risco elevado de desenvolvimento do Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC). Esse é um quadro que afeta a maneira como o cérebro interpreta os sons, mesmo quando a audição periférica está normal. As crianças podem ter dificuldades de compreensão oral, apresentar déficit de atenção, problemas de memória auditiva e queda no desempenho escolar.
Não posso deixar de destacar que alterações auditivas também influenciam o comportamento infantil. Irritabilidade, isolamento social, dificuldades de interação com colegas e resistência ao ambiente escolar são sinais comuns nesses casos. Por isso, reforço sempre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
Quando a atenção auditiva está comprometida, as consequências não param por aí”
Manter a saúde auditiva em dia é um compromisso que precisa ser compartilhado entre as famílias e os profissionais de saúde. Realizar check-ups auditivos periódicos permite identificar precocemente quaisquer alterações e, assim, adotar medidas preventivas ou terapêuticas adequadas, antes que os prejuízos se consolidem.
A audição é a base do desenvolvimento infantil pleno. Ela interfere diretamente no aprendizado, na socialização e no comportamento. Por isso, qualquer obstáculo nesse processo pode comprometer etapas importantes do crescimento e influenciar negativamente a vida escolar e social das crianças.
Neste momento em que Ipatinga vive mais uma emergência respiratória, faço um apelo: redobrem a atenção. Sintomas aparentemente simples como dificuldade para ouvir, pedir para repetir informações ou falar mais alto que o habitual - podem ser sinais de alterações auditivas provocadas por infecções respiratórias.
Reforço também a importância de medidas preventivas: vacinação em dia, acompanhamento médico regular, ambientes bem ventilados e, principalmente, o check-up auditivo anual.
Prevenir agora é, sem dúvida, garantir um futuro mais saudável e pleno para as nossas crianças. Acredito que a atuação conjunta entre família, escola e profissionais de saúde é essencial para proteger o desenvolvimento infantil e assegurar qualidade de vida. Esse é um compromisso que assumo diariamente, na certeza de que cuidar da audição é cuidar do futuro.
* Fonoaudióloga e Neuropsicopedagoga, Especialista em Audiologia, Linguagem e Neurociências
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]