21 de maio, de 2025 | 08:00
Os 100 anos da Dona Zulmira
Antonio Nahas Junior *
No sábado pela manhã, estava eu a comprar pão na padaria do Barra Alegre, quando a simpática dona do estabelecimento - Tatiana - , me convidou para a festa do aniversário da sua Tia. No início, declinei. Mas quando ela disse que sua Tia faria 100 anos, aceitei logo. Afinal, quem consegue ficar neste planeta por um século merece todo o respeito e consideração. Viver é muito perigoso, escreveu Guimarães Rosa. Passar pelas dificuldades que todos temos na vida - dores da infância e da adolescência; privações de toda ordem; mortes; dificuldades financeiras; crises; invejas; ciúmes; contrariedades, não é nada fácil. Enfrentar e vencer todo tipo de doenças; sobreviver a possíveis acidentes não é para qualquer um.E lá fui eu para a festa da Dona Zulmira. Fiquei encantado com o carinho e atenção que toda sua família lhe proporciona. Cumprimentei-a e procurei saber da sua história. Ela nasceu antes de Ipatinga existir, em 1925, na Fazenda Esperança, pertencente ao seu pai, José Anatólio Barbosa. E mora na fazenda até hoje....
Seu pai, muito conhecido e respeitado em todo Vale do Aço, foi vereador em Coronel Fabriciano por dois mandatos consecutivos - 1948 e 1955 - e contribuiu para a fundação do Colégio Angélica, que fica naquela cidade. Segundo seus sobrinhos, participou do júri da cidade de Ferros e deslocava-se de Barra Alegre a cavalo para fazer parte cumprir seu dever de cidadão. E na Fazenda Esperança recebia tropeiros, viajantes, mascates e os padres oriundos de Antonio Dias e Ferros.
À época, Barra Alegre se chamava Água Limpa e se desenvolveu a partir da doação de 50 alqueires de terra doados pelo arcebispo de Mariana à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que deveriam ser cedidos por meio de posse. Por Barra Alegre passava a estrada que ligava os municípios de Mesquita e Coronel Fabriciano. E por ali marchavam os tropeiros e descansavam os viajantes.
E, longe de lá, mas dentro do que futuramente seria o município de Ipatinga, passava a Ferrovia Vitória/Minas, escoando minério de ferro produzido no coração do nosso estado.
Passar pelas dificuldades que todos temos na vida não é nada fácil”
Dona Zulmira presenciou a transformação de Barra Alegre em distrito pertencente a Antônio Dias em 1948. Depois Coronel Fabriciano emancipou-se de Antônio Dias. A partir deste momento, inicia-se a construção da Usiminas, o que leva, alguns anos depois, em 1964, à emancipação de Ipatinga. Dedicou sua vida a apoiar seus nove irmãos e nunca se casou. E, até hoje, não toma remédio algum.... Que saúde.
O MUSEU VIVO - E, conversando com seus sobrinhos e afilhados, fiquei sabendo da existência do Museu Vivo de Ipatinga, que guarda e preserva riquezas que conta a história de personagens, muitas vezes anônimos, das cidades da região,
Para minha surpresa, o projeto do museu começou ainda nos anos 1980, por iniciativa do baiano Jeová Aguiar. Desde então, o museu já reuniu mais de 10 mil peças referentes à história do Brasil e local.
É vivo porque procura abrigar exposições, eventos, encontros entre pioneiros, reforçando seu laço com a comunidade. Pretende ser uma ferramenta cultural e educacional e contribuir para a construção do nosso futuro. E no próximo domingo, dia 25, vai ter o já famoso café com rapadura, evento mensal, gratuito, homenageando o ex-craque Gomes, orgulho do Vale do Aço.
OS CENTENÁRIOS DE IPATINGA - Observando a pirâmide populacional de Ipatinga, vemos a mudança do perfil da nossa população. A taxa de natalidade caiu; a esperança de vida aumentou. Nossa pirâmide hoje parece na verdade uma pera: Fininha no início: gordinha no meio e afinando pra cima. A população é bem distribuída pelas faixas etárias intermediárias, mas a maior parte fica entre 15 e 44 anos.
Nossos centenários merecem ser conhecidos e reconhecidos, como fazem diversos países do mundo”
Na parte de cima, ela vai afinando bastante, sobretudo a partir dos oitenta anos. E, entre 90 e 99 anos, existiam em Ipatinga em 2022, um total de 907 pessoas. E lá em cima, com 100 anos ou mais, existem 33 centenários: 10 homens e vinte e tres mulheres.
É um orgulho para nossa cidade termos estes tesouros vivos, que preservam nossa história e nossa memória. Sua existência revela a melhoria das condições de vida do Vale do Aço: saneamento básico; melhoria serviços de saúde públicos e gratuitos. Mostra também a evolução da medicina, que hoje alerta e nos previne e trata das doenças típicas da nossa era: colesterol alto; diabetes; ansiedade e depressão; obesidade; sedentarismo. Vivemos mais tempo e bem melhor.
Nossos centenários merecem ser conhecidos e reconhecidos, como fazem diversos países do mundo que homenageiam cada um deles, oferecendo-lhes o atenção e carinho da sociedade.
Ah.. e mais um detalhe. Antes de sair, fui apresentado à irmã de D. Zulmira, Zélia Barbosa. Lúcida, falante, andando para todo lado. E com 101 anos....
* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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