20 de maio, de 2025 | 07:00

Como a taxa Selic atinge a economia e o mercado imobiliário

João Teodoro *

Selic é um acrônimo (ou sigla) que sintetiza Sistema Especial de Liquidação e Custódia. O sistema, no caso, possibilita às instituições financeiras comprarem e venderem títulos do Tesouro Nacional. A Selic é a taxa percentual de juros que o governo paga para quem compra seus títulos. Se alguém compra Títulos do Tesouro, na prática, está emprestando dinheiro ao governo. Ao emprestar dinheiro de alguém, o governo assume dívida que, algum dia, será paga com a taxa de juros definida pela Selic. A soma desses empréstimos é a nossa dívida pública.

É por isso que, quanto mais alta é a Selic, mais juros o governo tem de pagar por sua dívida. Obvio, com o dinheiro arrecadado em tributos, que nós pagamos. Trata-se de círculo vicioso: se compramos Títulos públicos, recebemos altos juros (Selic) que, na verdade, nós mesmos pagamos por meio dos impostos. A taxa Selic é decidida pelo Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central que, para isso, se reúne a cada 45 dias. A definição da Selic baseia-se em vários indicadores econômicos, porém o que mais a influencia é a taxa de inflação.

A elevação inflacionária, por sua vez, é provocada por vários fatores, como o aumento descontrolado do consumo e dos preços. Porém os principais são a emissão de moeda e de Títulos públicos para cobrir despesas do governo, inclusive o prejuízo de empresas estatais e rombos, como o dos aposentados do INSS. Quando a inflação sobe desordenadamente, a ferramenta mais imediata de que o Banco Central dispõe para tentar controlá-la é o aumento da taxa básica de juros. Ou seja, da Selic. Mas seus efeitos na economia podem ser catastróficos.
“Quanto mais alta é a Selic, mais juros o governo tem de pagar por sua dívida”


A Selic serve como indicador referencial para as taxas de juros de todas as operações financeiras no país. Não é diferente com o mercado imobiliário, que sofre com seus reflexos. Depois de chegar a 2% em fevereiro de 2021, a Selic está hoje em 14,75%, o que eleva a taxa de juros para financiamentos pelo SBPE de 11% a 12%. Embora essa circunstância não fuja muito dos padrões do Brasil, ela pode afastar, ainda que temporariamente, potenciais compradores de classe média, pela diminuição da capacidade de comprometimento de renda.

A Selic vem aumentando progressivamente desde o histórico 2%, no início de 2021, quando terminou o ano em 9,25%. No ano de 2022, fechou em 13,75%. Em 2023, a taxa refluiu para 11,75%, caindo até 10,50% em julho de 2024. Desde então, recomeçou a crescer até chegarmos aos 14,75% de hoje. Sendo assim, verifica-se um processo de acomodação na mente dos brasileiros. De modo que um ou dois por cento a mais ou a menos passa quase que despercebido. Talvez por isso o mercado imobiliário brasileiro tem-se mostrado tão resiliente.

No entanto estudo do Instituto Cidades Responsáveis, publicado por Rodrigo Rocha, afirma que, quem comprou imóvel na planta para financiar parte dele depois de pronto, corre sério risco de rescisão contratual. Segundo Rocha, a prestação mensal de um mesmo financiamento, em meados de 2021 (Selic a 5,5%), saltaria de R$ 3.966,00 para R$ 5.425,00 nos dias de hoje; a renda necessária subiria de R$ 13.220,00 para R$ 18.086,00. Apesar do longo intervalo considerado (4 anos) e da desconsideração da inflação do período, é preocupante!

* Com atuação no mercado imobiliário como Corretor de Imóveis desde 1972, João Teodoro é formado em Gestão de Negócios Imobiliários, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, além de ser advogado civil e trabalhista. Presidente do Sistema Cofeci-Creci.

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