16 de maio, de 2025 | 08:00
Tecnologia não pode ser aliada da violência
Ailton Cirilo *
A recente sanção da lei que aumenta a pena para casos de violência psicológica contra a mulher, quando essa violência se utiliza de inteligência artificial ou outros recursos tecnológicos, é uma resposta necessária diante de uma realidade alarmante. O uso de ferramentas digitais para manipular imagens, áudios e informações pessoais com o objetivo de humilhar, controlar ou perseguir mulheres tem crescido de forma preocupante.Estamos diante de uma nova forma de agressão, muitas vezes silenciosa, mas com potencial devastador. A violência psicológica, por si só, já é cruel. Quando ganha força no ambiente digital, ela se espalha com rapidez, atinge milhares de pessoas e agride de forma permanente a dignidade da vítima. Os dados mostram isso com clareza: só em 2024, o Ligue 180 já recebeu mais de 100 mil denúncias relacionadas a esse tipo de crime.
A lei, ao prever o aumento da pena quando há o uso de IA, representa um passo firme para conter essa prática perversa. Ela reforça o papel do Estado na proteção das mulheres e atualiza o Código Penal frente aos desafios do nosso tempo. Também sinaliza que o ambiente virtual precisa ser regulado com responsabilidade não pode servir de escudo para agressores.
"Quando ganha força no ambiente digital, ela se espalha com rapidez, atinge milhares de pessoas"
É importante lembrar que o uso mal-intencionado da tecnologia pode produzir danos irreparáveis. A manipulação de imagens e áudios, a criação de conteúdos falsos e ofensivos e a divulgação desses materiais têm o poder de destruir reputações, afetar empregos, famílias e a saúde mental das vítimas. O impacto psicológico de um ataque virtual pode ser tão devastador quanto uma agressão física e, em muitos casos, mais difícil de reparar.
Além disso, o crescimento de grupos que promovem o ódio contra mulheres, como revelado em estudos sobre a chamada machosfera”, exige uma resposta firme do poder público e da sociedade civil. Plataformas digitais precisam ser responsabilizadas quando se tornam coniventes com esse tipo de conteúdo. Monitorar, retirar do ar e impedir a monetização de discursos misóginos são medidas urgentes para conter essa onda de violência.
É urgente que a sociedade compreenda que a violência digital é real e tem consequências. Cabe às autoridades garantir meios para investigar e punir esses crimes, mas também promover campanhas educativas, estimular a denúncia e proteger as vítimas. Combater a violência psicológica com o uso da tecnologia é um dever coletivo, que começa com leis firmes, mas só se concretiza com a vigilância e a atuação de todos os setores da sociedade.
A tecnologia deve ser usada para aproximar, informar e construir nunca para ferir. E o agressor que se esconde atrás de uma tela precisa saber: a lei está de olho, e a punição virá.
* Especialista em Segurança Pública
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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