01 de maio, de 2025 | 08:45

Dia do Trabalhador: especialistas apontam que jovens rejeitam CLT e buscam autonomia no trabalho

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Psicólogo defende que o trabalho não é visto pelos jovens apenas como um meio de sobrevivência, mas como uma forma de realização pessoalPsicólogo defende que o trabalho não é visto pelos jovens apenas como um meio de sobrevivência, mas como uma forma de realização pessoal
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
Nesta quinta-feira (1/5), é celebrado em todo o território nacional o Dia do Trabalhador. No simbólico 1º de maio de 1943, Getúlio Vargas, então presidente, sancionou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que até hoje representa um marco para os direitos trabalhistas no Brasil.

No entanto, o modelo de empregabilidade passou por transformações no Brasil e no mundo, e a CLT, por diversas vezes, tem sido preterida em favor de outras formas de trabalho, sobretudo entre os jovens. Uma pesquisa promovida pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA, revelou que 30% dos jovens brasileiros entre 18 e 27 anos desejam abrir seu próprio negócio. Em contraste, apenas 11% têm como meta o trabalho sob regime CLT.

Segundo o mesmo estudo, 42% dos jovens estão empregados com carteira assinada, mas muitos demonstram insatisfação com esse modelo, buscando formas de trabalho mais independentes.

William Passos, coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações, vinculado ao Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – campus Ipatinga, defende que as novas gerações possuem mais opções de inserção na vida produtiva do que as anteriores.

“Hoje nós já temos um leque maior de opções com a economia de plataforma, com a internet, a inserção da tecnologia, opções mais amplas de formas de trabalhar, além da própria centralidade do trabalho na vida das pessoas”, argumenta.

Além disso, há uma valorização crescente em relação ao bem-estar e à satisfação pessoal. “Há uma propensão menor a permanecer em um emprego no qual não se está satisfeito, o que representa uma mudança de comportamento em relação às gerações anteriores”, explica William Passos. “Também precisamos levar em consideração as transformações provocadas pela disseminação da internet, o surgimento da economia de plataforma, mudanças no próprio capitalismo e, ainda, a pandemia, que alterou o comportamento das pessoas e revelou formas mais flexíveis de trabalhar. A partir disso, muitos passaram a aderir a alternativas à CLT”, continua.

Realização pessoal
Eustáquio Souza Junior, coordenador do curso de Psicologia do Unileste, defende que o trabalho não é visto pelos jovens apenas como um meio de sobrevivência ou de aquisição de bens materiais, mas como uma forma de realização pessoal e de alcançar um propósito com impacto social.

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Geógrafo William Passos traça uma análise sobre os atrativos do empreendedorismo e PJGeógrafo William Passos traça uma análise sobre os atrativos do empreendedorismo e PJ

“Hoje as pessoas estão priorizando a satisfação imediata, e não postergada. O jovem, ao pensar na escolha profissional, olha para aqueles que o antecederam, vê o volume de trabalho, de comprometimento, de tempo investido, e nem sempre se identifica com esse modelo. Alguns precisarão fazer escolhas forçadas dentro do que está disponível, mas uma parcela um pouco mais privilegiada poderá rejeitá-lo. Esse jovem procura, em sua atividade profissional, mais propósito, mais sentido, mais capacidade de mobilizar as coisas na direção que ele acredita ser importante”, defende o professor.

Uma pesquisa da plataforma Caju indica que 56% dos profissionais da geração Z considerariam pedir demissão para manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Dificuldade em absorver mão de obra
Ainda segundo os especialistas ouvidos pelo Diário do Aço, a dificuldade do mercado formal em absorver toda a mão de obra disponível abre espaço para modalidades de trabalho alternativas.

“Temos uma oferta menor de empregos em determinadas áreas. Isso faz com que as pessoas se movimentem no mercado de trabalho em busca de alternativas. E, sim, hoje há uma valorização maior em relação à satisfação com o trabalho”, considera William.

“Essa rejeição ao modelo celetista ocorre porque não há lugar para todos. Existe uma grande competição e também um estímulo à individualização das responsabilidades, o que contribui para essa insuficiência do mercado em absorver a todos, criando uma saída estratégica dentro do nosso modo de produção”, complementa Eustáquio.

Flexibilização
Para William, há também uma disposição menor para permanecer em um trabalho em que o chefe não valoriza o funcionário. Por outro lado, em muitos casos, observa-se um vínculo mais frágil com o ambiente de trabalho, o que gera menor comprometimento do empregado.

Eustáquio segue linha de pensamento semelhante à do geógrafo. “Esse desejo de empreender está relacionado a esse distanciamento em relação ao que o trabalho celetista oferece. Você precisa cumprir horário, bater metas, responder a uma chefia imediata, observar os valores da empresa. Enfim, há todo um ajustamento que o trabalhador CLT precisa fazer para sobreviver no mundo corporativo. Isso contrasta com a ideia de empreendedorismo, em que eu defino um produto, coloco minha identidade nele, identifico uma demanda de mercado e divulgo nas redes sociais”, explica o professor. Para ele, a ideia de autonomia, criatividade, possibilidade de exercer a individualidade e, eventualmente, alcançar sucesso com isso, é bastante sedutora para os jovens.

Direitos
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Tarcísio Anício Pereira, especialista em Direito do Trabalho, alerta sobre a falta de diretos garantidos em empregos que não são CLTTarcísio Anício Pereira, especialista em Direito do Trabalho, alerta sobre a falta de diretos garantidos em empregos que não são CLT

Se, por um lado, o empreendedorismo e os meios informais de prestação de serviços oferecem maior flexibilidade, por outro, podem restringir direitos e segurança trabalhista.

“O prestador de serviço contratado como pessoa jurídica também tem responsabilidades fiscais e tributárias, como a emissão de notas fiscais e o pagamento de tributos, além de cuidar da burocracia da própria empresa. Pode ser necessário contratar um contador. Além disso, como não há vínculo de emprego, isso pode gerar insegurança e instabilidade financeira. Em regra, o prestador de serviços na forma de pessoa jurídica assume os riscos da sua atividade, inclusive em relação a questões jurídicas”, observa Tarcísio Anício Pereira, especialista em Direito do Trabalho e docente do curso de Direito do Unileste.

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