30 de abril, de 2025 | 08:00

Laudato Si: rumo à ecologia integral

Antônio Nahas Júnior *

O Papa Francisco deixou não apenas aos cristãos, mas à toda humanidade um legado extraordinário: sua Encíclica Laudato Si - Louvado Sejas -, onde reflete sobre a relação entre a humanidade e o meio ambiente.

Embora as encíclicas sejam dirigidas ao público católico, Laudato Si vai muito além disso: fala da postura da humanidade perante a natureza e aponta caminhos para equacioná-la. A “casa comum” necessita de muitos cuidados.

Afirma que esta preocupação não pode ser exclusiva dos católicos. Abrange diversas outras religiões, ressaltando a importância do Arcebispo da Igreja Ecumênica de Constantinopla e leste europeu:
"Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando comprometem a” ..."integridade da terra e contribuem para a mudança climática"..."quando contaminam as águas; o solo; o ar"..."tudo isto é pecado".

Na Encíclica, o Papa lança um convite para renovação do diálogo sobre a maneira como a humanidade está a construir o futuro do Planeta. E arremata:
"Espero que esta Carta Encíclica nos ajude a compreender a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente".

Recolhe informações de fontes e sistematiza lançando um diagnóstico do que está acontecendo, com os pontos abaixo:
1 – Poluição: geração de resíduos e cultura do descarte, onde frisa os efeitos da geração de poluentes atmosféricos e resíduos industriais que causam danos permanentes à saúde e ao meio ambiente. E adverte: estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, que afeta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que se convertem rapidamente em lixo.

2 - O clima como bem comum: onde adverte sobre a importância da humanidade - e não apenas os cristãos - tomar consciência sobre a necessidade de mudança do nosso estilo de vida - produção e de consumo -, para combater o aquecimento global ou as causas humanas que o produzem e acentuam.

3 - A questão da água: a encíclica ressalta a vitalidade da água para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. A escassez de água já é notada em países africanos, provocando aumento do preço dos alimentos, fome e emigração. Uma tragédia se anuncia num futuro próximo, prevendo-se aguda escassez de água nas próximas décadas.

4 - Perda da biodiversidade: a devastação de bosques e florestas implica na perda de espécies, anualmente desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, por nossa causa, o que não temos direito de fazer. Não apenas mamíferos ou repteis desaparecem, mas também fungos, algas, vermes, pequenos insetos, micro-organismos.

Cita explicitamente a floresta Amazônica, repleta de biodiversidade, cuja devastação servirá apenas aos interesses das grandes corporações.

5 - Deterioração da qualidade de vida humana e a degradação social: "Muitas cidades são estruturas que não funcionam, gastando energia e água em excesso". E mais: "não é conveniente aos habitantes deste planeta viverem submersos de asfalto, vidro e metais, privados do contato com a natureza", aponta a Encíclica, num toque de genialidade.
"Espero que esta Carta Encíclica nos ajude a compreender a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente"


E, por fim, somos chamados a refletir sobre a desigualdade planetária, realçando a falta de consciência dos países desenvolvidos sobre os problemas que afetam os excluídos. "A desigualdade afeta países inteiros e obriga a pensar numa ética para relações internacionais". Chama à razão os países desenvolvidos, sobretudo sobre os efeitos das mudanças climáticas na economia dos países africanos.

Ecologia integral
A partir deste diagnóstico, a Encíclica navega por um tema delicado: a relação da civilização ocidental com a natureza: o direito à propriedade privada e a postura do ser humano perante a casa comum.

Afinal, os bens naturais pertencem a todos e sua exploração deveria servir a toda a humanidade e não apenas a seu proprietário. "Não é segundo o desígnio de Deus gerar este dom de modo tal que seus benefícios sirvam só a alguns poucos. "..."O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos".

A Encíclica repassa pontos muito importantes como tecnologia; criatividade e poder e a crise do Antropocentrismo, onde discute-se a relação do ser humano com a natureza. Afinal, não somos seus donos, mas, pelo contrário, seus servos.

Tudo isto para apontar uma direção técnica, científica e humana: A Ecologia Integral, que abranja os aspectos ambientais; econômicos e sociais, integrando as relações dos sistemas naturais com os sistemas sociais. Trata-se de uma complementação ao conceito de sustentabilidade sócio ambiental, realçando inclusive a importância do patrimônio histórico; artístico e cultural de cada comunidade.

E para dar unidade a esta doutrina tão rica, Laudatio Si converge para o Princípio do Bem Comum - o conjunto das condições da vida social que permitem ao indivíduo e ao grupo social viver de forma digna e respeitosa.
Um documento maravilhoso. A ser discutido e transformado em doutrina para países, empresas, associações comunitárias; igrejas; templos. E para nós mesmos.

Muito obrigado, Papa Francisco. Sua contribuição à humanidade é maravilhosa e eterna.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.

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