29 de abril, de 2025 | 07:00

Fuzuê no carnaval...

Nena de Castro *

Numa certa cidadezinha mineira, o povo festejava “de grande” o carnaval. Havia gente fantasiada de tudo quanto é jeito, e naqueles três dias os foliões se acabavam de tanto pular, sambar e festejar. O frege acontecia nas ruas por onde a bandinha de maestro Tilim Gaudêncio passava, indo depois para a praça onde tocava até o amanhecer. Totõe Garapa, dono da maior venda de secos e molhados do local, deixava o comércio por conta da mulher, Dona Cocota e caía na gandaia. Sua fantasia predileta era uma batina de padre e com ela, o comerciante “benzia” os foliões a noite inteira, enquanto “entornava” copos e copos de cerveja e pinga. Mas o seu divertimento maior era simular um enterro, evento que provocava risadas: um amigo era o “defunto” e outros quatro bebuns carregavam o caixão onde colocavam litros de pinga e copos; o falso padre ia benzendo; paravam, fingiam chorar, discursavam sobre as qualidades do “defunto” e prosseguiam, bebendo em sua homenagem. Em certo momento, o “morto” se assentava no caixão e pedia pinga. Bebia e se deitava de novo, mortim da silva, para gáudio da galera.... Contudo, naquele ano, causa de quê estava muito ocupado na venda, Totõe Garapa não deu conta de comprar o caixão. Lá da praça da igreja que ficava num alto, mandou o amigo Cirilo Bodé, que fazia o papel do defunto, descer para comprar a urna funerária, enquanto ele se abotelava no bar defronte que pertencia a Juca Cipó. Ocorre que Cirilo demorou pra caramba e enquanto isso Totõe tomava todas, espiando de minuto em minuto se o amigo chegava com o caixão. Já bem “mamado”, Totõe viu afinal, um caixão sendo conduzido rua acima, por algumas pessoas. Riu feliz, antecipando a farra e aguardou. Quando o féretro chegou defronte ao bar, Totõe pulou no meio da rua, fez parar o cortejo e pensando que Cirilo já estava lá dentro, deu um tapa na tampa do caixão e gritou: - SAI AÍ DE DENTRO, SEU FILA-DA-PUTA! Fez-se um silêncio consternado, depois começaram todos a falar, reclamando da falta de respeito com o finado Zoca Barbeiro falecido na véspera! Zé Purim, filho do de cujus, deu um soco no “padre” no que foi seguido por outros. A turma da deixa-disso conseguiu retirar o pobre Totõe Garapa da confa, todo relepado e espandogado, batina em tiras, que assim escapou de ser linchado! Pois antão, nunca mais Totõe Garapa quis saber de carnaval, indo todo ano para a fazenda da sogra, dona Pequetita, respirar ar puro e descansar. E nada mais digo, a não ser da minha gratidão por ter vivido para conhecer o Papa Francisco, um ser humano da maior qualidade que amava os pobres e deu ao papado uma dimensão do verdadeiro reino de Jesus! Salve, Jorge!

* Escritora e encantadora de histórias.

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