09 de abril, de 2025 | 17:45

Pesquisa mostra Clarice Lispector como uma mulher por trás da pose

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Dissertação na UFMG com base em cartas da escritora revela imagem diferente da difundida entre os leitoresDissertação na UFMG com base em cartas da escritora revela imagem diferente da difundida entre os leitores
Correspondências de Clarice Lispector para suas irmãs e para amigos como Fernando Sabino e Lygia Fagundes Telles revelam um lado menos conhecido da escritora: alegre, cuidadosa e, às vezes, chateada com a crítica literária, embora manifestasse publicamente que não se preocupava com as opiniões sobre sua obra.

As cartas, já publicadas em vários livros e disponíveis em manuscritos do acervo do Instituto Moreira Salles, são analisadas na dissertação de mestrado “Não se pode andar nu: pose e artifício na correspondência de Clarice Lispector”, desenvolvida pela pesquisadora Raynara Voltan no Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG. O título faz referência a uma frase do livro “Água viva”, que diz: “Não se pode andar nu, nem de corpo, nem de espírito”.

A análise abrange três conjuntos de cartas. Além das trocadas com pessoas íntimas, que frequentemente abordam as críticas literárias, há correspondências dirigidas aos chamados “homens de letras”. “São literalmente homens, que eram editores e tradutores, falando da obra dela”, explica a pesquisadora. O terceiro conjunto reúne cartas com caráter ficcional exagerado, classificadas como camp - conceito discutido pela escritora estadunidense Susan Sontag, cuja obra faz parte do referencial teórico da pesquisa.

Política da pose
Outro conceito trabalhado no estudo é o de “pose”, a partir do ensaio “A política da pose”, da escritora e crítica literária argentina Sylvia Molloy. “Ela diz que muitos autores do início do século XX vão utilizar dessa política, geralmente para defender seu projeto artístico. Molloy faz referência a Oscar Wilde [escritor e poeta irlandês perseguido por ser gay] e Alejandra Pizarnik [poeta, ensaísta e tradutora argentina], mas podemos expandir isso, principalmente, para a literatura de autoria feminina, para autoras latino-americanas: como a pose é uma representação política”, detalha Voltan.

No caso de Clarice Lispector, a imagem séria pela qual ficou conhecida pode representar uma pose que também denota um posicionamento político. “A Lygia Fagundes Telles conta que a Clarice sempre falava para não rir, porque os homens não respeitam mulheres que riem. Nas fotos, a Clarice é sempre séria, são poucas as fotos em que ela sorri. A pose está atrelada a isso”, revela a pesquisadora.
Um dos resultados do estudo foi a identificação de máscaras (ou personas) usadas pela escritora, para, por exemplo, responder ao renomado crítico literário Álvaro Lins, que viria a se tornar membro da Academia Brasileira de Letras. “A crítica que ele faz é sobre o livro, mas também sobre a autora. Clarice se defende, quando diz que nunca leu Virginia Woolf - ele sempre falava que ela era uma grande cópia da escritora britânica”, conta Voltan. (Com Assessoria de Imprensa da UFMG)
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