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26 de março, de 2025 | 08:00

8 de janeiro: Penas elevadas demais geram rancor e desejo de vingança

Antonio Nahas *

Quando vejo as penas aplicadas à infantaria ligeira enviada à linha de frente sem preparo algum pelo bolsonarismo, em 8 de janeiro de 2023, sempre fico a pensar: as condenações estão bem calibradas? Não está havendo exagero na dosimetria das condenações?

A primeira coisa que me vem ao pensamento é meu próprio passado. Fui preso político à época da ditadura. Fui julgado dentro da Lei de Segurança Nacional por um Tribunal Militar, composto por um juiz civil e dois outros militares, sem formação jurídica alguma. Estávamos presos enquanto o julgamento ocorria. Não havia jurados. Apenas depoimentos, sentença.

Nestas circunstâncias, fui condenado a seis anos de prisão, dos quais cumpri dois, na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador - Bahia. Minha pena foi leve porque não peguei em armas, nem assaltei bancos nem feri ninguém. Minhas tarefas eram outras.

É certo que havia uma pena muito maior que nos foi aplicada: a tortura; os espancamentos; os choques elétricos; o frio; a solidão; a fome, por meses a fio. E houve também os que nem foram julgados, pois desapareceram no caminho.
Mas não podemos construir nossa visão de futuro com os olhos voltados no passado, nem com sentimento de vingança. Nossa perspectiva sempre deve ser unir o país e fazer justiça.

A democracia deve ser defendida com firmeza. Quem não a respeita e a ameaça, que seja punido e afastado da vida política do país. Isto não se discute.

Porém, o que discutimos é a divisão de responsabilidade entre os mandantes e a massa de manobra que foi à Brasília.
Foi gente de Ipatinga para Brasília naquele fatídico dia. De ônibus alugado, não se sabe por quem. Com conforto, alimentação, alojamento. Chegaram a Brasília e não foram incomodados pela Polícia. Cantaram; marcharam; tiraram fotos; postaram nas redes sociais. Deixaram provas irrefutáveis dos seus crimes contra o patrimônio. Invadiram os prédios; depredaram o que encontraram. Fizeram tudo aquilo como se estivessem numa atividade recreativa, num divertido programa de domingo.
“Não podemos construir nossa visão de futuro com os olhos voltados no passado, nem com sentimento de vingança”


Agiram com a segurança de que tinham cobertura e proteção dos seus líderes, os quais, comodamente, passeavam pelo exterior. Ao que parece, estavam embalados pela ideia de que algo maior iria acontecer e que sairiam vencedores da guerra que estava sendo travada.

Hoje, pelas informações que flutuaram na imprensa, vemos que a batalha, digamos assim, do 8 de janeiro, foi travada quando seus mentores já haviam desistido da guerra, pois não conseguiram os apoios necessários para vencê-la. E o Lula já era Presidente.

E deixaram seus liderados mal informados, achando que a guerra estava vencida. Daí a liberdade e euforia observada no momento, por parte daqueles ativistas.

Devem ser penalizados? Sim. Pagar pelos prejuízos e cumprir penas relativamente leves, para que não tenham suas vidas destruídas. E que os líderes, os mandantes, que jogaram seus correligionários numa aventura perdida, indo passear enquanto a luta acontecia, sejam condenados a penas exemplares e banidos do jogo democrático. E cumpram suas penas no Brasil, antes que fujam para os Estados Unidos, diferentemente dos seus correligionários de 8 de janeiro, que não possuem este privilégio.

Para servir como lição e ajudar a unir o país.

O julgamento dos mandantes começa nesta terça-feira, no STF. Que seja rápido.

E apenas sua marcação já apresenta efeitos:
Tarcísio Ferreira, governador de São Paulo, político bolsonarista sensato e inteligente, recentemente, elogiou as urnas eletrônicas, dizendo que “O Brasil vem se tornando referência em termos de velocidade, de apuração, de tecnologia. Ou seja, muitos países têm que olhar para o Brasil e ver o que está sendo feito aqui”.

É uma evolução importante da direita brasileira, essencial para que a democracia brasileira funcione, abarcando todas as correntes políticas que a respeitem. Sem ódio e sem medo, como diria o grande político pernambucano Marcos Freire.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Comentários

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Janice Petes

28 de março, 2025 | 16:36

“Concordo plenamente. Houve pessoas que devem ter ido a troco de um passeio de domingo à Brasília,”

Joao Costa Aguiar Filho

28 de março, 2025 | 06:39

“Toninho, corroboro com o seu texto ao afirmar que penas altíssimas, com características de vingança contra militantes, não promovem mudanças. Pelo contrário, elas acabam por embrutecer tanto ofendidos quanto ofensores. Além disso, em relação ao 8 de janeiro, há o risco de tais medidas não alcançarem aqueles que realmente arquitetaram os eventos. Para esses, a lei deve ser implacável.”

Gildázio Garcia Vitor

27 de março, 2025 | 12:18

“Obrigado pelo retorno! Conheço, por admiração e inveja, quase todas as histórias dos brasileiros que lutaram contra a Ditadura, algumas não estão e, provavelmente, nunca estarão nos livros.
Para mim, as suas lutas, têm a mesma importância das lutas do Marighela, do Lamarca, da Dilma, do Zé Dirceu, da Inês Etienne, do Frei Tito, da Miriam Leitão, do Gabeira, dos Irmãos Sena, de Caratinga, do Frei Beto etc., etc , etc..”

Antonio Nahas

27 de março, 2025 | 06:30

“Prezado Gildazio: obrigado pelo comentário. Fico feliz por você ter conhecimento da
Minha história.
Com
Relação ao 8 de janeiro tentei apenas separar responsabilidades entre
Mandantes e o sedutores.”

Gildázio Garcia Vitor

26 de março, 2025 | 20:18

“Camarada Toninho, crimes contra o Estado Democrático (e) de Direito não devem ser comparados nem com os crimes hediondos, isto porque, quando as ditaduras, de esquerdas ou de direitas, se instalam, crimes horríveis contra a humanidade são comedidos, como, por exemplo, ocorreu na ex-URSS (1922-19991) e no Brasil (1937-1945 e 1964-1985), sendo vossa senhoria uma vítima da Ditadura Militar, como também foram meus queridos Companheiros Robinson Ayres e Maura Gerbi.
A primeira vez que li algo sobre você e a sua luta contra a ditadura e a favor da Democracia, acredito que foi no livro dos maravilhosos Dom Paulo Evaristo Arns, Jaime Wright
e Henry Sobel: "Brasil:Nunca Mais". "A Queda- Rua Atacarambu, 120" é um excelente livro.”

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