25 de fevereiro, de 2025 | 11:00
''As casas contam história'': projeto de alunos de Arquitetura resgata patrimônios históricos de Timóteo
Professores e alunos do 5º período de Arquitetura e Urbanismo do Cefet-MG campus Timóteo participam de um projeto de iniciação científica chamado As casas contam história”. O projeto visa mapear e catalogar as residências que foram construídas durante a fase de implantação da siderúrgica Acesita (atual Aperam), ainda existentes no município. Essas edificações faziam parte de um programa de criação de infraestrutura que estimulasse a vinda e permanência de operários na empresa. As casas contam história” registra não apenas a localização física dessas casas, mas também informações sobre sua história, arquitetura e contexto social. É possível conferir o trabalho por meio do site Casas contam história.
O professor Fábio Azevedo pontuou que o projeto visa criar uma conscientização da população sobre o que é o patrimônio histórico arquitetônico de Timóteo. Mais do que conscientizar, ele também visa sensibilizar os habitantes da cidade de que sua história deve ser preservada e que quando falamos em patrimônio histórico, não são apenas grandes edifícios ou a arquitetura do período colonial. Cada cidade tem seu patrimônio arquitetônico e a casa dos moradores são parte dessa história, principalmente se tratando de uma cidade industrial. Essas casas contam a história das pessoas, e por consequência a história da cidade”, destacou.
Fábio detalhou que o projeto originou-se de dois episódios. Comecei a me interessar em fazer alguns croquis das casas mais antigas de Timóteo, que considero com cara de casa. Ao mesmo tempo em que fazia esses registros, observava que em muitos casos elas corriam risco de desaparecer, até o dia em que uma situava no Centro Norte, que foi sede de uma fazenda e depois passou a ser o primeiro hotel da cidade - Hotel Acesita, foi demolida sem qualquer respeito à história, ao seu patrimônio arquitetônico. Nesse momento pensei que: se uma edificação que a comunidade tinha um consenso de que era patrimônio histórico foi abaixo, imagina o que vai acontecer com as edificações que a comunidade não está, ainda, sensibilizada do seu valor histórico? Diante disso, elaborei um projeto de iniciação científica, que foi aprovado no Cefet e, junto aos alunos e outros colegas, iniciamos os trabalhos”.
A partir de então, iniciamos a catologação das edificações, ainda existentes dos bairros construídos pela Acesita em seu período de implantação e tomando alguns depoimentos de moradores sobre o que eles atendem de patrimônio histórico e a sua percepção a respeito das casas onde moram. Isso gerou um mapa, georreferenciado, que consta a fotografia e uma ilustração em aquarela e canetas marcadores, das fachadas dessas casas, produzido um inventário artístico e histórico”, acrescentou o professor.
Ele também complementou que o projeto serve como um inventário artístico e histórico de fácil acesso, que contribui para sensibilizar a população sobre a importância de preservar o patrimônio histórico do Vale do Aço, marcado pela implantação das indústrias siderúrgicas".
História
A estudante Larissa Sírio Coelho Penna destacou que é perceptível que o registro da arquitetura da década de 1960, como as observadas em cidades pequenas, acaba se perdendo. Principalmente agora que tem uma especulação imobiliária aqui na região, observamos que as fachadas das casas estão se descaracterizando e essas residências estão sendo demolidas para prédios ou construções mais modernas tomarem espaço”, pontuou. A discussão não é para pensar se isso é certo ou errado, mas a nossa intenção foi realmente fazer uma catalogação e um registro por meio de desenhos dessas fachadas que estão com esse design preservado, para poder deixar marcado para o futuro”, disse.
Rodamos a cidade de Timóteo toda, onde catalogamos as casas que tinham ainda as fachadas preservadas e fizemos entrevistas com moradores que conseguimos encontrar. Infelizmente muitas delas estão até abandonadas. As entrevistas são anônimas para preservar a identidade da pessoa. Eu acho que muito do título do projeto, que é As casas contam história vem disso, sobre essa questão de enxergar a arquitetura da própria cidade como um patrimônio que conta uma história. Às vezes, a gente acha que não, mas numa casa com essa, morou um grande empresário da cidade, ou ocorreu alguma coisa relevante. E, às vezes, nem isso. Talvez a história ali da família já seja o suficiente para considerar uma casa um patrimônio, não só municipal, mas de importância para a região toda”, acrescentou Larissa.
Experiência
A aluna Maria Júlia Cotta enfatizou que sua experiência foi incrível. Pude visitar diversas residências e conhecer mais sobre a cidade e sobre as pessoas que fundaram o local e o legado deixado em cada casa visitada. Cada morador sabia um pouco ou tinha um relato interessante para agregar. O projeto é enriquecedor, faz a gente ter outro olhar para a arquitetura, e me fez enxergar cada casa através do olhar de quem mora, o que traz um significado muito maior”, concluiu.
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