18 de fevereiro, de 2025 | 08:35

No Dia Internacional da Síndrome de Asperger, médico destaca que termo está em desuso

Divulgação
Níveis de autismo estão relacionados com a gravidade do transtornoNíveis de autismo estão relacionados com a gravidade do transtorno

No dia 18 de fevereiro celebra-se o Dia Internacional da Síndrome de Asperger, entretanto, essa nomenclatura já não é utilizada entre a comunidade médica e familiares. Desde 2013, a Síndrome de Asperger é chamada de autismo de alta funcionalidade ou autismo nível 1. Em entrevista ao Diário do Aço, o neuropediatra Marcone Oliveira falou sobre a mudança da nomenclatura e explicou, em mais detalhes, o autismo nível 1.

O médico, que atua atendendo crianças com transtorno do neurodesenvolvimento em Ipatinga, informou que o nome agora em desuso está ligado ao cientista Hans Asperger que, em relatos nos livros de história, teria atuado nos campos de concentração nazista efetuando experimentos em crianças e, dessa forma, descobrindo a síndrome, que foi batizada com seu nome. “Hoje é desaconselhado usar esse termo. Não existe um CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) para isso, mas não descrevemos esse termo mais em relatório”, detalha.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem diferentes níveis e cada um tem seus próprios critérios, porém, apesar de ter características definidoras, cada autista apresenta individualidades. Marcone explica que, ao fazer um diagnóstico, existem os critérios a serem “preenchidos” para que o laudo seja preciso e assertivo: “Existem os critérios A, os critérios B e os condicionantes. Os critérios A são três, e os três precisam estar presentes, relacionados à comunicação social, à dificuldade na fala e ao desenvolvimento da comunicação. Já os critérios B são quatro, em que eu preciso ter ao menos dois, com relação a interesses restritos, movimentos repetitivos e alterações sensoriais”, acrescenta.

Autismo nível 1 de suporte
Com ênfase no autismo nível 1, o neuropediatra ressalta que as dificuldades para se chegar ao diagnóstico deste espectro são reais, já que fazem o chamado “masking”. Esse tipo de prática consiste em mascarar os sintomas e, a partir da imitação de pessoas neurotípicas, para agir da forma que a sociedade caracteriza como “aceitável” e, por isso, autistas nível 1 costumam receber o laudo mais tardiamente. “Como é que eu consigo então identificar se ele está mascarando? Através da identificação do prejuízo. Se a pessoa faz uma ação, mas essa ação tem tanta dificuldade que leva ela a um prejuízo, essa ação pode ser considerada como um transtorno, que faz parte dos condicionantes para o diagnóstico”, comenta.

Ele traz um exemplo de um conhecido que recebeu um diagnóstico de autismo nível 1 quando adulto e que isso foi de grande importância, já que o ajudou a entender alguns esforços que ele fazia para coisas específicas, como escovar os dentes apenas um número de vezes com uma escova, sendo necessária a troca frequente. “A identificação dos sinais mais sutis, através da busca de profissional adequado, que vai realmente fazer uma avaliação, não só do perfil etiológico também, mas teleológico. Olhando para frente, ‘por que nós não estamos conseguindo dar o próximo passo?’, ‘Por que ela tem essa rigidez?’, ‘Por que ela tem essa dificuldade?’, ‘Onde estão os prejuízos?’, aí sim eu consigo fazer um diagnóstico mais assertivo”, completa Marcone.

O neuropediatra lembra que o autismo é dimensional e não categorial como uma gripe, que a pessoa tem ou não: “Por exemplo, a pneumonia. Eu tenho uma bactéria no pulmão causando uma lesão ou não tem, então é categorial”. Por outro lado, assim como o autismo, a hipertensão também é dimensional, porque todas as pessoas têm pressão arterial, mas “nós só temos hipertensão a partir de certo ponto em que isso vai ocasionar um prejuízo”, aponta.

“Se você observar a população em geral, ela vai ter características de autismo. Uma ou outra vai ter algum comportamento antissocial, alguma dificuldade social. Mas só consigo fazer o diagnóstico quando identifico esses sinais e sintomas e eles passam a apresentar um prejuízo para essa pessoa”, complementa.

Dicas e tratamentos da pessoa com TEA

No dia a dia, é comum que pessoas com TEA acabem sofrendo de sobrecargas sensoriais, essas sobrecargas acontecem quando o ambiente está barulhento, luminoso ou caótico, o que pode levar a uma crise sensorial devido aos estímulos constantes. “Se eu sei que tem ambiente que eu vou ter maior sobrecarga sensorial, eu vou fazer algo pra que eu chegue lá mais preparado. Uma outra coisa que pode ser feito é fazer alguns recursos adaptativos”, orienta o neurologista.

Marcone destaca que a terapia é a abordagem mais eficaz para o tratamento de crianças com autismo, mas ressalta que cada consulta caminha de acordo com as necessidades da criança. Ele também aborda que os níveis de suporte não necessariamente estão relacionados com a gravidade do transtorno: “Eu posso ter uma pessoa com autismo nível 1 que nesse momento está grave, porque ela está com pensamentos negativista, pensamento de autoextermínio, e por aí vai. E eu posso ter uma criança com autismo nível três de suporte, que nesse momento está mais adaptada e não está tão grave”, conclui.
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