28 de janeiro, de 2025 | 08:40

Terapia é feita por 5% dos brasileiros, mas 16% tomam psicoativos

Divulgação
Psicoativos ganham espaço na terapia, mas uso abusivo também aumentaPsicoativos ganham espaço na terapia, mas uso abusivo também aumenta

Apenas 5% dos brasileiros estão em acompanhamento contínuo de psicoterapia neste momento no país. Intitulado "Panorama da Saúde Mental no Janeiro Branco 2025", o levantamento feito por William Passos, geógrafo e coordenador de Estatística e de Pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço, vinculado ao campus Ipatinga do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), cruza as estatísticas dos consultórios particulares disponíveis na internet com as informações da base do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel, que desenvolveram uma ferramenta de monitoramento da saúde mental dos brasileiros.

No caso da base do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel, as informações foram extraídas de uma metodologia que coleta dados a partir do preenchimento de formulários web. "Por ser anônima e realizada em ambiente on-line, a coleta reduz o viés de estigma que o tema de saúde mental carrega, tornando as informações da base estatística do Instituto Cactus e do Instituto AtlasIntel mais confiáveis do que aquelas provenientes das entrevistas presenciais mais tradicionais", atesta o geógrafo, que possui especialização doutoral em estatística pelo IBGE.

Poucos idosos buscam psicoterapia
A pesquisa também mostra que, embora com maior risco do desenvolvimento de transtornos como a depressão, em razão do envelhecimento, apenas 2% dos idosos no Brasil buscam os serviços de psicoterapia, a menor taxa entre todas as faixas etárias.

“Enquanto 5% dos brasileiros estão em acompanhamento contínuo de psicoterapia, 16% estão tomando algum tipo de medicamento. Isso é preocupante na medida em que a psicoterapia, e a não a medicação, é a principal indicação de terapia primária para lidar com questões de saúde mental. Cerca de 19% dos brasileiros chegaram a se consultar em algum momento do ano passado com algum psicólogo ou psiquiatra, mas a maioria não passou de cinco consultas ou sessões”, aponta Wiliam.

Consultórios particulares
Outra referência utilizada por William Passos são as estatísticas dos consultórios particulares disponíveis na internet. Nessa modalidade de atendimento, cerca de 60% dos usuários permanecem em psicoterapia por mais de um ano, enquanto 18% interrompem a busca pelo serviço com menos de 12 meses e, respectivamente, 12% e 14% deixam de procurar atendimento com menos de seis meses e menos de três meses após o início da procura.

Outro resultado são as causas primárias de busca por atendimento nos consultórios particulares de psicoterapia. Informações fornecidas pelos próprios consultórios indicam que 40% da procura primária é motivada por algum transtorno associado à ansiedade, como, por exemplo, ataques de pânico, preocupação excessiva e medos irracionais.

Na sequência, com 16%, aparecem problemas relacionados ao trabalho, como, por exemplo, eventos estressores e insatisfação relacionada ao ambiente profissional. Na terceira colocação aparecem as dificuldades de relacionamento, com 14%. Entre as motivações da busca por ajuda, nesse caso, estão problemas de comunicação, além de conflitos frequentes e de difícil gerenciamento com familiares e amigos. A terapia de casal aparece na quarta posição, com 10% da procura. Os mesmos 10% da depressão, que surge na quinta colocação.

O luto familiar derivado da perda de um ente querido, na sexta colocação, igualmente com 10%, também aparece como uma das principais causas de procura primária por ajuda nos consultórios particulares, de acordo com a pesquisa.

O levantamento reforça que não há estatísticas disponíveis para os municípios brasileiros e convida as prefeituras a construírem bases de dados confiáveis capazes de ajudar a iluminar o “Panorama da Saúde Mental no Janeiro Branco 2026”.

Ipatinga
Elaine Franciny, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Ipatinga, em entrevista ao Diário do Aço, afirma que na cidade a procura por atendimentos na sua área de atuação, cresceu. Elaine destaca que, depois da pandemia, muitos fatores influenciaram no aumento da demanda por atendimentos, seja pelo trabalho, relacionamentos, questões sociais ou políticas.

“Outro fator que tem levado ao aumento na demanda são as crises ambientais. Na cidade de Ipatinga tivemos um triste episódio no início do ano, depois de uma chuva intensa na região que deixou pessoas desabrigadas, feridas e, infelizmente, óbitos. Com isso, profissionais são acionados para estarem presentes e dar o melhor auxílio em situações como essas, que infelizmente, voltarão acontecer. Outro fenômeno que levado ao aumento da demanda nos últimos anos é o fluxo emigratório, apresentando a necessidade de profissionais capacitados para o acolhimento e atendimento”, destaca.

Questionada sobre o uso de medicamentos e substâncias psicoativas em conjunto da terapia, Elaine conta que sua entrada tem ganhado mais espaço, ao passo que o abuso desses medicamentos também cresceu: “Muitas das vezes, a pessoa consegue informalmente, sem passar pelo psiquiatra, fazer suas próprias dosagens. É recomendável não seguir esse caminho, os medicamentos são substâncias que alteram o organismo, portanto, se faz necessária a sua utilização, deve-se buscar atendimento de um profissional especializado da área”, orienta.

O Sistema Único de Saúde (SUS) em Ipatinga oferece diferentes serviços por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), como Clips, Capsi e atendimento psicológico nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Por fim, Elaine afirma que o CapsAd “poderia ajudar a acolher mais pessoas no município”, uma vez que a região passa por um sério problema relacionado ao abuso de álcool e drogas.
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