15 de janeiro, de 2025 | 09:00

Queimadas e inundações: o ciclo das tragédias climáticas

Antônio Nahas Junior *

É com profunda tristeza que acompanhamos o trágico efeito das enchentes na nossa cidade. Ipatinga é conhecida nacionalmente pela sua boa estrutura urbana, herança deixada pelos seus idealizadores na construção de uma cidade planejada para sediar a Usiminas e seus trabalhadores.

No ano passado já tivemos as queimadas em diversas áreas, o que fez com que o Diário do Aço nominasse nossa região como o “vale das cinzas”. Agora, o outro lado da moeda: enchentes.

É preciso tirar lições destes fatos. A elevação da temperatura do planeta é uma realidade aceita hoje até pelos mais céticos. Não há caminho de volta: ou a humanidade trabalha para reduzir as emissões de Gases efeito estufa, ou fatos como estes vão se repetir anualmente, de forma mais grave. Mais ainda: como a realidade nos mostra, as parcelas da população mais atingida serão aquelas que menos contribuíram para emissão de gases efeito estufa. Com menor poder de consumo, não possuem transporte individual e consomem menos. E pagarão preço alto por isto.

A tragédia acontecida tem atraído a solidariedade do Governo federal e do Governo Estadual, que procuram atuar nas feridas abertas na região. A solidariedade é bem-vinda e ajudará nas ações que procuram amenizar o caos instalado.

Mas temos que tirar lições destes fatos. Os governos municipais poderiam procurar fontes de financiamento para fazer obras preventivas nas áreas de risco, removendo famílias; asfaltando ruas; construindo muros de arrimo; dragando ribeirões; contratando obras de drenagem para evitar a repetição destes desastres. Fontes de recursos existem.
“Não há caminho de volta: ou a humanidade trabalha para reduzir as emissões de Gases efeito estufa, ou fatos como estes vão se repetir”


Há, por exemplo, os valores do Fundo Nacional sobre Mudança Climática - Fundo Clima -, administrado pelo BNDES, que possui linhas de financiamento específicas para esta ação, na sua finalidade 1: “.....investimentos em resiliência; capacidade adaptativa e redução de riscos de desastres; requalificação urbana para populações em área de risco; com foco em favelas e periferias e reassentamentos; sistemas municipais e estaduais de gestão de riscos e desastres”.

Trata-se de financiamento com juros baixos. Ipatinga, por exemplo, possui grande capacidade de endividamento. Tais recursos podem ser contratados e, como os fatos que ocorreram sensibilizaram as esferas governamentais, ao financiamento, podem se somar verbas emergenciais para que sejam socorridas as populações diretamente atingidas e desarmar o gatilho das tragédias futuras.

Foi assim, por exemplo, no governo João Magno, na década de 1990 do século XX, quando uma enchente desabrigou famílias na antiga “rua do buraco”, localizada no centro de Ipatinga, às margens do ribeirão Ipanema. A tragédia ensejou a busca de soluções, que resultaram no reassentamento de inúmeras famílias no bairro Planalto.

Mais que isso, nossa cidade tem que se preparar para esta era de mudanças climáticas. Seria importante a realização do Inventário de emissões de GHG (gases efeito estufa), que teria como foco estimar as emissões pela cidade como um todo.

O inventário abrangeria também o levantamento das ações preventivas para evitar novos desastres: áreas de maior risco de desastres climático; reservas florestais a serem preservadas; áreas que poderiam ser reflorestadas; prevenção a incêndios nestas áreas; preservação de nascentes e dos cursos d’água; revitalização de praças e parques, além de medidas a serem implementadas para que a população dê sua contribuição na defesa do meio ambiente. E da nossa própria existência neste planeta. A metodologia do inventário seria aquela já aprovada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

O mais importante seria a participação de todos, para que a cidade se una em busca de objetivos comuns, como aconteceu recentemente, quando vimos grande unanimidade entre agentes políticos, empresários, prefeitos, na defesa da Usiminas. Coronel Fabriciano já possui seu inventário. Certamente, unidas, as cidades do Vale do Aço conseguirão ótimos resultados.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga

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