14 de janeiro, de 2025 | 09:00

E a tragédia se repetirá quantas vezes?

Carlos Alberto Costa *

A catástrofe climática que se abateu sobre Ipatinga na madrugada de domingo, dia 12 de janeiro de 2025, era uma tragédia anunciada há muito tempo e conhecida por todos que moram nas cidades do Vale do Aço. Todas as quatro cidades da Região Metropolitana têm problemas gravíssimos de ocupação habitacional nas áreas de encosta com grande inclinação. Ipatinga talvez tenha a situação mais grave, pois também é a maior cidade, com mais áreas de ocupação urbana em morros. Além do Bethânia e Vila Celeste, os mais atingidos há casos gravíssimos no Jardim Panorama, Caravelas, Bom Jardim, Esperança, e em tantos outros, onde a cidade foi sendo construída sem grande planejamento.

Coronel Fabriciano dispensa apresentações sobre ocupações nas áreas que não deveriam ter construções. Em Timóteo, há problemas nos bairros Bela Vista, Macuco, Ana Rita, no distrito de Cachoeira do Vale, dentre tantos outros, incluindo a invasão do Jardim Vitória, onde cinco pessoas perderam a vida aproximadamente 15 anos atrás em um temporal semelhante ao que se abateu sobre Ipatinga.

O fato é que entra prefeito, sai prefeito destas cidades, e essa situação alarmante nunca é resolvida. Tenho sinceras dúvidas se haveria solução para isso que já existe. Como remover centenas de famílias que, sem dinheiro para comprar imóveis em lugares seguros, acabam ocupando essas áreas inclinadas que não deveriam ter nenhuma casa, construção, ou abrigar vida humana?.

Aí você vê a discussão do Plano Diretor da cidade, que vai tratar justamente sobre expansões, e percebe que, primeiro, a população não participa das discussões; segundo, muitos dos políticos envolvidos no debate não fazem a menor ideia do que estão debatendo; e em muitos casos estão no debate só para representar imobiliárias, construtoras e incorporadoras que fazem loteamentos. No fim, acabam gerando leis permissivas, para atender interesses.

Como ipatinguense, é doloroso pegar uma edição de um jornal da capital mineira e ver a catástrofe de Ipatinga na primeira página. A cidade foi notícia em nível nacional.

Essa tragédia já ocorreu outras vezes no passado, ocorreu agora e não estamos livres disso no futuro. É notório que nos anos anteriores houve uma redução considerável no volume de chuvas. Parece que as pessoas relaxaram na segurança das construções nesse período de grande estiagem. Foram fazendo puxadinhos nos morros e agora temos esse resultado trágico.
“Como ipatinguense, é doloroso pegar uma edição de um jornal da capital mineira e ver a catástrofe de Ipatinga na primeira página”


Ficou claro que há muitas residências sem a menor capacidade de resistência a temporais, sem contar os morros, onde foram construídas escadarias, passarelas e ligações de uma via para outra, que estão pendurados em barrancos sem nenhum tipo de contenção.

Esse próprio jornal publicou uma entrevista com o pai de uma das vítimas, avô de uma das crianças mortas na escadaria da rua Turim em Ipatinga, que confessou que a família toda sabia do risco que corria morando naquele local.
Aí fica uma pergunta: a família tinha condições de fechar aquela casa e mudar-se para outro lugar seguro? Não, não tinha. E certamente era a situação do casal de idosos que morreu na rua Tucanuçu e das outras vítimas.

O poder público não cumpriu com o seu dever, primeiro de fiscalizar e impedir a ocupação irregular dessas áreas íngremes no passado, e depois por não fazer as devidas contenções ao longo dos últimos 10 ou 15 anos em que menos chuva.

Por fim, o preço que se paga com tanta negligência, descaso, descuido é muito alto, se é que se pode valorar as vidas humanas, perdidas na catástrofe que nós acompanhamos estarrecidos e impotentes, sem poder fazer nada de nossas casas em pleno domingo, enquanto descansávamos.

* Professor aposentado

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