11 de janeiro, de 2025 | 07:00

Além do Oscar: a importância do fortalecimento da cultura brasileira no cenário mundial

Karina de Abreu *

O cinema nacional vive um momento de revitalização e sucesso, simbolizado pelo impacto cultural e econômico do longa-metragem "Ainda Estou Aqui". O filme alcançou um marco histórico ao se tornar a maior bilheteria nacional desde a pandemia, arrecadando mais de R$ 47 milhões e atraindo mais de 2,2 milhões de espectadores. Esses números não apenas celebram a obra em si, mas também sinalizam o potencial transformador das economias criativas no Brasil.

O fortalecimento da indústria audiovisual brasileira esteve diretamente ligado a períodos de maior investimento público e democratização do acesso a recursos. Um exemplo claro disso ocorreu nos anos 2000, quando a popularização de câmeras Digital Single Lens Reflex (DSLR) - ou reflexo digital de lente única - permitiu a produção de filmes de baixo orçamento, fomentando coletivos como o Nós do Morro e o Cinema Nosso.

Esses movimentos revelaram talentos que marcaram a história do cinema brasileiro, como o icônico "Cidade de Deus". Agora, em 2024, começa um outro ciclo promissor. O retorno de grandes investimentos ao setor audiovisual, com mais de R$ 2 bilhões destinados por programas como o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), renova o otimismo e o potencial de crescimento para toda a cadeia produtiva.

O sucesso de obras como "Ainda Estou Aqui" destaca o impacto do cinema além das bilheterias ou premiações, impactando o cenário de impulsionamento da cultura nacional. Elas moldam narrativas, constroem imaginários coletivos e projetam a identidade brasileira de forma autêntica, ao mesmo tempo que alavancam a economia criativa.

Ao longo deste ano, o público do cinema nacional cresceu, com a arrecadação saltando de R$ 67,3 milhões em 2023 para impressionantes R$ 141 milhões até setembro de 2024, segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Essa retomada de fôlego é acompanhada por políticas públicas essenciais, como a sanção da Lei 14.814/2024, que restabelece a cota de tela para filmes nacionais, e iniciativas locais como o Pró-Carioca Audiovisual, que destinará R$ 34 milhões ao setor no Rio de Janeiro.
"Além de tudo, a cultura desempenha um papel crucial na consolidação da democracia


Os reflexos desse movimento não se limitam ao mercado; atingem as comunidades. A reforma e reabertura de cinemas em áreas periféricas, como o Complexo do Alemão e Guadalupe, no Rio de Janeiro, representam um avanço democrático, ao possibilitar que mais brasileiros tenham acesso às produções culturais. Isso fortalece a coesão social, promove o sentimento de pertencimento e combate as desigualdades de acesso à cultura - um direito fundamental.

Isso é importante porque, além de tudo, a cultura desempenha um papel crucial na consolidação da democracia. Em tempos de polarização, fortalecer a produção audiovisual é uma forma de ampliar vozes e estimular o diálogo entre diferentes grupos sociais. Por isso, políticas públicas bem estruturadas para o audiovisual precisam articular duas dimensões centrais: o fomento, que valoriza a criação artística e amplia o acesso à cultura, e o desenvolvimento industrial, que assegura a sustentabilidade e a expansão do setor.

O setor privado tem papel fundamental nesse processo. Empresas que apostam no audiovisual fortalecem suas marcas por meio de estratégias de marketing cultural e se posicionam como aliadas no desenvolvimento social. A Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual oferecem incentivos fiscais que tornam esse tipo de investimento vantajoso tanto para as organizações quanto para a economia criativa. Iniciativas como o apoio da Farmanguinhos ao Festival Juventude na Favela mostram que patrocínios estratégicos geram impacto positivo para a sociedade e criam valor compartilhado.

O sucesso de "Ainda Estou Aqui" é um lembrete de que o Brasil tem potencial para ocupar um lugar de destaque na indústria audiovisual global. Para que esse crescimento seja sustentável, é necessário assegurar que políticas públicas consistentes, investimentos regulares e parcerias público-privadas se mantenham como prioridades. Ir por este caminho simboliza a garantia de um futuro promissor, em que a cultura se consolida como um pilar estratégico para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

* Cineasta e cofundadora da ColetivA DELAS

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