19 de dezembro, de 2024 | 07:00

A corrida contra o tempo: A infância e o futuro da Educação

Marcelo Augusto dos Anjos Lima Martins *

Vamos falar de Educação. Não uma Educação meramente escolar, mas no sentido amplo da palavra. Educação que se aprende em casa, que vem de berço, mesmo que esse berço seja uma manjedoura, numa estrebaria ou uma caixa de papelão de nossos dias.

Na última década temos percebido um boom de laudos e atestados médicos de alunos com alguma necessidade educacional específica. Fruto da rotina extenuante de pais e responsáveis? Reflexo do adoecimento da sociedade? Consequência do consumo de enlatados e fast food? Será genético? Há inúmeras hipóteses que não se pode descartar. Mas poderíamos abrandar, melhorar a saúde mental e bem-estar de nossos jovens resgatando algumas memórias de nossa infância.

Hoje as crianças que não brincam de pique-pega nas praças, na rua, ou de bolinha de gude nos quintais. Que quintais? Quase não se vê casas com quintais. E quando se encontra, nelas não vivem crianças em idade escolar. Ou quem nunca desceu uma ladeira de carrinho de rolimã? Aquilo que era emoção! Não raro, um esfolava um joelho ou perdia uma unha do dedão. Nada que um Merthiolate ou lavar com vinagre e sal não resolvesse. “E engole o choro”, dizia a mãe. Mas esquecíamos muito rápido. E lá estávamos a brincar, com outro brinquedo que nós mesmos confeccionávamos, de andar com Pés de Lata.

Todo o tempo era precioso. Dever de casa deveria estar pronto, senão não podia ver televisão, e corríamos para terminar logo, se não perdíamos a “Caverna do Dragão”.

Os adolescentes que antes trocavam papéis de carta, agora sequer trocam “emogis”. Já não se brinca (ou briga) na escola como antes, quando se ficava “de mal” num dia e no outro eram melhores amigos. “Não briguem crianças, vou falar com seus pais”. Era só ouvir isso, que a farra acabava. Hoje, temos que ser vigilantes, pois as crianças perderam sua infância e estão brigando como adultos. Virou caso de polícia. E a voz dos pais já não ecoa como antes.
“Na última década temos percebido um boom de laudos e atestados médicos de alunos com alguma necessidade educacional específica”


As reuniões de pais e mestres eram praticamente todo dia, pois a mãe levava seu filho até a escola, e ao buscá-lo proseava com a professora para saber se ele estava se comportando. Bons tempos! Mas hoje não sobra tempo para nada.

Os professores? Também lhes falta tempo. Trabalham em duas ou três escolas, turmas e turnos diferentes. Uma dupla ou tripla jornada, pois muitos são pais, mães e também precisam dedicar um tempo de qualidade aos seus filhos. Precisam dedicar um tempo a si mesmos.

E os alunos? Já não são mais os mesmos. Mas continuam a ter o professor ou professora como referência. Mas algumas escolas ou sistemas de ensino insistem em um currículo engessado. Se esquecem que o aprendizado está em todo lugar, a todo tempo. Não estou dizendo que o período que o aluno permanece na escola não seja importante, ao contrário, além do conteúdo ensinado, ele aprende valores, princípios e se prepara para viver em sociedade. Bastando ao educador direcionar o voo.

Hàaa, o tempo, dizia Diógenes, “é a moeda mais valiosa que um homem pode gastar”. Temos que reservar tempo para educar as crianças, tempo para brincar, tempo para prosear com os amigos, tempo para descontrair, para compartilhar nossas vivências, princípios e valores com os jovens. “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo“. (José Saramago).

* Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública – UFJF. Especialista em Psicopedagogia – UCAM. Especialista em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e o Mundo do Trabalho – UFPI. Pedagogo do IFMG Campus Governador Valadares. [email protected]

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

19 de dezembro, 2024 | 08:40

“Peço licença, para colocar aqui, todo o "meu" Poema da minha Depressão, companheira diuturna dos últimos 15 anos.

"Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando ...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira ...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo ...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse ...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena ..."”

Gildázio Garcia Vitor

19 de dezembro, 2024 | 06:00

“Excelente! Parabéns! Obrigado!
Voltei uns 60 anos no tempo, "a moeda mais valiosa que uma homem pode gastar", pena que não me contaram isso, pelo menos, há uns 50 anos, talvez, teria aprendido a lição, e não estaria hoje, "Olhando para trás de si e tendo pena ... " (Fernando Pessoa, em "O Guardador de Rebanhos número. XXVIII").”

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