11 de dezembro, de 2024 | 08:00
E se a criança que queria sentar-se à janela do avião fosse autista?
Marcelo Augusto dos Anjos Lima Martins *
Conversando recentemente em uma roda de educadores surgiu a seguinte pergunta: e se a criança que queria sentar-se à janela do avião fosse autista?Primeiro há que se considerar que é natural que toda criança tenha um encantamento por janelas. Afinal, o que há do outro lado? Também é natural que toda criança pequena, em algum momento, faça birra, chore, grite ou esperneie, numa tentativa de resistir a uma situação que lhe pareça desconfortável.
Mas hoje não vou explorar o comportamento da mãe, ou da passageira, bancária, que se negou a ceder o lugar à criança ou a atitude da advogada que afirmou ter gravado o vídeo e postado em uma rede social. Vamos pensar empaticamente, considerando a hipótese de a criança ser neuroatípica ou neurodivergente.
Voltemos, portanto, à pergunta: e se a criança que queria sentar-se à janela do avião fosse autista? Independentemente de ser ou não autista, o lugar estava reservado à passageira. Ponto. Não vamos emitir juízo a favor ou contra sua atitude.
Convido-os, enquanto pais e educadores, a nos atermos às estratégias para lidar com comportamentos desafiadores, adaptando-as ao contexto específico do avião. Mas que se aplicam a diversas circunstâncias envolvendo crianças autistas.
Para a mãe:
Manter a calma - Reações de ansiedade ou frustração da mãe podem aumentar a angústia da criança. Respirar fundo, controlar as próprias emoções e falar com voz calma, porém firme, são essenciais.
Empatia e validação - Reconhecer os sentimentos da criança, mesmo sem concordar com o comportamento. Frases como "Eu sei que você está muito chateada por não poder sentar na janela" validam sua experiência emocional.
Comunicação visual e alternativa - Se a criança usa algum sistema de comunicação alternativa, ou Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), utilizá-lo para entender a razão do choro. Se não, tentar usar imagens ou gestos para mostrar empatia e comunicar opções alternativas.
Preparação antecipada - No futuro, planejar a viagem com mais cuidado. Mostrar fotos ou vídeos do avião, explicar o procedimento de embarque e o que esperar durante o voo pode ajudar a reduzir a ansiedade. Explorar a possibilidade de assento na janela com antecedência.
Estratégias sensoriais - Tentar oferecer estímulos sensoriais que ajudem a criança a se acalmar. Se ela gosta de algo específico (brinquedo, música, objeto sensorial), ter isso disponível.
Procurar ajuda da tripulação - Informar à tripulação sobre o Transtorno do Espectro Autista, (TEA), da criança e as necessidades dela. A tripulação pode oferecer apoio e, possivelmente, alternativas (um passeio pela aeronave antes do voo, por exemplo, caso a janela seja um elemento sensorial significativo).
Procurar um local mais tranquilo - Se possível, tentar se afastar do corredor, procurando um lugar mais calmo para minimizar os estímulos externos.
Para as pessoas em redor:
Empatia e paciência - Entender que o comportamento da criança é resultado de uma condição neurológica e não um ato de birra proposital. Oferecer apoio silencioso e compreensão.
Evitar julgamentos - Não fazer comentários negativos, olhares de reprovação ou sussurros. Isso só intensificará a angústia tanto da criança quanto da mãe.
Oferecer ajuda - Se a mãe precisar de ajuda para acalmar a criança, oferecer suporte discretamente. Porém, não se intrometer sem ser convidado.
Respeitar o espaço - Manter uma distância respeitosa e evitar interações não solicitadas. Há que se considerar que a janela pode representar um interesse sensorial específico para uma criança autista (visão, luz, etc.). A perda desse elemento pode ser significativamente angustiante.
A rotina e a previsibilidade são importantes para crianças com TEA. A viagem de avião é um evento fora do comum, que pode ser muito estressante. Cada criança autista é única; o que funciona para uma pode não funcionar para outra. A mãe conhece melhor seu filho e suas necessidades.
Essas estratégias para lidar com comportamentos desafiadores ajudam-nos a refletir, mas a abordagem precisa ser adaptável para lidar com a situação específica de cada criança no espectro. O foco deve estar na compreensão, na validação dos sentimentos da criança e no apoio à mãe e à criança em um ambiente potencialmente estressante.
* Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública - UFJF
Especialista em Psicopedagogia UCAM, Especialista em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e o Mundo do Trabalho - UFPI
Pedagogo do IFMG Campus Governador Valadares. [email protected]
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B2@
11 de dezembro, 2024 | 18:38Se contudo, não sendo possível a adaptação da criança é simples, não poderá viajar. As pessoas.a.seu redor merecem que seus direitos sejam respeitados. Ninguém fala sobre o direitos das pessoas que convivem com os autistas. Esta balança é desproporcional.”
K2@
11 de dezembro, 2024 | 18:35Tô de saco cheio com esta história de preferenciais. Tods devem ser respeitados. Até o pagador de impostos que não possue benefício algum. Êta país atrasado que não melhora a sua cultura. Cada segundo tem alguém um benefício em detrimento aos dois normais. Tô de saco cheio! É só um desabafo!!!”
Gildázio Garcia Vitor
11 de dezembro, 2024 | 09:15Excelente artigo! Parabéns! Obrigado!
Só discordo de um ponto, baseado em minhas experiências como Professor, não dos quase 43 anos, mas apenas deste ano, em duas Escolas municipais e uma particular, em Ipatinga: "A Mãe conhece melhor o seu filho e suas necessidades". Parece que o Professor-Mestre não conhece a realidade das famílias, principalmente as de menor poder aquisitivo, e suas limitações, inclusive de afeto.
Nem vou querer falar sobre a "Indústria do Autismo", que para mim, é coisa que deveria estar sendo investigada pelo Ministério Público Federal.”