07 de dezembro, de 2024 | 18:00

Médica responde por homicídio após paciente morrer em Ipatinga com balão intragástrico

Enviada ao Diário do Aço
Francirley Maria, corretora de imóveis, tinha 40 anos de idade Francirley Maria, corretora de imóveis, tinha 40 anos de idade

Familiares de Francirley Maria, que morreu aos 40 anos em Ipatinga após sofrer uma parada cardiorrespiratória, horas depois de ter feito um ajuste de balão intragástrico, têm expectativas que a médica responsável pelo atendimento responda judicialmente por homicídio. A mulher que faleceu no dia 21 de março chegou a ser socorrida e levada para a UPA, mas seu quadro de saúde piorou e ela não resistiu. A médica foi indiciada por homicídio em inquérito concluído em 17 de junho, pela Polícia Civil. Em entrevista à reportagem do Diário do Aço, os advogados Vinicius Xingó e Carolina Magalhães relatam como está o caso na Justiça.

“O Ministério Público está elaborando uma denúncia contra a médica. Após a aceitação da denúncia pelo juiz, será iniciado o processo penal, que incluirá a fase de instrução. Nesse momento, serão ouvidas testemunhas, analisadas provas documentais e colhidos os depoimentos da acusada e demais envolvidos. O objetivo é esclarecer os fatos, confirmar as evidências apresentadas e estabelecer a responsabilidade da médica”, explica Vinícius Xingó.

O advogado acrescenta que, “concluída a instrução, caso o juiz entenda que há elementos suficientes, o processo poderá seguir para julgamento pelo Tribunal do Júri, uma vez que o dolo eventual em homicídios configura crime contra a vida”.

Xingó ainda pontua que “a assistência à acusação sustenta que a médica agiu de forma incompatível com os deveres inerentes à sua profissão. As consequências podem incluir sanções penais, como pena de reclusão ou detenção, além de medidas cíveis, como a obrigação de indenizar a família da vítima. Ela também pode sofrer sanções administrativas e éticas, como a suspensão ou cassação do registro profissional pelo Conselho Regional de Medicina”, acrescenta.

Carolina Magalhães também pontua que o caso poderá ser resolvido tanto na esfera penal quanto na cível, cada uma com seus respectivos objetivos e consequências. “Uma eventual condenação na Justiça Penal não apenas trará a sensação de justiça para a família da vítima, mas também servirá como medida pedagógica para que casos similares não se repitam. A família espera ansiosa pela resolução do caso, a fim de se fazer justiça ao filho da vítima, de apenas seis anos, que possui autismo nível 3 e dependia integralmente dos cuidados de Francirley”.

Indiciamento
“O indiciamento se baseia nos seguintes fatos apurados: perfuração gástrica durante o procedimento, visto que durante o ajuste do balão intragástrico a paciente sofreu uma perfuração gástrica que, conforme laudo de necropsia, foi a causa direta da sepse que resultou no óbito. A perícia apontou que havia tempo hábil para diagnosticar e tratar a lesão por meio de intervenção cirúrgica, o que teria evitado a morte sem sequelas. A médica, ao não adotar medidas eficazes para o diagnóstico imediato, assumiu o risco de um desfecho fatal. Assim como liberação precoce após parada cardiorrespiratória (PCR): após a PCR ocorrida durante o procedimento, a médica liberou a paciente em apenas 30 minutos, mesmo com saturação muito baixa (entre 58% e 60%), conforme relatado pela médica anestesista. Essa conduta demonstrou imprudência extrema e desprezo pelas condições críticas da paciente, evidenciando o risco assumido”, relata a advogada.

“Ausência de atendimento presencial pós-procedimento: no período pós-procedimento, mesmo com as queixas reiteradas de fortes dores abdominais por parte da paciente, a acusada não prestou atendimento presencial. Ao limitar-se a orientações remotas e diagnósticos equivocados, como atribuir os sintomas a uma ‘crise de ansiedade’, negligenciou sinais claros de agravamento do quadro clínico. Além da prescrição indevida de medicamentos, como Rivotril, já que determinou a prescrição e administração de medicamentos por uma técnica de Enfermagem, sem supervisão direta, conduta incompatível com os padrões de cuidado exigidos em uma situação de tamanha gravidade”.

Outra versão
O advogado que representa a médica, Ignácio Luiz Gomes de Barros Júnior, encaminhou uma nota oficial ao Diário do Aço: “Recebemos com surpresa as recentes declarações do advogado assistente da acusação. As falas apresentadas distorcem a realidade dos fatos, e reiteramos nossa confiança de que a inocência da médica será devidamente comprovada, caso o órgão acusador opte por oferecer denúncia.

Mantemos nossa total confiança no Poder Judiciário para garantir que a verdade prevaleça e que o devido processo legal seja respeitado”.


Justiça
A família de Francirley clama por justiça. “Minha irmã era corretora de imóveis e mãe solo. Nós agora temos o filho dela, que ficou na nossa responsabilidade, como ela pediu em uma das últimas palavras dela. Ele está em acompanhamento psicológico para ajudar a compreender que a mamãe precisou ir para o céu. Nós tínhamos acabado de comemorar o aniversário dele e o dela”, complementa a irmã da vítima, Francislainy Almeida.

Relembre o caso
Segundo os familiares da vítima, Francirley passou mal durante o procedimento, teve uma parada cardiorrespiratória, após uma crise asmática, e precisou ser reanimada. Após ficar em observação, foi liberada da clínica e saiu com receita médica e medicamentos, mas foi orientada a procurar um hospital se as dores continuassem. Horas depois, já em casa, ao tomar um caldo de estrogonofe, a mulher passou a sentir fortes dores. A situação piorou na madrugada do dia 20, uma quarta-feira.

Após entrar em contato com a clínica, os familiares resolveram levar a mulher ao Hospital Márcio Cunha. Lá, o médico plantonista orientou que procurasse novamente a clínica onde havia feito o procedimento.

Assim que Francirley ganhou alta médica, a irmã e uma prima a levaram para a clínica localizada no bairro Iguaçu. Lá, ela recebeu medicação, mas não teria sido examinada pela médica responsável. Na madrugada de quinta-feira (21), a vítima sofreu uma nova parada cardiorrespiratória e faleceu. O Samu chegou a ser acionado, mas a ambulância teve um pneu furado, o que atrasou o socorro e o deslocamento para a UPA, no bairro Canaã.

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Comentários

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Jaiderson Mafra

26 de dezembro, 2024 | 23:20

“Esperamos que a justiça seja jeito neste caso, quando um médico faz o juramento, deve seguir a risca, pois uma vida depende de seu comprometimento e neste caso ela deve responder por seu erro e negligência.”

Kenia Almeida

12 de dezembro, 2024 | 12:59

“Se ela tivesse tido atendimento devido pelos "médicos" seria possível ter visto mas infelizmente não foi atendida por MÉDICOS.
Mas fique por dentro do assunto, que você verá em breve o relatório da autópsia e aí talvez fique mais claro para você o que é uma Perfuração Gástrica, siga nossa página no instagram @justicapelafranmaria.”

Paciente

10 de dezembro, 2024 | 14:02

“Coloquei balão com essa médica e graças a Deus saí viva. Mas posso afirmar que ela estava fazendo o procedimento de forma negligente. Após colocar a gente só tinha atendimento por telefone com enfermeiras, quem passava muito mal só tomava soro. Que a justiça seja feita.”

Alan Soares

09 de dezembro, 2024 | 10:29

“Se ela foi ao HMC, por que não viram o buraco no estômago através de Raio X ou Tomografia? Essa história está muito estranha, acho que estão querendo jogar a culpa na médica.”

Delta

08 de dezembro, 2024 | 19:00

“? se pode julgar sem conhecer todos os fatos.
Ñ acredito que a médica é culpada.”

Gildázio Garcia Vitor

07 de dezembro, 2024 | 11:41

“Soma de erros que se repete, todos os dias, em algum canto deste Brasilzão. Acredito que só perde para o feminicídio.
E ainda tem gente que acredita, e defende, que "Herrar é umano"!”

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