01 de dezembro, de 2024 | 07:00

Numa guerra, a primeira arma é a informação

Carlos Alberto Costa *


A quebra do sigilo no inquérito que investiga a malfadada tentativa de golpe de Estado no fim do governo Bolsonaro revelou aspectos inacreditáveis da armação que acabou frustrada. Ao ler uma das “peças” da Polícia Federal, ficou evidente um tal “Grupo dos Malucos”, um esquema criado para disseminar conscientemente desinformação acerca de vários temas, coordenado por um policial federal (pasme). O relatório mostra que a organização criminosa construiu e propagou a narrativa de vulnerabilidades e fraudes no sistema eletrônico de votação desde 2019. Não é de assustar essa investida, porque numa guerra, a informação sempre foi a primeira arma a ser empunhada. Enfraquecer o sistema eleitoral brasileiro fazia parte da narrativa para respaldar o golpe.

A PF relata que os criminosos usaram o modus operandi da “milícia digital”, que produzia e difundia notícias falsas nas mídias sociais todos os dias. Eles não apenas sabiam que as informações não eram verdadeiras como também dominavam estratégias de envio em massa, via grupos de WhatsApp, Facebook e Instagram, X (antigo Twitter) dentre outras mídias.

Conforme o relatório da PF, conversas no WhatsApp entre os agentes da PF Marcelo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, em agosto de 2021, mostram como eram “fabricadas” as notícias falsas para um grupo que Bormevet chamava “dos Malucos”. Bormevet integrava a equipe que fazia a segurança do ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2018.

O investigado foi preso em julho pela PF em ação que investigava as ordens a Giancarlo para mandar “bala” e “sentar o pau” [sic] em um assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal (SFT), Luís Roberto Barroso.
“Enfraquecer o sistema eleitoral brasileiro fazia parte da narrativa para respaldar o golpe”


O documento afirma que a citação a Barroso foi deflagrada por uma publicação no X (antigo Twitter) sobre supostas invasões às urnas eletrônicas e também por declarações de um perfil identificado como “Kim Paim”, que afirmava que o assessor do ministro era investigado.

Mas o relatório vai além e aponta que o Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral é um dos seis, apontados pela PF, que articulavam o plano de golpe que só não deu certo porque os comandantes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a participar. Segundo o relatório, “todas as circunstâncias confirmam que os investigados tinham plena ciência de suas ações, em especial a produção de desinformação sem qualquer lastro com a realidade e com subsequente difusão de desinformação, seja por meio dos vetores de propagação cooptados, seja em grupos de rede social materializando os ataques”.

O documento também aponta que Jair Bolsonaro (PL), foi orientado por Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sobre como conduzir discursos que deslegitimam o processo eleitoral brasileiro.

Toda essa patifaria evidencia necessidades antigas e já citadas em outros artigos que escrevi. Primeiro, que sejam aprimoradas leis que assegurem a devida punição a quem utiliza-se de meios digitais para manipular a informação, disseminando fake news e para praticar outros delitos. Não acredito que a “regulação” das mídias seja o caminho, mas sim, que existam leis eficazes, sem brechas e ágeis para punir infratores. Em uma segunda instância, mas não menos importante, que os meios de comunicação e principalmente as escolas passem a adotar o combate à desinformação como uma prática diária e não como um mero debate pontual.

* Professor aposentado

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Comentários

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Antonio Nahas

02 de dezembro, 2024 | 10:38

“Muito interessante a materia,. Bem escrita, bem articulada e toca em pontos bons para a gente saber como as mentiras fabricadas e divulgadas tornam-se fonte de manipulação de todos.”

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