27 de novembro, de 2024 | 09:00
G20 e COP 29: entre o discurso e a prática
Antonio Nahas Junior *
A reunião da cúpula do G20, promovida no Rio de Janeiro semana passada, encerrou-se com uma declaração de líderes muito bem articulada e abrangente, prenunciando possíveis ações dos países que compõem o grupo. Estas ações, se cumpridas, podem influenciar os rumos das relações entre os países em busca da sustentabilidade socioambiental do Planeta. Apresentaremos alguns tópicos deste texto precioso.O grupo de países reafirma seu compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que foram estabelecidos pela ONU e declara seu engajamento na execução dos mesmos: "Com apenas seis anos para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, há progresso efetivo em apenas 17% das metas dos ODS, ao passo que quase metade está mostrando progresso mínimo ou moderado, e em mais de um terço o progresso estagnou ou até mesmo regrediu. O G20 é adequado para responder a esses desafios por meio da tão necessária cooperação internacional e de impulso político. Por esse motivo, nós trabalhamos em 2024 sob o lema Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”.
A declaração demonstra também, o compromisso do grupo de países com o combate à fome, que foi materializado pela Aliança Global Contra a Fome, lançada pelo presidente Lula.
Toca ainda numa ferida internacional aberta: Reforma das Instituições de Governança Global. Trocando em miúdos: a ONU necessita de se aparelhar melhor para fazer cumprir os compromissos assumidos pelos seus diversos órgãos, para não perder credibilidade.
A declaração demonstra também, o compromisso do grupo de países com o combate à fome, que foi materializado pela Aliança Global Contra a Fome”
As metas são ambiciosas: revigorar a Assembleia Geral por meio do fortalecimento de seu papel, como principal órgão deliberativo, formulador de políticas e representativo das Nações Unidas; reformar o Conselho de Segurança para alinha-lo às realidades e demandas do século XXI; fortalecer o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) por meio de maiores sinergias e coerência com as Agências, Fundos e Programas das Nações Unidas para melhor promover o desenvolvimento sustentável e fortalecer a Comissão de Consolidação da Paz por meio de um papel reforçado ao abordar proativamente as causas e os fatores subjacentes aos conflitos.
Outro ponto importante: a transição energética não ficou de fora: talvez prenunciando tempos bicudos pela frente, o texto é explicito em vincular o grupo ao Acordo de Paris, firmado em 2015 naquela cidade, que estabelece metas globais e por países para redução das emissões de gases efeito estufa.
Ao final, o G20 saúda a abordagem inovadora adotada pela Presidência Brasileira do G20, que destacou o papel construtivo que a sociedade civil deve e pode desempenhar no tratamento das questões econômicas, financeiras, políticas, ambientais e sociais, demonstrada na realização do G20 social.
MAS... E A COP 29? - Pois é. Tudo muito bom. Porém, no mesmo momento em que a reunião da cúpula do G20 acontecia no Rio de Janeiro, em Baku, no Azerbaijão estava sendo realizada a 29a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, chamada COP 29. As discussões foram sobre a Nova Meta Quantificada Global de Finanças - dinheiro , para ser claro - , ou seja, o custo das ações de transição energética e, sobretudo, o financiamento destas ações: quem vai pagar e quanto. O novo texto firmado estabelece a Nova Meta no valor de 300 bilhões de dólares anuais. Parece muito, mas não é. Trata-se de uma redução significativa nos planos iniciais da COP, que previa financiamento de R$ 1 trilhão de dólares anuais solicitados pelos países em desenvolvimento.
Segundo a Agencia Brasil, "Organizações sociais brasileiras que acompanham as negociações em Baku consideram a proposta muito ruim e já convocam uma mobilização para que os países melhorem o texto final a partir da reflexão Nenhuma Decisão é Pior que uma Decisão Ruim."
E mais: Nessa última interação, o número de parágrafos que refletem decisões consistentes diminuiu de 26 para quatro, em relação à proposta anterior. O valor da NCQG é infinitamente menor que o que a gente esperava”, afirma a especialista em políticas públicas da WWF Brasil, Tatiana Oliveira.
Então será assim? Na hora de por a mão no bolso todo mundo pula fora? Qual a coerência afinal entre as Declarações do G20 e a atuação dos seus países membros?
Destaca-se que o Brasil foi coerente: apresentou nova meta climática naquela Conferência, comprometendo-se a reduzir ainda mais suas emissões. Resta saber se nosso exemplo será seguido e capaz de influenciar as decisões dos outros países. Pelo planeta, pelo nosso futuro comum. O acordo foi assinado. Rompeu-se uma barreira. Mesmo com recursos abaixo do esperado, uma nova era se inicia.
* Economista, empresário, morador de Ipatinga.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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