10 de novembro, de 2024 | 10:00

Que democracia é essa?

Carlos Alberto Costa *

Assunto tratado à exaustão na semana que passou, a eleição do presidente estadunidense Donald Trump parece ter ocupado mais espaço na mídia tradicional, na mídia alternativa e até nas mídias sociais do que a eleição municipal de outubro deste ano no Brasil. Cito como exemplo o caso de um grupo de antigos amigos. Quase não se falou de eleição para prefeito ou vereador em outubro. Entretanto, saiu até briga esta semana, por causa da eleição nos EUA. No geral, muito se falou e pouco se explicou, que nos Estados Unidos, apresentado ao mundo como a terra da Democracia, nem sequer existe eleição direta para presidente. Pasmem. Nem sempre o candidato que tem mais voto da população é o que toma posse. Pode parecer absurdo, porque é muito diferente do que temos no Brasil. Mas veja que no ano 2000, o candidato Al Gore teve mais votos que George W Bush, que efetivamente tomou posse e, no ano de 2016, Hillary Clinton teve mais votos que o candidato Donald Trump. Então, quem postou homenagens a Trump exaltando a democracia, a liberdade, saiba que lá não existe eleição direta. O que há é um sistema confuso chamado de Colégio Eleitoral. Cada estado recebe um número de delegados a partir do tamanho da sua população e são eles que vão voltar para escolher o presidente. Para nós, quando se pensa em democracia temos a ideia de, “uma pessoa, um voto”, mas na “terra da democracia” não é assim não. O que se nota é uma situação muito complexa e um lugar onde há voto em cédula de papel até hoje. As falhas são gritantes e cada estado escolhe suas próprias regras eleitorais. Tem estado que as pessoas voltam pelo Correio. Há filas gigantes e o dia de eleição não é feriado, é um dia normal de trabalho. Com isso, muitas pessoas nem sequer conseguem votar. Na eleição deste ano teve relato até de urna roubada.

Outro equívoco que vi no Brasil em relação à eleição nos Estados Unidos é gente achando que a eleição de Trump representou a vitória da ideologia da direita e que a concorrente, Kamala Harris era de esquerda. Meu Deus, quanta ignorância. Nos Estados Unidos inexiste “esquerda”. Tanto republicanos quanto democratas são de direita. Aliás, tem uma diferença sim, entre eles. Vamos a elas.

Os republicanos são representantes do espectro político da extrema direita, são mais conservadores nos costumes, ligados às elites mais antigas, dos bilionários dos setores de petróleo e gás, carvão, enfim, setores de uma burguesia industrial poderosa, que prefere proteger o mercado interno dos Estados Unidos, o que prejudica muito a concorrência estrangeira, inclusive o Brasil.
“Pense nisso, no que você pode achar que é o ‘berço da democracia’, nem sequer o presidente é eleito diretamente pelo povo”


Já os democratas são considerados do espectro político da direita liberal. Eles fazem parte do mesmo bloco da direita política e imperialista. Os democratas são ligados a setores da elite financeira, que se beneficiam com a internacionalização do capital, com a abertura dos mercados internacionais. Muitas pessoas acreditam que os democratas gostam mais de guerra. Tanto democratas quantos republicanos gostam. Entretanto, setores aos quais os democratas estão ligados se beneficiam com as guerras, pois representam a poderosa indústria bélica. Quanto mais guerras no mundo, mais esse império industrial se beneficia.

De forma resumida, ambos os partidos servem à mesma classe, são dois partidos de direita, imperialistas, e não existe um deles se colocando como sistêmico, outro anti-sistêmico.

Mais um equívoco é as pessoas acreditarem que só existam dois partidos políticos lá. Na prática são dezenas, podem chegar a 70 siglas, mas apenas o Democrata e o Republicano ganham projeção e dominam o cenário eleitoral de ponta a ponta. Outros partidos nem sequer são lembrados de sua existência pelos próprios estadunidenses.

No contexto da eleição de 2024 ficou evidente que o fato de os Estados Unidos estarem perdendo espaço de domínio global, tem acirrado as disputas internas entre a extrema direita e a direita liberal e isso reflete na política da imigração, nos bloqueios econômicos a países como Cuba e Venezuela e na invasão de outras nações sob o subterfúgio de “levar a democracia”. O assunto é longo mas pense nisso, no que você pode achar que é o “berço da democracia”, nem sequer o presidente é eleito diretamente pelo povo.

* Professor aposentado

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