05 de novembro, de 2024 | 11:30

A casa assombrada...

Nena de Castro *

Tarde de domingo na pequena vila. Após o almoço, as mães e pais iam descansar. As meninas brincavam de boneca em suas varandas ou de pique defronte às suas casas. Dia de aventura para os meninos que jogavam bola ou iam explorar a redondeza. Nessa tarde, estava uma turma de moleques parados defronte a uma casa velha. Todos mais ou menos da mesma idade olhavam para a casa de janelas e portas fechadas e discutiam quem teria coragem de entrar no local. A casa, certamente, conhecera dias melhores: agora era uma ruína só, a última casa da rua, telhado estragado, paredes sem pintura, velhas janelas tortas, a cerca de troncos carcomidos...

Diziam que uma bruxa morava ali. Era uma bruxa horrorosa e seus gritos podiam ser ouvidos ao longe, levados pelo vento em noites de tempestade, quando ela montava em sua vassoura e voava de encontro aos raios, gargalhando.

Falavam que ela matava animais selvagens e domésticos, para seus rituais. E que raptava crianças para beber sangue inocente. E que fazia feitiços que impediam as sementes de germinar, as vacas de darem leite, as galinhas de botar ovos.

Embora nunca tenha sido vista, todos evitavam a casa do fim da vila, todos se persignavam ao passar pela estrada, ninguém queria contato. No entanto, a turma achou que era o dia de acabar com aquela história. Alguém devia entrar na casa e tentar ver a bruxa. E correr, caso ela ficasse zangada. Após calorosas discussões, todos fingindo serem valentes, mas morrendo de medo, decidiram que Arturzinho deveria entrar; ele se mudara há pouco para o povoado e tinha que provar que era digno de andar com a turma. Não tendo como escapar, nosso herói topou a empreitada. E vagarosamente, empurrou o velho portão que rangeu. Teve vontade de voltar, mas a turma o incitava, dizendo: entra, entra! Com a alma saindo pela boca, a mão direita no bolso onde colocara o estilingue com algumas pedras, experimentou a velha maçaneta, mas a porta parecia estar trancada. Olhou para trás e os meninos mostraram a janela. Com medo, empurrou a janela, que se abriu para dentro, com um barulho surdo.

Pulou para dentro de uma sala com duas cadeiras velhas e uma caixa, chegou a um corredor que mostrava a cozinha com fogão à lenha apagado, com duas panelas pretas de fuligem e alguns pratos. Chegou à porta do quarto, ouviu um gemido débil e sentiu o coração parar quando a viu: em vez da bruxa, havia uma mulher magra deitada sobre uma velha cama, com lençóis poídos e um vestido roto.

Gritou de susto e quis correr, mas os olhos dela, bondosos, lhe disseram que não precisava ter medo. Ele chegou mais perto e ela apontou para um copo, dando a entender que queria água. Ele ajudou-a a beber, com cuidado. Ela tentou sorrir e de repente, ele sentiu em seu coração de criança que aquele ser humano precisava de ajuda. Esqueceu os colegas lá fora, esqueceu qualquer temor e ternamente segurou a mão da velhinha, que fechou os olhos e deu um suspiro. Aí, então, Arturzinho saiu para chamar sua mãe. Olhou para os amigos com um olhar diferente: ele tinha passado por uma experiência fantástica! E a partir dali, sua vida seria diferente.

Essa história eu li há tempos, creio que é de um conto de Carlos Drummond de Andrade, que me deixou maravilhada. Não tenho mais o livro, mas nunca a esqueço, aprendi que a maldade humana não tem limites ao julgar e falar do que não sabe e que o AMOR é realmente maior que tudo! E nada mais digo!

* Escritora e contadora de histórias

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