15 de outubro, de 2024 | 11:00

Deu (muito) ruim...

Nena de Castro *

Na pequena cidadezinha mineira de Caixa Pregos, Zé Honorim, fi de CumpáZéHonoro era um sujeito danadibesta. Estava sempre dando um jeito de fazer mamparra para as moça, contando vantagem, dizendo que era o melhor cavaleiro, o melhor jogador, o melhor pescador... Então avisou que naquele ano, sua fantasia momesca seria super original e ele ganharia o prêmio que consistia em dar uma volta na caminhonete de Bento Nigrim pelas ruelas da cidade, ao lado da Rainha do Carnaval; depois vir na ala da frente com ela, abrindo o desfile carnavalesco. O povo curioso, tentava saber que fantasia seria aquela, mas Zé Honorim despistava a todos dizendo que não podia dizer nada, senão estragaria o espetáculo!

Bem no sábado, início dos festejos, ele foi ao mercado da cidadezinha beber pinga e comer pastel, trocar um dedo de prosa...Quando os amigos já tinham ido embora e a feira estava quase acabando, entrou no açougue e comprou vários quilos de ossos bem raspados, limpos de qualquer fiapo de carne. "Diquiriu tombém" um jacá, aquele cesto que serve pra matuto transportar de rapadura e queijo a criança pequena sem contar as” galinhas, e foi pra casa. Primeiro ele passou óleo usado fervido com rolha queimada "mode" escurecer a pele. Depois, usando só uma sunguinha, começou a amarrar os ossos no corpo.

Fez um saiote de ossos que ia até os joelhos e que nem um canibal, amarrou alguns ossos à guisa de tornozeleira, pulseiras e fez também um colar para o pescoço que quase cobria o peito. Dois ossinhos finos desciam por trás das orelhas e ele conseguiu colar ossos pequenos até na precata que ia calçar. Pegou o jacá, forrou com folha de bananeira, encheu de ossos até a tampa, colocou na cabeça e saiu de casa em direção à praça. Todos aplaudiam, ele acenava, sucesso garantido. Ocorre que na pequena cidade havia uma cachorrada sem fim, toda solta. Quem já foi à Milho Verde sabe do que falo. Os cães farejaram a ossada e foram chegando aos montes, deram uma boa cheirada em Zé Honorim, que tentava inutilmente escorraçá-los.

Cafungada vai, cafungada vem, os cachorros avançaram no rapaz que rolou pelo chão, enquanto dezenas de cães disputavam a “ossaiada”. O povo tentou ajudar aos gritos, usando pedaços de pau e baciadas d’água... Aí os cachorros percebendo que nos ossos não tinha carne, arrancaram lanhos das canelas, braços, bunda e costelas do rapaz! Por sorte não abocanharam o “instrumento de trabalho” do desinfeliz! Afinal conseguiram tirar o pobre Zé Honorinho da boca dos cachorros, todo espandongado, relepado e ensanguentado! O coitado foi levado na caminhonete para a cidade vizinha onde tinha um hospital! Também, quem manda ser uma anta e ter ideia de jerico? (Com o perdão dos bichim!) E nada mais digo!

* Escritora e contadora de histórias

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Tião Aranha

15 de outubro, 2024 | 12:24

“Imagino a cena. Todo cachorro é chegado num osso! Na minha cidade a disputa é pelos votos. Briga de cachorro grande. E vira lata tb. Rs.”

Envie seu Comentário