02 de outubro, de 2024 | 13:53

Em artigo, pesquisadoras da UFMG analisam discurso de ódio contra juízes do STF

Quase 95% das respostas às postagens do Supremo Tribunal Federal (STF) publicadas no antigo Twitter (X) de outubro de 2021 a outubro de 2022 continham discurso de ódio contra os juízes da Suprema Corte. O dado aparece no artigo Far-right discourse in Brazil — Shameless language as a common practice?, assinado pelas professoras Ana Larissa Oliveira, da Faculdade de Letras (Fale), Tímea Drinóczi, da Faculdade de Direito, e pela pós-doutoranda Monique Vieira Miranda, também da Fale. O trabalho foi publicado no Journal of Language and Politics, que abriga estudos sobre a interação de linguagem e política e é um dos mais prestigiados da área.
Divulgação
Especialistas das faculdades de Letras e de Direito examinaram mensagens que circularam no Twitter (hoje X) entre 2021 e 2022Especialistas das faculdades de Letras e de Direito examinaram mensagens que circularam no Twitter (hoje X) entre 2021 e 2022


A análise dos discursos de líderes autoritários e de seus apoiadores, de acordo com Ana Larissa, visou à compreensão de como os ataques verbais são linguisticamente construídos e empregados. “Nosso interesse principal foi descrever e analisar o padrão crescente de insultos e de provocações, direcionados a supostos oponentes e a grupos minoritários, que se tornaram componentes importantes do discurso político autoritário em vários países”, explica.

As pesquisadoras coletaram um corpus com 414.652 tuítes direcionados à conta oficial do STF, mas a análise se restringiu àqueles que continham hashtags. Assim, foram levados em conta 38.881 tuítes postados durante um período que a professora avalia como “crítico” na história brasileira: “o ano anterior às eleições presidenciais de 2022 e aos episódios violentos de 8 de janeiro de 2023, marcados pela tentativa frustrada de golpe de Estado”. Enquanto 94,9% das respostas ao STF continham “linguagem impolida e indecorosa”, apenas 5,1% das hashtags eram neutras ou apoiavam as decisões da corte.

Para a coleta de dados, foi utilizada a Application Programming Interface (API) da plataforma, ferramenta que possibilita a extração programática de informações. A análise incluiu a identificação de insultos, ataques à reputação dos juízes e a construção de narrativas que vilanizavam o STF. A hashtag mais recorrente foi #stfvergonhanacional. As mensagens analisadas continham, além de linguagem agressiva, manipulação de fatos e apelos emocionais.

“Nós contra eles”

Para Ana Larissa, o discurso político tem se tornado cada vez mais agressivo no Brasil. No caso dos ataques ao STF, em seu entendimento, uma das motivações para o “comportamento verbal impolido e indecoroso” é a tentativa de evasão da culpa em processos judiciais.

“O pico de mensagens agressivas coincide com o período de investigação do chamado Inquérito das Fake News [que trata da disseminação de notícias falsas, ofensas e ameaças contra ministros do STF, além de esquemas de financiamento e de divulgação em massa nas redes sociais]. Ao tentar minar a credibilidade dos juízes, a tática também está associada à corrosão do ambiente democrático, em razão de impedir o debate genuíno e a crítica informada, fundamentais para a vida cidadã”, argumenta a professora.

A linguagem impolida e indecorosa, acrescenta Ana Larissa, “é atraente, simplificada e de fácil reprodução e, por isso, encontra apelo em vários setores da sociedade. É empregada para conquistar apoiadores, ao mesmo tempo que serve de distração em meio a discussões importantes, como a segurança climática, a defesa dos direitos humanos e da igualdade social”, enumera.

Comum entre apoiadores de diversos espectros políticos, prevalece, segundo a pesquisadora, uma estratégia associada à retórica do “nós contra eles”, caracterizada pela fabricação de um “inimigo comum”, contra o qual uma maioria fictícia deve buscar a proteção de líderes autoritários. “A estratégia não é nova, mas conta, atualmente, com os diferentes recursos das plataformas digitais, que garantem propagação viral”, observa.

De mulheres, imigrantes à comunidade LGBT+

Ana Larissa Oliveira salienta que tal instrumento tem relação com uma deliberada tentativa de deslegitimação das instituições, e certos grupos são mais frequentemente alvejados.

“Além dos membros do judiciário, mulheres, imigrantes e a comunidade LGBT+ são muito visados", enumera. “Esses grupos são ostracizados e deslegitimados, assim como as instituições democráticas, que têm a função de protegê-los. O processo todo põe em risco a democracia e a proteção de direitos. A prática deve, portanto, ser combatida por todos. O papel das mídias digitais nesse processo também merece especial atenção e amplo debate”, defende Ana Larissa Oliveira. (Com informações da Ascom UFMG)

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Comentários

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Afonso

02 de outubro, 2024 | 17:01

“Os bolsonaristas são surreais, precisam ser estudados. Como pode crescer tanta gente sem uma massa pensante e que somente repetem repetem repetem, sem procurar analisar a verdade. Aliás, já está provado que os bolsominions, além do capim, gostam de espalhar fake news. é uma fakemania sem precedentes.”

Renan

02 de outubro, 2024 | 14:45

“Só o bolsonarista ainda não percebeu o quanto ele é estúpido. Deturpa o significado de democracia, de liberdade de expressão e de muitas coisas. Acaba sendo hipócrita, acaba defendendo as coisas mais perversas que o ser humano pode ter, como o preconceito, o ódio, a intolerância. Espero que algum dia isso possa acabar e possamos viver em paz. Não precisa ter argumentos, apenas atacar com ódio seus opositores. É surreal....”

Fernando Passos

02 de outubro, 2024 | 14:14

“Qual a base de uma sociedade democrática? JUDICIÁRIO, IMPRENSA, CULTURA E CIÊNCIA.Se você é contra, blza, blza, mas você quer voltar para a Idade Média. Simples assim.”

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