02 de outubro, de 2024 | 09:00
Incêndios no ''Vale das Cinzas''
Antonio Nahas Junior *
Esta semana acompanhamos os desastres climáticos que ocorreram em diversos municípios do Vale do Aço. Vimos também a perplexidade e impotência da população local que ficou à espera do poder público na solução dos incêndios, que consumiram reservas ambientais, destruíram nossa flora e afastaram ou exterminaram aves e pequenos mamíferos.
Estes incêndios influem diretamente na nossa qualidade de vida. Além dos efeitos imediatos, sentidos na fumaça que passou a fazer parte do nosso dia a dia deteriorando o ar que respiramos, prejudicam nossa qualidade de vida. O clima tende a se aquecer e as cidades tornam-se mais áridas, mais ásperas, menos humanas.
Em alguns locais, como o Pedra Branca, bairro de Ipatinga onde resido, os moradores se mobilizaram para evitar que o incêndio que consumia a elevação do maciço que encanta a localidade atingisse também a área urbana, localizada na parte mais baixa e plana. Mesmo sem treinamento ou equipamentos apropriados, as pessoas agiram em defesa da comunidade. Impediram também que o fogo atingisse reservas florestais importantes, ao pé da serra, com árvores centenárias preservadas.
Caso tivessem sido feitas ações preventivas, já levantadas pelos moradores há algum tempo, como a construção de aceiros por todo o maciço, a grande devastação causada pelo incêndio não teria existido.
Fatos como este demonstram a importância da administração dos municípios prepararem o enfrentamento da nova realidade: Os incêndios florestais não existem apenas no Pantanal Mato-grossense, ou na Floresta Amazônica. Passaram a fazer parte da nossa realidade, pois as longas estiagens vão continuar a se repetir.
Além dos prejuízos ambientais, as queimadas trazem riscos à vida humana, podendo, inclusive, serem causadores de tragédias sem tamanho. Segundo dados do Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus (Cams), somente no mês de setembro, a Amazônia emitiu 60 milhões de toneladas de gases efeito estufa. E mais: a região sudeste aumentou em 202% sua emissão de CO2, decorrente de focos de incêndio.
Já nas cidades, é impossível, por enquanto, quantificarmos o número de incêndios e a área devastada. O fato é que, enquanto preservada, a vegetação captura CO2 da atmosfera, por meio da fotossíntese, como aprendemos na escola. O carbono é transformado em raízes, galhos, troncos, folhas. Queimada a vegetação, o carbono é liberado, combina-se com Oxigênio e transforma-se em CO2.
Estamos em período eleitoral e a Mudança Climática ainda não compõe a agenda dos candidatos a prefeito”
Existem recursos à disposição dos municípios para enfrentar esta realidade. O Ministério do Meio Ambiente disponibilizou 10,4 bilhões de reais para o Fundo Nacional sobre Mudança Climática - Fundo Clima -, gerenciado pelo Ministério do Meio Ambiente. O Plano de Ação do programa possui seis eixos, sendo que o 5º. chama-se "Florestas Nativas e Inovações Verdes", o que permite financiamento de ações correlatas nos municípios.
Infelizmente, estamos em período eleitoral e a Mudança Climática ainda não compõe a agenda dos candidatos a prefeito. Embora suas consequências já atinjam diretamente a população, a maioria do eleitorado ainda não relaciona o que está acontecendo com as mudanças no clima.
Já passou da hora de todos acordarem e fazerem sua parte. Todos nós temos que se envolver com o tema e contribuir, seja alertando os Governantes sobre a necessidade da atuação do setor público, seja através do nosso esforço individual.
Jeffrey Sachs, um grande cientista que escreveu poderoso livro chamado A RIQUEZA DE TODOS (2), termina sua obra com um alerta, uma advertência, um conselho: O PODER DE UM, em que fala da importância do compromisso de cada um de nós com o planeta. "Nossa responsabilidade maior como indivíduos é o compromisso em conhecer a verdade da melhor maneira possível; verdade que é tanto técnica quanto ética".
E termina seu livro indicando "oito ações que cada um de nós pode empreender para corresponder às esperanças de uma geração para a construção de um mundo de paz e desenvolvimento sustentável".
Afirma a importância de levarmos as ideias sobre desenvolvimento sustentável para nosso trabalho; nossa comunidade. E praticá-las no nosso dia a dia. "Nossa geração é a que pode acabar com a miséria, reverter a tendência de mudança climática e deter a extinção maciça e impensada de outras espécies".
Falou e disse. Mãos à obra, todos nós. Por fim, uma notícia importante: O Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, receberá contribuições da sociedade sobre mudanças climáticas até o dia 11 de outubro.
As ideias recebidas vão compor a elaboração do Plano Clima Adaptação Cidade, documento que guiará as políticas de adaptação climática das cidades brasileiras até 2035. Quem quiser contribuir, segue o link: redus.org.br . Já enviei minha contribuição.
* Economista, empresário, diretor da NMC Integrativa. Morador de Ipatinga. (2) A Riqueza de Todos - A Construção de uma Economia Sustentável em um Planeta superpovoado e Pobre.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Tião Aranha
02 de outubro, 2024 | 10:50Vivemos numa "sociedade alternativa", pois trocamos a qualidade de vida do ar puro pelas cidades poluídas devido a produção do aço. Onde não há ar não há água. Onde não há água não haverá vida nem animal nem vegetal. Rs.”