29 de setembro, de 2024 | 08:30

Ipatinga teve mais de 20 investigações de transtornos mentais relacionados ao trabalho em 2023

Arquivo pessoal
Especialista fala sobre a necessidade de conciliar a promoção da autonomia e da qualidade de vida dos trabalhadores com a promoção do desenvolvimento das próprias empresasEspecialista fala sobre a necessidade de conciliar a promoção da autonomia e da qualidade de vida dos trabalhadores com a promoção do desenvolvimento das próprias empresas
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço
No ano de 2023, foram notificados 21 casos de investigação de transtornos mentais relacionados ao trabalho em Ipatinga. Os dados constam no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde (MS), e foram extraídos pelo Diário do Aço.

A estatística representa um aumento de 61,54% comparado ao ano de 2022, quando foram registradas 13 notificações. Para efeitos de comparação, Belo Horizonte, com uma taxa de ocupação média cerca de dez vezes superior ao de Ipatinga, teve 34 notificações em 2023.

Os dados do MS ainda indicam que dez pacientes têm idade entre 20 e 39 anos, e os outros 11 tem de 40 a 59 anos.
O Levantamento do jornal se dá em meio à campanha de Setembro Amarelo, que visa propagar a conscientização e prevenção do suicídio, e promover diálogos abertos sobre saúde mental.
Outras duas cidades do Colar Metropolitano do Vale do Aço registraram um caso cada: Bom Jesus do Galho e Pingo-d'Água.

Fatores desencadeadores
“Os principais fatores relacionados a problemas mentais ou de saúde no ambiente de trabalho tem a ver com a própria organização, a própria estrutura da instituição onde a pessoa está trabalhando”, afirmou o coordenador do curso de Psicologia do Unileste, Eustáquio Souza Jr. Para ele, a organização do local, bem como a boa descrição de cargos, reconhecimento do desenvolvimento e as ações dos funcionários, política clara de promoção, remuneração de acordo com o mercado adequadamente, e um bom contexto social para o desenvolvimento desse funcionário contribuem diretamente para a saúde dentro do ambiente de trabalho.

“Esses elementos da cultura organizacional competem para uma qualidade de vida mais adequada no contexto de trabalho, com menor incidência de transtornos mentais associados, tais como depressão, transtornos de ansiedade e também a síndrome de burnout, que é quando a pessoa se esgota completamente e isso acaba combinando com afastamentos e prejuízos tanto pessoais para os trabalhadores, quanto prejuízos para as próprias empresas”.

A baixa produtividade, tristeza excessiva, desmotivação, quadros de ansiedade, agitação motora, dificuldade de se concentrar, são alguns dos sintomas que podem indicar problemas relacionados ao trabalho.

“Existem doenças reconhecidamente relacionadas ao trabalho, já descritas e parametrizadas e isso é muito importante porque a maioria de nós passa um período extremamente extenso das nossas vidas trabalhando, seja por conta própria, seja vendendo a nossa força de trabalho para o mercado. Essa atenção aos processos organizacionais de gestão precisa ser muito cuidadosa, muito criteriosa, porque afinal de contas, se por um lado os trabalhadores precisam ser remunerados para poder levar suas vidas, as empresas precisam ter a sua competitividade, produzir o seu capital, ter o seu lucro para poder reinvestir e é muito importante que uma parte desse investimento seja feita em políticas de gestão”, continuou Eustáquio.

Desafios
O especialista concluiu que o grande desafio é “conciliar os objetivos institucionais com os objetivos de vida de cada um de nós enquanto trabalhadores, enquanto seres humanos, é o cerne do que os profissionais da área de gestão de pessoas, recursos humanos, psicologia organizacional, administração, entre outros, se debruçam no dia a dia nas grandes empresas e também nas pequenas, afinal de contas, a maioria das pessoas hoje empregadas trabalham em micro e pequenas empresas. Esse pensamento mais estratégico, voltado para a promoção da saúde mental e da qualidade de vida no trabalho, precisa estar pulverizado na sociedade como um todo”.

Minas Gerais
Em todo o estado foram notificadas 701 investigações de transtornos mentais relacionados ao trabalho. Juiz de Fora com 178 registros lidera o ranking. Na sequência estão Uberlândia (100) e Montes Claros (91).

Transtorno mental relacionado ao trabalho
O Ministério da Saúde define o transtorno mental relacionado ao trabalho como “todo caso de sofrimento emocional, em suas diversas formas de manifestação tais como: choro fácil, tristeza, medo excessivo, doenças psicossomáticas, agitação, irritação, nervosismo, ansiedade, taquicardia, sudorese, insegurança, entre outros sintomas que podem indicar o desenvolvimento ou agravo de transtornos mentais”. Nesse caso, enquadram-se “Transtornos mentais e comportamentais, Alcoolismo, Síndrome de Burnout, Sintomas e sinais relativos à cognição, à percepção, ao estado emocional e ao comportamento, Pessoas com riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias socioeconômicas e psicossociais, Circunstância relativa às condições de trabalho e Lesão autoprovocada intencionalmente, os quais têm como elementos causais fatores de risco relacionados ao trabalho, sejam resultantes da sua organização e gestão ou por exposição a determinados agentes tóxicos”.
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

29 de setembro, 2024 | 09:52

“Muito interessante! Acredito que os setores mais preocupantes são os da Educação, onde estou Professor há mais de 42 anos, e da Saúde públicas, em virtude das dificuldades enfrentadas, incluindo a pobreza, até de afetos, dos alunos e dos enfermos.
Tenho, como companheira diuturna, uma depressão (em Geografia é apenas um desnível do terreno, o popular buraco) desde 2010, quando tive que iniciar um tratamento para sair do "buraco," para onde já retornei quatro vezes. Desde o início do ano estou tentanto, com a "ajuda" dos medicamentos, da família, dos meus alunos e dos poucos, mas verdadeiros, amigos que tenho, sair dele mais uma vez e, depois, caso volte para o buraco, sair de novo.”

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