07 de setembro, de 2024 | 09:00

A Independência do Brasil se concretizou na Bahia em meio a um conflito armado

Carlos Alberto da Costa *

Arquivo Palácio do Rio Branco
O Primeiro Passo para a Independência da Bahia. A obra narra a reação de Vila de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, à agressão das milícias portuguesas, inconformadas com a adesão dos moradores à independência Óleo sobre tela de Antônio Parreiras, 1931O Primeiro Passo para a Independência da Bahia. A obra narra a reação de Vila de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, à agressão das milícias portuguesas, inconformadas com a adesão dos moradores à independência Óleo sobre tela de Antônio Parreiras, 1931

Há 202 anos, em 1822, Dom Pedro de Alcântara de Bragança - à época príncipe regente do Brasil - proferiu o célebre grito da independência às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. No imaginário popular, a Independência do Brasil, tem uma representação imagética, que nem de longe retrata a realidade. A tela “Independência ou Morte” uma obra de Pedro Américo, encomendada por Pedro II ao artista e pintada em 1888 em Florença, Itália. Daquela figura à realidade, o ato não teve grandes feitos heroicos e foi, na verdade, resultado de uma pressão crescente na sociedade brasileira, que vinha de muitas décadas, para que o Brasil se livrasse das garras dos portugueses.

É importante entender também que, para alguns brasileiros, era necessário romper radicalmente com os portugueses e proclamar uma República, enquanto outros não viam motivo para ser parte de um país que estava surgindo. Desta forma, diferentemente do que muitas pessoas acreditam, a independência em si não foi reconhecida de pronto. O processo foi lento e gradual, pelos rincões do país. Foi necessário um esforço de vários personagens para estabelecer uma nova nação. O país tinha tudo para se separar em várias nações, de norte a sul.

Para entender mais, como isso se deu a consolidação da independência, recomendo a leitura de “1822”, do escritor Laurentino Gomes. De forma muito didática, será possível entender o antes e o depois da decisão de 7 de setembro, há a 202 anos.

Mas chama a atenção o viés apresentado pelos livros de história nas escolas, segundo o qual, diferentemente de outras nações da América do Sul, o Brasil não teve uma independência envolvida em um banho de sangue. A história oficial tenta passar a ideia que aqui tudo fora feito na “camaradagem” para resultar em um Brasil de dimensões continentais.
O fato é que a “passividade da independência” é só na aparência. Nos meses seguintes à decretação, sangue brasileiro foi derramado em lutas armadas, sim.

Pouco faladado nas escolas, menos de um ano depois da decretação da Independência do Brasil, a capital da província da Bahia, Salvador, foi palco de um dos conflitos mais violentos, como desdobramento da Independência do Brasil. A Guerra da Independência do Brasil na Bahia só terminou em 2 de julho de 1823.
“Nos meses seguintes à decretação, sangue brasileiro foi derramado em lutas armadas, sim”


Isso porque, antes mesmo da independência, Salvador, tinha sido capturada pelas tropas coloniais portuguesas. A província tinha um longo histórico de insatisfação com Portugal e fora palco de conflitos sangrentos, como a Conjuração Baiana, em 1798.

Desta forma, quando foi decretada a Independência, os militares portugueses tinham Salvador e uma vasta área no entorno sob seu domínio e não arredaram pé depois do 7 de Setembro.

Os colonos baianos, que integravam a elite rural, não gostaram da manutenção do controle das tropas leais a Portugal e se uniram para defender a independência do Brasil, também na Bahia, e a integralidade do território nacional. Havia um manifesto interesse de Portugal em manter o Norte e o Nordeste do Brasil, sob seu domínio.

A gota d’água para a escalada da guerra local foi quando o antigo comandante das tropas lusitanas, Manuel Pedro, foi substituído por Madeira de Melo, um homem visto com enorme antipatia pela população baiana. A nomeação acirrou os ânimos, principalmente porque as tropas portuguesas passaram a entrar em conflito constantemente com a população. Um dos conflitos mais significativos ocorreu na Praça da Piedade, em Salvador.

O conflito durou um ano e meio e estima-se a Guerra da Independência na Bahia tenha resultado em 750 mortos e 280 feridos do lado brasileiro e 2.500 mortos, 700 feridos e 300 capturados do lado português. Por estas e por outras, além de comemorar o 7 de Setembro como dia da Independência do Brasil, na Bahia, o 2 de Julho é o Dia da Independência da Bahia, um feriado estadual, para marcar o dia em que os baianos expulsaram os portugueses de Salvador.

* Professor aposentado

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