27 de agosto, de 2024 | 11:00

Elucubrações quixotescas

Nena de Castro *

E lá vinham pela estrada, os dois cavaleiros. Um deles alto e magro, montava um alazão e tinha na mão uma lança. O outro, um gordito simpático, tinha como cavalgadura um burrico. O homem alto, que usava armadura, dizia:
"Porque deves saber, Sancho, que as mulheres são a mais perfeita das criações divinas. Que embora sejam mais bonitas que as flores, as estrelas e a lua cheia juntas, são fortes como o aço da minha lança. Por isso, Sancho, é necessário entre os cavaleiros que devemos estar prestos às suas privações, amá-las, cuidá-las como a menina dos teus olhos, porque o nosso mundo sem elas, sem dúvida, estaria completa e irremediavelmente perdido, pois elas, Sancho, são a força da vida e o motor que impulsiona a nossa existência".

“Sim, mestre”, concordou o gordito, que já sabia que o mestre dizia coisas lindas e profundas, mas não andava bem da cabeça. Já avançara contra moinhos de vento, achando que eram gigantes ferozes. E falava coisas como consertar as coisas: “Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça” ... Vivia no mundo do delírio, do sonho, a quase loucura.

Sancho amava seu mestre e tentava livrá-lo das enrascadas em que se metia. Sabia que era um simples pajem, profundamente limitado e sua alegria era tirar o mestre das encrencas que aconteciam quando este tentava realizar as fantasias medievais advindas dos Romances de Cavalaria que lia amiúde. De repente, Sancho observou que a paisagem mudara. Cavalgavam em um lugar lindo, o mar profundamente azul tentava levar a areia branca, havia coqueiros em profusão, e à direita avistava-se o verde das matas. O ar antes perfumado, no entanto, deu lugar a um fedor incrível e os urubus passeavam esperando...

- O que é isso, mestre? Que lugar esquesito é este?
-“Pelas barbas de Odin! Tampe o nariz, Sancho! Esse lugar maravilhoso e fedorento chama-se Pindorama e ainda vai ser descoberto pelos portugueses, que levarão tudo de valor que tem! Mas esse bodum vem do Planalto Central onde num caldeirão as bruxas juntam todas as melecas do mundo com olho de sapo, pena de coruja, muita desonestidade, muitos acordos infames, roubalheiras infindas e a credulidade do povo, mexem, mexem e daí saem monstros acéfalos, lombrigas gigantes e vermes de apetite infinito por dinheiro!”

-“Mestre, por favor, vamos embora antes que nos devorem! Prefiro enfrentar os dragões da Daenerys Targaryen, ou os monstros imaginários que vês, do que ficar aqui!”

-“Sim, Sancho, vamos sair desse pesadelo! Mas antes um recadinho para o povo brasileiro: VOTEM COM JUÍZO E CONSCIÊNCIA, senão o trem vai ficar ainda mais feio! Bora, bora, bora! E nada mais digo, queridos leitores!

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

27 de agosto, 2024 | 14:10

“Bom texto, é muito bom recordar a história desses dois cavaleiros. Me fez até despertar a curiosidade da formação dos massivos buracos negros originados das reações termonucleares das estrelas. Mal dos homens se não tivessem as mulheres pra cuidar dos mesmos. Mas, e se o mundo fosse constituído apenas delas, será que haveria algum sentido? Elas agem das partes para o todo, e eles do todo(razão) para as partes...Mas, pro outro lado, o Planalto é mesmo um 'buraco negro' que engole a tudo e a todos; e, ainda emite irradiação. Será que só através das nossas mãos conseguimos mudar? (Lá na Venezuela, não). Rs.”

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